A atriz Giovanna Antonelli, 24 anos, está no melhor papel da sua carreira “emprestando o corpo” para Capitu, a garota de família e também de programa da novela Laços de Família. Mas a semelhança dela com a personagem da novela está distante. Giovanna está muito mais para a protagonista de Machado de Assis, em Dom Casmurro, na beleza, simpatia e personalidade forte.
De bem com a vida, de casa nova e amando, ela não se incomoda com a correria das gravações, das 12 horas por dia de trabalho e está sempre com um sorriso estampado no rosto de menina, moleca e mulher. Entre uma cena e outra, Giovana se propôs a falar desse universo misterioso e que desperta tanta curiosidade, que sua personagem vive. De quebra a gente fica sabendo o que ela faz quando consegue uma folga.
BM – Qual foi sua reação ao saber que faria uma garota de programa ?
GA – Achei maravilhoso. Todos personagens de garotas de programas, são muito ricos. Dá pra fazer um super trabalho de composição. Mas ao mesmo tempo, é um personagem que eu sabia que seria muito polêmico, por ser uma garota de programa da classe média, ia mexer muito com as pessoas da classe média e pela primeira vez mostrando uma garota de programa sem ser estereotipada, sem usar micro saia, bota de couro, como prostitutas de rua. Acho que todo mundo tinha um pouco de medo da repercussão, mas fizeram um grupo de pesquisa e a minha personagem é muito querida. As crianças se identificam com ela, porque ela tem um filhinho. Acho que a forma como o Manuel Carlos traduz a personagem, escreve, leva pra esse lado. As vezes as pessoas esquecem que ela é uma garota de programa, porque ela tem tanto amor, pelo pai, pela mãe, pelo filho. Ela passa essa coisa de família. Enfim é o melhor personagem da minha vida, estou amando fazer, é um presentaço.
BM- Como você se preparou para o papel ?
GA – Fiz um laboratório, conversei com várias meninas aqui no Rio que fazem programa e com outras pessoas que agenciam essas meninas. Essa conversa durou umas cinco horas. Eu gravei tudo. E até hoje eu tenho contato com uma delas, pra falar sobre a novela, eu quero tirar dúvidas, saber se está indo bem, se estou retratando a realidade delas.
BM – Como é a reação das garotas de programa com o seu personagem ?
GA– Elas falam que é isso mesmo. Eu recebo vários e-mail também de garotas de programa, falando que já tiveram um cara como o Orlando, que segue a Capitu na novela, que já sofreram vários tipos de violência, que já foram obrigadas a se drogar. O Maneco escreve bem a realidade, o dia-a-dia, o cotidiano. Também tem uma pesquisadora. Tudo é baseado em fatos reais, não é invenção, é uma novela realista.
BM- Como foi pra você, conhecer essa realidade ?
GA– É duro porque você vê meninas lindas, que poderiam estar fazendo outra coisa e não precisariam passar por isso. Eu acho muito cruel isso acontecer com essas meninas. Mas é o tipo da coisa, que no país que a gente vive hoje, as coisas são muito difíceis, não tem muitas oportunidades. Têm pessoas com mais de uma faculdade, falam línguas e não conseguem nada no mercado de trabalho. Imagina uma jovem universitária, que está começando a vida, que precisa sustentar o filho e família, pagar faculdade, tem que fazer alguma coisa. Umas vão ser recepcionistas, vendedoras e outras meninas acabam virando garotas de programa. Pra essa realidade mudar, tem que mudar a estrutura do país, é muito grande.
BM- Seu personagem cresceu muito. Acha que isso se deve ao fato da prostituição mexer muito com o imaginário masculino e feminino ?
GA – Eu acho que a personagem mexeu, porque a Capitu é classe média, comum, que tem muito amor a família, ao filho e é uma garota de programa. Ela não tem nenhuma indicação de ser garota de programa. Você olha pra ela e não diz que ela faz programas. A postura dela não é vulgar, mas ela faz programas. Isso mexe muito com as pessoas. Uma vez uma senhora me parou na rua e me falou: “A Capitu pode ser minha vizinha e eu não sei”. Pode. A forma como ela está sendo mostrada desperta a curiosidade das pessoas. Ela não tem um apelo sexual.
BM – Como é a reação do público ?
GA – Muito carinho. As crianças me adoram.
BM – E as cantadas aumentaram ?
GA – Não. Eu nunca fui muito cantada. As pessoas sempre falam mais do meu trabalho, não chegam a mim parar fazer piadinhas de mau gosto.
BM – Qual foi a cena mais difícil que você fez ?
GA – Eu sempre falo que não tem cena difícil. Adoro desafios. Mas fazer as coisas simples é o mas difícil. Fazer o complicado é fácil. Mas fazer o dia-a-dia é muito difícil. Quando você pensa em interpretação, na verdade você tem que fazer o seu dia-a-dia, normal, simples. E representar isso de forma natural é difícil.
BM – O que você acha que desperta interesse nos homens em procurar uma garota de programa ?
GA – Sexo, prazer. Ter na rua o que não tem com a mulher em casa. Satisfação na cama, procurar coisas diferentes que a mulher não faz, relacionamento ruim.
BM – Você se considera um símbolo sexual ?
GA – Não.
BM – A Capitu ajuda a passar essa idéia ?
GA – A Capitu é sensual, a Giovana não. Eu apenas represento. Empresto meu corpo para a Capitu. Não tem acontecido comigo das pessoas confundirem ficção com realidade, mas a Capitu tem outros lados bem mais fortes: a mãe, a filha, a amiga.
BM – Fora a Capitu, teve algum outro personagem marcante ?
GA – Todos são. Mas eu estou amando fazer a Capitu e adorei fazer a Sharon no filme Bossa Nova.
BM – E como foi fazer cinema ?
GA – Foi um sonho, um grande presente. Foi a melhor experiência profissional que já tive. Estriei com o pé direito, o filme é um sucesso, muito bonito e foi gostoso fazer. Trabalhar com o Bruno Barreto foi fantástico, ele é muito bom. Fora o elenco, tudo foi maravilhoso.
BM – Como foi se ver na telona, com a qualidade do cinema ?
GA – Foi uma grande surpresa, mas adorei.
BM – Tem algum personagem que você gostaria de fazer ?
GA – Qualquer um. Acho que estou muito nova para ficar escolhendo personagens. Faço de tudo, o que vier eu traço, adoro desafios. Quando eu estiver com uns quarenta anos, depois de já ter feito muita coisa diferente, eu vou pensar sobre isso. Agora eu quero tudo.
BM – Quando você começou a atuar ?
GA – Há 13 anos. Eu tinha 11 anos e sempre pensei em ser atriz, não me imagino fazendo outra coisa na vida. Futuramente posso até vir a ser diretora, mas agora eu só penso em atuar, só quero atuar. Sinto muito prazer no que faço. Não me incomodo de trabalhar demais.
BM – Como é a sua rotina ?
GA – Projac e externa. Trabalho umas 12 horas por dia. As vezes até mais. O problema é o limite físico. Tem horas que o seu corpo não reage mais, está cansado, o trabalho não rende, mas a parte mental está ótima. Meu trabalho é minha análise, minha válvula de escape, eu preciso trabalhar, senão fico mal.
BM – Com esse ritmo, como fica o casamento ?
GA – Estou casada há três anos. Ele também tem uma vida super agitada, trabalha muito. O meu ritmo nunca prejudicou em nada minha relação.
BM – Como seu marido reagiu ao saber que você faria uma garota de programa?
GA – Ele não falou nada. Ele não interfere no meu trabalho, me admira muito e nossa relação está muito acima dessas coisas. Não conversamos sobre isso. Quando estamos juntos tem outras coisas no meio, tem a nossa vida.
BM – O que você procura fazer quando está de folga ?
GA – Dormir bastante, descansar. Curtir a casa. Moro aqui há três meses e ainda não tive tempo de curti-la. Gosto de comer muitas coisas gostosas. Adoro sair para jantar fora, sou boa de garfo, como de tudo, não tenho preferência. Gosto de ir ao cinema.
BM – Você gosta de fazer alguma coisa em casa ?
GA – Não faço nada e não gosto de fazer. Às vezes vou ao supermercado, mas não tenho tempo para isso.
BM – Mesmo gostando de comer você é super magra. Você faz alguma coisa ?
GA – Sempre fui magra, não tenho tendência a engordar. Sou antiginástica, detesto academia. Não tenho o menor saco. Malho temporadas, uma vez ao ano durante três meses, geralmente para fazer algum personagem.
BM – Você está com algum plano para teatro ou cinema ?
GA – Não. Estou comprometida com a novela até o final de fevereiro. Depois quero viajar. Se tiver tempo de férias farei algum curso, mas senão vou só curtir e relaxar.
BM – A sua família sempre te apoiou ?
GA – Não. Quando eu decidi ser atriz, eles achavam uma loucura, não queriam. Hoje gostam. Mas não tenho do que me queixar, a minha família é ótima, é a minha base. Sempre tive uma estrutura familiar boa. E minha carreira é reflexo dessa estrutura. Mesmo não apoiando eu sempre tive personalidade forte, sou muito determinada, quando quero uma coisa vou até o fim, me desdobro mas consigo. Sempre impus minhas vontades.
BM – O que você não faria por dinheiro algum ?
GA – Não me venderia, não passaria por cima de ninguém para conseguir alguma coisa. Não faria nada que pudesse mexer com o meu caráter, com a minha dignidade.
BM – Você crê em alguma coisa ?
GA – Sim, em Deus. Rezo e agradeço todo dia pela vida maravilhosa que tenho. Faço o que gosto, tenho uma família ótima, meu marido é maravilhoso. Preciso agradecer.
BM – Você tem algum sonho ?
GA – Permanecer com saúde, ter paz e ser feliz.
BM – O que você carrega na sua bolsa ?
GA– Tudo que você possa imaginar. Agenda, carteira, celular, óculos, remédios…
BM- Remédios ?!
GA – Sou hipocondríaca. Tenho mania de tomar remédios. Na minha bolsa tem remédio para tudo. Dor de cabeça, dor na coluna, para circulação, para o cabelo, para unha, para dores musculares…