Recentemente, Fabio Porchat surpreendeu ao anunciar o fim de seu relacionamento de oito anos com a então esposa, Nataly Mega, e um dos motivos citados por ele foi algo muito comum entre casais: a discordância quanto a ter filhos.
Enquanto Porchat, que já havia falado sobre apreensão quanto à paternidade antes, não busca ter filhos no momento, Nataly falava sobre maternidade desde o início – e, a Mulher, a psicóloga Alessandra Augusto, especializada em terapia sistêmica e cognitivo comportamental, esclarece como conciliar esse tipo de situação.
Casais que discordam sobre ter filhos: como conciliar?
Conforme explica Alessandra, especialista da clínica de psicologia e terapias integrativas Psicoacess, no Rio de Janeiro, a discordância sobre ter filhos em uma relação é algo cada vez mais comum, assim como a vontade de ambos os gêneros em postergar estes planos.
Segundo ela, enquanto no passado era esperado da mulher que ela servisse ao marido e garantisse a continuidade da família com ele – algo a que ela tendia a se resignar por uma série de motivos – isso não funciona mais assim hoje.
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Além desta mudança ter alterado a forma como mulheres enxergam a maternidade, o fato de elas terem descoberto o direito de focar cada vez mais em temas distantes da família muda também a visão que o homem tende a ter quanto a ter filhos.
“Para o homem, às vezes [ter filho] era questão de orgulho, de masculinidade, de perpetuar o nome, mas ele também ficou mais receoso. Agora, os cuidados de fato estão divididos, não é mais propriamente da maternidade ou da mulher. A gente vê homens querendo a paternidade, porém de forma mais tardia, entendendo que também vão ter que dividir esses cuidados de forma efetiva e intensa”, aponta.
Adiamento da decisão de ter filhos não deve significar não falar sobre isso
Com isso, Alessandra afirma que muitos casais, sejam eles formados por homem e mulher ou por pessoas do mesmo gênero, têm adiado a questão de ampliar a família – algo que pode levar a discordâncias fatais para a relação caso o assunto seja ignorado em vez de discutido ao longo do desenvolvimento da relação.
Querer ou não ter filhos é um direito de qualquer homem e qualquer mulher, mas, ao entrar em um relacionamento, alinhar expectativas, desejos, angústias e objetivos de vida (tanto particulares quanto em casal) é essencial para resolver este tipo de questão cedo.

“O que deve imperar é um acordo entre as partes. Já tive casos no consultório de o casal vir porque o homem já havia se manifestado antes do casamento sobre não desejar filhos e a mulher achava que, com o tempo, ele iria mudar essa ideia. Vemos na mídia casamentos finalizados por conta dessa discordância, da insistência, achando que com o passar do tempo, do casamento, da união, vai mudar. O ideal é que isso seja conversado”, exemplifica.
A importância de ouvir o outro e flexibilizar se possível
Para Alessandra, o desejo forte de ser mãe ou pai ou a aversão total à ideia devem ser expostos o quanto antes e, na conversa, pode haver tentativas de flexibilizar estas decisões, tudo de forma leve e respeitosa, sem invalidar os sentimentos ou as vontades do outro.
É importante que os dois lados reconheçam as questões realistas apresentadas pelo outro – como o fato de que ter filhos também significa abdicar de muito, ou a importância de se ter uma vida financeira relativamente estabilizada antes – e busquem entrar em um acordo.
Se uma das partes prioriza, por exemplo, a realização do sonho de viajar para uma série de lugares e curtir a relação a dois por algum tempo, é possível que o casal concorde em viver esta experiência (a vontade de um) e, depois, um sonho da outra pessoa (a vontade do outro). Tudo isso, de preferência, antes do casamento.

“É importante conhecer a pessoa com quem queremos passar muito tempo da vida, elencar o que queremos como casal, para além do casal, o que se quer da própria vida dentro da relação, o que o outro quer da vida dentro da relação. Isso precisa ser conversado”, pontua, afirmando que o que não pode acontecer é deixar para descobrir certas coisas enquanto elas acontecem.
“Antes, não se falava nada, tudo era descoberta. Era dentro da relação que você descobria que não gostava de criança, era dentro da relação que você descobria que o outro não tinha talento para cozinhar… A relação era contaminada por questões do dia a dia”, exemplifica.
Invariavelmente, porém, o sucesso desta relação depende de que um dos lados ceda ao longo das conversas. Flexibilidade e respeito, segundo a psicóloga, são essenciais para o relacionamento e, se o casal não chegar a um consenso sobre planos de vida, terminar a relação pode ser a decisão mais respeitosa a se tomar.
Além disso, caso um dos lados ceda e opte por viver o sonho do outro nesta parceria, isso precisa ser muito bem conversado para evitar desavenças futuras com base nesta decisão