Etiqueta do carona: regras para quem está ao lado da motorista

Você está linda e poderosa em seu carro novinho e perfumado. Eis que um colega de trabalho pede uma carona. Por que não? Na hora marcada, o sujeito atrasa. Quando finalmente aparece, entra no carro superíntimo, do tipo que dá pitacos sobre o trajeto, acende um cigarro, liga o som. O trânsito pesado potencializa a sua irritação e, ao chegar ao destino, você se sente esgotada. Depois do adeus, o alívio: finalmente ele foi embora!

Uma pequena noção de etiqueta não faz mal a ninguém. Qualquer um pode ser um passageiro interessante e contar com uma carona sem se transformar num fardo. Convidamos a doutora em etiqueta Cristina Giácomo para nos ajudar a traçar regrinhas de conduta. 

Truque da invisibilidade

“O ideal é você tentar ser o mais invisível possível”, acredita Cristina Giácomo. E para isso, é primordial estar à disposição de quem dá a carona. Atrasos são bolas fora, deixar o outro esperando é quase certeza de que será o último favor. ” Pontualidade é fundamental“, decreta ela. A estudante de engenharia Priscila Sanchez corrobora a ideia da invisibilidade. “O passageiro nunca se atrasa, nunca dá palpite sobre a forma de conduzir do motorista, nunca está com pressa, nem se importa de ficar no ponto ou de passar no mercado”, considera.

Se o dono do carro ama música sertaneja e você é do metal, paciência. Ele está no carro dele e tem o direito de ouvir o que quiser. Quem sabe não é uma boa chance para você ampliar o seu gosto musical? Pronunciar frases do tipo “Acho melhor você pegar aquela próxima à esquerda” é um pecado capital. “Ninguém gosta de dar carona para gente abusada”, acredita a estudante. Para Giácomo, até a escolha do lugar deve ser definida pelo motorista. “Antes mesmo de pegar um assento, você deve perguntar onde o motorista quer que você se sente, se é no banco da frente ou no de trás”, ressalta.

A empresária Ana Renata Serri revela o que mais a irrita nesses casos: ” Pedir para fazer umas paradinhas antes de chegar ao destino é terrível. Detesto escutar coisas do tipo: ‘Pode passar ali na casa dos meus pais para eu pegar a chave de casa?’ ou ‘Pode parar ali no posto para eu tirar dinheiro?'”. A especialista em etiqueta dá o remédio: “Você não pode pedir nada além do combinado. Deixa as regras para quem comanda, que é o dono do carro”, frisa.

Vento no rosto e um belo trajeto pela frente. Muitos são aqueles que em seus carros acenderiam um cigarro. Na posição do carona, jamais! “Se você fuma e o dono do carro não, nem peça para fazê-lo, porque é algo que vai causar um mal-estar”, aconselha Giácomo.

O grau de intimidade que pode deixar a viagem mais leve também pode jogar contra, quando se extrapola a barreira do bom senso. “A intimidade é ruim, porque você acaba tolerando excessos por consideração à pessoa”, pondera Sanchez. Ela e seus amigos de faculdade participam de um grupo de caronas compartilhadas para cumprir o longo caminho até a universidade. Experiente no assunto, ela já viu de tudo. “Tem gente que prefere os mais falantes para fazer companhia no trânsito e evitar o sono. Outros já são mais calados. Teve uma vez um cara que pegou carona conosco e passou a viagem inteira em silêncio. Só foi abrir a boca para pedir uma nova carona. A resposta foi óbvia e rápida: um sonoro não”, revela.

Se transportar pessoas conhecidas em seu veículo já é complicado, que dirá desconhecidos. Fernando Doria de Bellis é um dos idealizadores do site Carona Brasil, no qual se pode buscar acompanhantes para dividir o trajeto e, principalmente, os custos. A preocupação com a etiqueta vem logo na home do site. “A gente tem que considerar o carro assim como consideramos o lar. E temos que nos submeter às regras do condutor”, explica Fernando.

O bom senso é o principal aliado de quem senta à direita do motorista, continua, e por isso o próprio endereço da web dispõe de ferramentas para ajudar. “Tudo tem que ser combinado antes da carona e evitar, ao máximo, mudar aquilo que foi acertado previamente. Isso é o que mais prejudica. No nosso site, as pessoas podem dar o feedback através de notas para as caronas que pegaram”, diz.

O motorista também tem que fazer a sua parte. Doria de Bellis explica: “Antes de começar a dirigir, tem que mostrar a carteira de motorista em vigor e dirigir com mais leveza e paciência”. Sócio-proprietário do portal Caroneiros.com, Mário Sebok aprofunda ainda mais as obrigações do motorista. “Ele tem que especificar todos os seus hábitos no seu perfil para que, quando as pessoas decidirem pegar carona com ele, já estejam conscientes das regras de conduta”, avalia o empresário.