É impressionante como cada vez mais temos a sensação de que o tempo está em processo de aceleração progressiva. Mal tive a sensação de que o ano estava engrenando e, de repente, lá estavam as milhões de pequenas luzinhas enfeitando a cidade, as ruas, os shoppings, as casas e varandas. Não consigo entender a relação entre decorar a cidade e iluminá-la. Será que não temos que economizar energia? Ou estou enganada? Confesso que tenho certa má vontade com a chegada das decorações de Natal. Representam para mim o fim de mais um ano, e junto a isso, todos os atropelos típicos e insuportáveis dessa época. Se pelo menos fosse inverno…
Esse é um período especialmente difícil para muitos. É inegável o aumento da procura por ajuda de emergência nas clínicas particulares e nos ambulatórios médicos. O fim do ano nos remete imediatamente a balanços e quase sempre fechamos com débito em relação aos projetos traçados no ano anterior. Neste momento, a sensação de fracasso é grande. A comparação entre planos e desejos de um lado e condições de realização de outro é, no mínimo, fadada ao saldo negativo. As idealizações não precisam de três dimensões para existirem. São tão ilimitadas em forma e conteúdo quanto nossa capacidade de imaginação. A realidade… bem, esta é muito mais complexa. Discernir e significar adequadamente o real é tarefa para nossos momentos mais sábios.
Para uma avaliação justa é preciso a noção clara de que transformações são processos e, portanto, caminhos a serem percorridos ao longo de certo período de tempo
Por mais desagradável que seja, é importante tentarmos rever os propósitos que firmamos e não conseguimos cumprir. Que fatores interferiram nesse processo? Apenas desejamos ou realmente nos propusemos a focar, a agir? Nossos propósitos eram realizáveis, viáveis, ou num processo de auto-sabotagem nos impomos transformações e mudanças impossíveis?
O grau de clareza e discernimento que temos de nós mesmos ajudará em nosso julgamento. Para uma avaliação justa é preciso a noção clara de que transformações são processos e, portanto, caminhos a serem percorridos ao longo de certo período de tempo. Aceitar o curso e ritmo dos acontecimentos são sinais claros de entrega e plenitude. A meta funciona como “norte”, no sentido de rumo e os caminhos felizmente são diversificados e dinâmicos, como tudo que é vivo. Nenhum problema numa estrada com curvas, desvios, paradas para fôlego, subidas íngremes. Essa mesma estrada também oferece trilhas bucólicas, aragem fresca, lindas paisagens, fontes de água límpida e poderosas cachoeiras. Por isso, muitas vezes demoramos para chegar no resultado final.
Ocasionalmente adiamos de maneira indeterminada mudanças de rotas que desejamos e/ou precisamos fazer. Procrastinar é ruim até para escrever e pronunciar, que dirá para o livre andamento da roda da vida. É justamente aí que o “norte” precisa gritar e trazer de volta nossa atenção para o que de fato interessa.
Até a próxima!