Solteira, casada, viúva ou divorciada? Assumir o estado civil nem sempre é muito fácil. Ainda mais com possibilidades tão restritas. “Solteira, mas namorando”. “Casada, mas nem tanto”. “Divorciada, e com orgulho”. “Enrolada”. Seria muito mais simples se pudéssemos lançar mão das nossas próprias definições e trocá-las como quem troca de roupa. Para reencontrar as amigas dos tempos de colégio ou para reuniões de família, o modelito casadíssima. Para a noitada de sexta-feira, duas opções: namorando, para os feios que se aproximam, e enrolada, para bancar a difícil, quando quem chega é mais interessante. E se a pergunta surgir num papo de banheiro, cheio de mulheres bem-resolvidas e independentes, é a vez do “solteira, graças a Deus!”.
A estilista Clara Garrido sempre teve a maior dificuldade em preencher formulários. “Eu estava morando com o meu namorado há tempos, fazendo compras, viajando, pagando conta, planejando ter filho, indo à reunião de condomínio e sendo apresentada nas festas como esposa e marido. E eu vou assinalar o quê naquela ficha? Solteira? Não sou solteira, não. Sou casada e muito bem casada!”, reclama. O estado civil também pode variar de acordo com a situação. É muito simples: a publicitária Sabrina Vilhena conta que se apresenta como esposa ou namorada, dependendo do acontecimento social. “Depois que me divorciei legalmente, tive outros dois casamentos não-oficiais. No primeiro, eu usava e abusava da condição de esposa quando precisava me impor para a mulherada que insistia em dar em cima do Daniel. Dizer ‘meu marido’ abala muito mais!”, afirma. Já na segunda relação, a coisa mudou. “Vira e mexe, eu me refiro ao Júlio como namorado, apesar de ele odiar. Não sei porquê, mas acho mais bonitinho, dá a impressão de que as pessoas estão juntas porque querem, não é uma obrigação”, se explica.
Pior do que tentar se enquadrar em uma definição de estado civil é pensar que se é uma coisa quando, na verdade, se é outra. “Todo mundo já passou por algo parecido. Eu tinha uma rolo com um cara há uns três meses. Ninguém sabia direito o que era. Nem eu, nem ele”, conta a estudante Rafaela Ribeiro. Depois de viajarem juntos e até de ganhar do rapaz uma festa de aniversário surpresa, ela já estava dando como certa a qualificação da “coisa”. “Era namoro! Embora nunca tivéssemos tocado objetivamente no assunto, vivíamos juntos, nos falávamos todos os dias e eu já até freqüentava a casa dele”, lembra. E foi justamente lá que a situação enrolou. “Um dia, estava jantando com a família dele e, na hora da sobremesa, alguém disse: ‘Bernardo, serve a torta pra sua namorada’. Ele virou com a cara mais normal do mundo: ‘que namorada, vó? Eu não tenho namorada não’. O desgraçado, não satisfeito em jogar todas as minhas pobres ilusões no lixo, me deixou com cara de tacho na frente da família inteira, na mesa de jantar. Depois daquilo não estou mais interessada em ter qualquer coisa com qualquer nome com aquele sujeito!”, esbraveja.
O analista de sistemas Gustavo Barsan, “juntado” há cinco anos com a professora Flávia Magalhães, já até se esqueceu que, aos olhos da lei, é um solteirão. “Para fins legais, estou encalhado!”, brinca. Mas ele e sua “esposa” já passaram por uma boa por desconsiderarem estes trâmites jurídicos. “A Flávia foi fazer uma viagem e, pra variar, houve um problema com a passagem de volta. Precisei entrar em contato com a companhia para resolver o assunto e, como aquela já devia ser a vigésima vez em que eu falava com o atendente, já me encontrava com a paciência devidamente abalada. Lá pelas tantas, esbravejando ao telefone, me irritei quando o rapaz perguntou com quem estava falando e eu respondi: ‘com o marido dela!!!'”, lembra. Gustavo estranhou quando ouviu o atendente da companhia dizer, com aquela voz robótica: “senhor, os dados não estão batendo. A senhora Flávia é solteira”. “Perdi de vez a paciência, gritando que aquilo estava errado porque a Flávia era casada, sim, e comigo. Não sabia onde enfiar a cara quando me dei conta do que estava dizendo”, conta.
Muitas vezes, estar junto não significa ter o mesmo estado civil. A economista Roberta Federsen fazia de tudo para não assumir o namoro com o jornalista Marcelo Buarque, que na mesma época já se sentia quase casado. “A história já rendia mais de quatro meses. Eu tinha me separado há pouco tempo e não queria assumir outro relacionamento, tão em cima do lance. Mas como gostávamos de viajar, começamos a fazer planos, ficamos cada vez mais juntos e, depois de um tempo, já não saía mais da casa dele. Para o Marcelo, aquilo era um namoro, mas pra mim, era uma outra coisa que não tinha nome”, conta. Mas o dia dos namorados estava chegando e com ele o pânico de batizar e sacramentar o tal relacionamento indefinido. “Então, tomei a decisão e resolvi assumir o namoro. Só que, no dia em que eu decidi organizar a minha vida, ele me veio com um tremendo pedido de casamento. Fingi que não entendi e passei uma semana pensando no assunto, desesperada para, no final de tudo, aceitar”, lembra, de aliança no dedo.
A lei quer que a gente seja casada, solteira, viúva ou divorciada. E só. Mas, na prática, não é bem assim que a coisa funciona e as opções são bem mais variadas. Escolha a sua e… divirta-se!