Gentil, prestativo, dedicado, atencioso, um verdadeiro gentleman… Sem dúvida, esses adjetivos são qualidades. Quando um exemplar masculino apresenta uma ou algumas dessas características, devemos jogar as mãos para o céu. Afinal de contas, não há mulher nesse planeta que não goste de ser bem tratada e – pelo menos de vez em quando – paparicada. O problema é um desses ingredientes vir em excesso, e aí, até a melhor das qualidades se transforma em defeito. Imagina só, por exemplo, ganhar flores toda semana. Ou receber um telefonema de hora em hora; encontrar com ele te esperando na saída do trabalho, da academia, do curso de inglês… Quando o cara faz o tipo doce demais, é um passo para ele ser um verdadeiro grude, daqueles que não te deixam sozinha um só segundo, querem fazer parte de todos os momentos da sua vida. Enfim, escolhem a insistência como forma de demonstrar amor. Infelizmente, a reportagem comprovou que pretendentes grudentos, ao invés de aproximar suas amadas, acabam repelindo-as.
No início vai tudo às mil maravilhas, você acha que finalmente encontrou o príncipe encantado. Vai me dizer que alguém romântico, que demonstre o quanto gosta de você, busque estar sempre ao seu lado e te transmita segurança não é tudo que você quer? A professora Juliana Siqueira encontrou tudo isso no ex-namorado. “Ele me dava cartões, mandava flores, sempre se oferecia para me levar nos lugares, me pegar. Eu achava ótimo, mas, com o tempo, fui vendo que ele era meio impregnante”, revela Juliana, de 24 anos. Tão doce era o rapaz, que a relação foi azedando. Depois de dois anos, Juliana tomou coragem e resolveu terminar o namoro. “Aquilo não estava me agradando. Gostar e amar não significa ficar no pé, viver em função do outro. Acabei enchendo o saco”, diz ela, cujos pais lamentaram o término do relacionamento. “Meus pais acham ele um ótimo rapaz, aquelas coisas, tão bonzinho e solícito… Mesmo depois de um bom tempo terminados, ele dava um jeito de ficar perto de mim. Ia na minha casa cortar o cabelo do meu pai, acredita? Só parou de me procurar depois que fez um concurso público e foi morar em Brasília. Está lá até hoje. Acho que essa mudança foi ótima para ele”, acredita a professora.
Muita gente não chegou, como Juliana Siqueira, a namorar um grudento. Mas é quase certo que algum chiclete já tenha tentado colar em você. Com a atleta Adriana Lazzari, bastou uma noite para o menino resolver lutar, com unhas, dentes e telefonemas insistentes pelo coração dela. “Ficamos numa festa, estava tudo indo numa boa, altos beijos e tal, dançamos e nos divertimos bastante. Só que a festa acabou, a noite também e, por mim, tudo com ele teria terminado ali. Só que ele pediu meu telefone e passou a me ligar direto”, conta Adriana, que um certo dia cedeu aos pedidos e aceitou o convite para sair. “Não gosto de magoar os outros. Eu fui tentando cortar, dizendo que não sentia grandes coisas por ele, mas quanto mais eu tentava fugir, mais ele se apaixonava e me procurava. Até o dia que ele veio dizer que me amava. Putz, é difícil quando jogam essa bomba em cima da gente assim. Aí mandei a real, disse que não íamos mais ficar e pronto. Hoje em dia, ele simplesmente passa por mim e finge que não me vê. Revoltante! Aprendi que nessas ocasiões, tentar ser legal é besteira”, argumenta Adriana.
Conhece aquele dilema do ligo ou não ligo no dia seguinte? Pois é, quando conhecemos e ficamos com alguém que nos desperta interesse, sabemos que, para conquistar, é preciso ter paciência e pensar muito antes de agir. Nada de sair se jogando em cima do pretendente e deixar escrito na testa que está caidinha por ele. O ser humano é mesmo meio complicado, mas até nós, mulheres, gostamos quando o cara vai se aproximando lentamente… Deve ser por isso que, por aqueles que, de cara, se declaram e colam no pé, perdemos logo o interesse. Será que os homens-chiclete não percebem que estão passando um pouco da medida? “Nem sempre a pessoa se dá conta que está sendo demais, talvez por uma falta de crítica ou por perder a própria auto-estima, que o faz viver e respirar o outro. A pessoa que gruda na outra se ilude, achando que sua postura é uma demonstração de grande interesse. Mas o que parece atenção e cuidado se transforma em chateação e desconforto”, esclarece o psicanalista Cássio dos Reis.
Não sejamos injustas com os homens, porque ser grude não é uma característica exclusivamente masculina, não. O jornalista Jonas Portela garante que muitas mulheres custaram a sair do seu pé. “Uma delas era ficante de um amigão meu. Fomos apresentados numa festa. E, depois disso, ela começou a me ligar sempre e “rompeu” com o meu amigo. Eu ficava enrolando, dizendo que tinha um monte de coisas para fazer e ela querendo me encontrar. Até que um dia ela começou a reclamar, dizendo que eu estava dando desculpas, então marquei um encontro no Metrô de Copacabana, bem perto da minha casa”, conta Jonas. Por mais que incomodem, uma coisa não se pode negar: os grudentos são pessoas corajosas, de atitude. “Chegando lá, ela disse que queria ir para um lugar mais calmo. Fui para casa, crente que a empregada e minhas irmãs estavam, mas não tinha ninguém! Ela me deu um monte de presentinhos, cartas e cartões, toda carinhosa e quase me agarrou à força. Mas tive que colocar um freio, porque meu amigo gostava mesmo dela. Pior é que ela era uma gracinha”, lamenta Jonas, a quem a insistência feminina, pelo visto, não incomodou. “Sem hipocrisia, ser perseguido, até certo momento, faz bem para o ego, sim. Depois, é meio constrangedor”, confessa ele.
Cássio dos Reis é categórico ao afirmar que um relacionamento calcado no grude, na interferência da individualidade, não tem a menor chance de dar certo. Segundo o psicanalista, a privacidade é uma necessidade de todos. “Até mesmo no relacionamento mais íntimo e com a pessoa mais amada. Esta privacidade facilita o vínculo, pois representa respeito e confiança”, esclarece Cássio. Na verdade, o comportamento de quem corre atrás de uma pessoa e monitora os seus passos, até mesmo se confundindo com o outro, é reflexo de uma grande insegurança. Portanto, antes de tentar segurar seu amor fazendo marcação cerrada, saiba que é preciso adquirir confiança em si mesmo. “A pessoa amada deve ser um complemento, que faz com que os dois possam manifestar até suas fraquezas. Mas só haverá êxito na relação, se existir confiança e respeito. Ficar grudado no outro demonstra fragilidade e ninguém quer ficar do lado de alguém fraco e inseguro”, conclui Cássio. Quando temos certeza do que representamos para o nosso parceiro, naturalmente damos a ele a liberdade necessária para que a vontade de estar junto cresça cada vez mais.