Beber durante a gravidez, mesmo com moderação, faz mal ao feto ou não? Um respeitado autor e crítico de vinhos, Daniel Rogov, cria polêmica com artigo que publicou num site também feminino como o Bolsa, exclusivo para mulheres que gostam de vinhos: o “Women Wine Critics Board”. Veja.
O título do artigo já diz tudo: “Vinho e Gravidez – As mentiras que contam para as mulheres”. Rogov lembra que desde 1990 cada garrafa de vinho ou de destilado vendida nos Estados Unidos carrega uma advertência da autoridade máxima do país na área de saúde (o tal do “Surgeon General”), afirmando que “as mulheres não devem consumir bebidas alcoólicas durante a gestação em razão dos riscos de causar defeitos no feto”. Diz o autor que, não bastando esse aviso, e aumentando a ansiedade em mulheres já preocupadas com sua própria saúde e a dos seus fetos, centenas de matérias na mídia se devotam em convencê-las de que se beberem uma só gota de álcool durante a gravidez há uma chance de o bebê nascer deformado, viciado ou retardado.
Daniel Rogov aponta, contudo, que uma grande quantidade de pesquisas recentes e um reexame da questão de álcool na gravidez mostra que não há uma evidência conclusiva que demonstre danos aos fetos caso consumamos álcool moderadamente antes e durante a gravidez.
Segundo os médicos David Whiteen e Martin Lipp, da Universidade da Califórnia, em San Francisco, “a campanha contra beber durante a gravidez começou em 1973, quando vários estudos demonstram que o álcool consumido em demasia podia causar uma condição chamada de Síndrome Fetal do Álcool. Esses estudos mostraram que os filhos de muitas mães alcoólicas nasciam com um acúmulo de sérios defeitos”. Mas esses mesmos médicos observam que “o que o governo convenientemente escolheu ignorar é que essa síndrome é extremamente rara, ocorrendo em apenas três bebês entre 100 mil nascimentos – e, mesmo assim, somente quando a mãe abusava do álcool durante todo o período da gravidez”.
Estou convencida de que ninguém deve se sentir culpada em beber socialmente durante a gravidez
Lipp e Whiteen figuram entre o número crescente de médicos e pesquisadores que acham não haver razão de uma grávida se preocupar ao beber apenas uma taça de vinho por dia. A revista Wine Spectator, inclusive, já publicou uma edição (de 31 de agosto de 1994) a respeito dessa controvérsia e seu editor na ocasião, Thomas Matthews, escreveu que “há, inclusive, novas pesquisas demonstrando que beber moderadamente durante a gravidez pode, na verdade, ajudar o desenvolvimento da criança após o nascimento”.
Nessa edição da WS, um artigo da famosa Jancis Robinson, Master of Wine, autora inglesa e uma das maiores críticas e degustadoras de vinho do mundo – refere-se à posição subalterna que os homens sempre colocaram as mulheres, em particular durante a gravidez. “Os homens só vão parar de ditar regra sobre o comportamento das mulheres durante a gravidez no momento em que puderem ter filhos”, diz a inglesa. “Estou convencida de que ninguém deve se sentir culpada em beber socialmente durante a gravidez”, continua. A própria Jancis, mãe de três filhos, bebia uma taça de vinho diariamente nos seus tempos de grávida. Em suas degustações apenas provava o vinho, sem ingerir qualquer quantidade de álcool, como manda o figurino. A crítica observa que ela e suas colegas profissionais do vinho devem ter verificado que durante a gravidez suas habilidades gustativas melhoraram.





