É sempre assim: quando o garçom traz a conta, invariavelmente entrega para o homem da mesa. Aí é que são elas – literalmente. Se a mulher está em situação financeira superior a do namorado, é comum que assuma as despesas não só do jantar romântico, como também do cinema, do show, do chopinho, até do picolé na praia! Na hora de NÃO pagar a conta, cada homem reage de uma forma. Há os que levam a situação numa boa e também os que não admitem ser bancados por mulher nenhuma nesse mundo. Só que às vezes o barato acaba saindo caro: como conviver com as diferenças de padrão de vida sem sofrer prejuízos emocionais?
A empresária Cristiane M. conta que se viu obrigada a rebaixar o seu estilo de vida no último relacionamento. “Ele não aceitava que eu pagasse, por mais que eu garantisse não haver problema. No início, topei fazer programas econômicos, como pegar um filme na locadora. Mas com o tempo passei a sentir falta de comer em bons restaurantes e tomar um vinho num lugar mais elegante”, revela Cristiane, que viu seu namoro afundar em pouco tempo. Segundo a empresária, o pior era o namorado não admitir que estava passando por uma situação difícil. “Ele inventava desculpas para ficar em casa, mas a verdade é que não tinha grana pra sair”, lembra.
Para evitar maiores constrangimentos, jogar limpo pode ajudar bastante, como no caso de Márcia P., funcionária pública. “Assim que nos conhecemos, ele foi logo dizendo que queria estar no meu lugar: ele tava estudando pro concurso que eu já tinha passado há três anos. Gostei de ver a sinceridade e sei que essa época de estudo é a maior dureza. Então, combinamos que eu pago uma conta e ele a outra”, conta Márcia, ressaltando que empurra as mais baratas para ele e fica sempre com as mais altas. Segundo ela, o namorado lida bem com a situação. “Ele só fica com vergonha quando estamos na frente dos amigos dele. Aí ele faz questão de pagar. Aquela coisa de homem, sabe?”, comenta.
Mas não dá medo de estar levando alguém na aba? “Eu sempre paguei mais que os meus namorados. Talvez realmente o meu salário seja maior do que a média e, por isso, não me incomoda a mínima pagar mais”, conta a executiva Débora Lima, que já patrocinou várias viagens para namorados e não vê nisso um problema. Entre um vôo e outro, ela confessa já ter tido receio de estar sendo explorada pelo companheiro de bordo. “Já me questionei, porque obviamente não quero ter ninguém encostado em mim por comodismo. Mas, no fundo, sei escolher bem as minhas companhias e nunca me arrependi de ter pagado a conta”, diz.
Segundo o psicólogo Eduardo Marigny, abrir mão do papel de provedor deixa o homem inseguro no relacionamento. “São resquícios de uma herança cultural machista, em que o dinheiro está relacionado ao poder. Quem vem de família tradicional pode se sentir ameaçado diante de uma mulher bem-sucedida. Já o homem moderno tende a lidar melhor com sua afetividade e inclusive estimular a divisão de despesas”, afirma Eduardo, ressaltando que quando as brigas do casal sempre giram em torno de dinheiro, podem existir outras queixas por trás, como falta de afeto ou de se sentir importante.
Num relacionamento amoroso, o diálogo é a melhor forma de se chegar a um consenso. “Se o homem não consegue sequer admitir suas dificuldades financeiras é um sinal de falta de intimidade e confiança na relação”, alerta Eduardo. Agora, as mais generosas devem apenas tomar cuidado para não assumirem o papel de mãe. “Ao encontrar uma namorada provedora, o homem imaturo pode assumir o papel de filho adolescente não apenas nas questões financeiras. Até o momento de escolha do cinema fica nas mãos da mulher, caracterizando uma postura infantilizada”, conclui o psicólogo. Já que não dá para abrir a carteira, que pelo menos o namorado abra o coração para lidar com essa situação sem colocar o namoro no vermelho…