Hipnoses de Pyong Lee fazem muitos duvidar: é mesmo possível?

Em sua vigésima edição, o “ Big Brother Brasil” (Rede Globo) tem entre seus participantes o youtuber e hipnólogo Pyong Lee, conhecido por vídeos onde seus convidados (muitos deles famosos) passam a ver coisas que não existem ou a acreditar em informações alteradas. Dentro da casa do BBB, o influencer também demonstrou suas habilidades, hipnotizando alguns dos colegas de confinamento.

Por se tratar de algo tido como “mágico”, porém, há quem questione a veracidade das cenas e se pergunte: afinal, a hipnose funciona mesmo deste jeito?

Vídeos de Pyong Lee impressionam

No reality, Pyong hipnotizou Felipe Prior, Ivy, Thelma e Rafa Kalimann, o que gerou tanto reações impressionadas na web quanto críticas e ceticismo, inclusive por parte de integrantes do reality.

Presente no YouTube desde 2014, Pyong Lee é, além de hipnólogo, um ilusionista que faz faz sucesso realizando números impressionantes tanto entre pessoas anônimas quanto entre famosos. Em seu canal, por sua vez, há inúmeros vídeos em que celebridades topam se submeter à hipnose – e acabam protagonizando situações ao mesmo tempo hilárias, fortes e impressionantes.

Em um dos vídeos mais assistidos de seu canal, por exemplo, Pyong recebeu o também youtuber Aruan Felix, e o guiou de forma a fazê-lo passar por uma verdadeira montanha-russa de emoções: além de acreditar que seu nome era “placa cortante”, ele também ficou extremamente irritado com Pyong após crer que o hipnólogo havia quebrado um pertence seu.

O momento mais impressionante (e famoso) do vídeo, porém, é o momento em que Aruan acredita que uma moça presente no cômodo é sua avó, e cai no choro enquanto a abraça e pede desculpas por ficar tanto tempo sem visitá-la. Após “desfazer a ilusão”, o hipnólogo disse não ter previsto aquela reação, e afirmou que a cena emocionou tanto ele quanto os outros presentes no local.

Em outro vídeo, feito com a participação da atriz Larissa Manoela, Pyong perguntou a ela sobre celebridades que ela gostaria de ver pessoalmente, e ela disse ter vontade de conhecer o cantor canadense Justin Bieber. Após um momento de transe em que o hipnólogo orientou a atriz, dizendo que, quando ela abrisse os olhos, veria Bieber, ela de fato o fez, e ficou maravilhada ao achar que Pyong era o cantor.

Além de vídeos com famosos, Pyong também já gravou cenas pelas ruas de São Paulo – como por exemplo a vez em que fez diversos fãs do grupo de kpop BTS acreditarem que seus integrantes favoritos estavam diante deles. No vídeo, ao ver um rapaz desconhecido, elas demonstram enxergar seus ídolos, e algumas das meninas até caem no choro e pedem para abraçá-lo.

Tanto em seu canal quanto nos de outros famosos, Pyong já protagonizou também momentos com Maisa Silva (em que ela não conseguia parar de gaguejar), Celso Portiolli (em que ele deixou de enxergar os próprios filhos), Rodrigo Faro (em que sua esposa, Vera Viel, esqueceu o número “7”) e até a cantora Anitta (em que ela morria de rir ao olhar para o hipnólogo e ficava triste ao ver uma flor).

Hipnose: o que é e como funciona

Embora muitos pensem ser algo sobrenatural, o hipnólogo Paulo Vaz afirma que a hipnose, na realidade, ocorre de forma cotidiana. “Quando você está assistindo a um filme e se emociona com os personagens, você sabe que não existem aquelas pessoas, mas ainda assim você se emociona, se assusta, chora com o filme”, explica ele.

Segundo o especialista, que é membro da Sociedade Brasileira de Hipnose, o hipnólogo não tem “poderes especiais”, apenas trabalha esse fenômeno natural da mente humana de maneira guiada, fazendo com que a pessoa sinta, veja, esqueça ou relembre coisas com um determinado fim – que pode ser de entretenimento e até terapêutico.

“Durante um transe hipnótico, o profissional que está conduzindo nada mais é do que um guia que conduz a pessoa através da mente dela, da imaginação dela, do que ela quer acreditar e do que ela acredita ser possível realizar. O transe nada mais é do que estar concentrado dentro de si, imaginando, sentindo e até mesmo ouvindo, vendo aquelas coisas que estão sendo sugeridas como um caminho pelo hipnólogo”, afirma.

Isso acontece, na prática, em quatro passos; em primeiro lugar, o hipnólogo tem uma conversa com a pessoa, onde eles esclarecem dúvidas sobre o processo, explica como tudo acontece e suspende qualquer mito em que ela possa acreditar a respeito da hipnose. Em segundo lugar, ocorre a indução, etapa em que a pessoa é guiada a se voltar para dentro da própria mente.

“A indução nada mais é do que tirar aquela atenção consciente do lado externo e levar esta atenção para o inconsciente”, explica Vaz, afirmando que o terceiro passo é um aprofundamento deste estado – algo que Pyong já disse fazer longe das câmeras para que as pessoas não tentem em casa sem o devido conhecimento para isso.

De acordo com Vaz, a percepção de que a pessoa está em transe hipnótico vem de sinais físicos, movimentos que ela não conseguiria fazer voluntariamente, como um tremor nas pálpebras, por exemplo. A partir disso, o hipnólogo chega ao quarto passo e pode então dar sugestões à pessoa com base no objetivo da hipnose, seja ele terapêutico ou de entretenimento.

Para o hipnólogo, o passo mais importante é a conversa inicial, e ele afirma que, sem ela, a pessoa pode entrar no processo com medo, algo que dificulta sua entrega. Durante todo o processo, a pessoa permanece acordada, mas, como está imersa no subconsciente, são muitas as coisas que poderá fazer enquanto hipnotizada – tudo, é claro, baseado em sentimentos, capacidades e memórias que ela já possui.

O que Pyong faz é mesmo possível?

Segundo Vaz, sim.

“O hipnólogo experiente consegue conduzir a pessoa a tal ponto que ela acredita que realmente se esqueceu de algo. É como se a pessoa começasse a criar aquela realidade por si própria, só com o guia do hipnólogo”, diz ele, ressaltando que demonstrações como as de Pyong, onde pessoas creem estar vendo um ídolo, uma pessoa conhecida, e até deixam de enxergar algo ou alguém são, sim, possíveis.

“Alucinações positivas ocorrem quando um elemento que não estava ali naquele cenário surge, como um ídolo, uma pessoa que não estava ali, e as negativas ocorrem quando ela tem uma pessoa na frente dela, mas não vê aquilo, e realmente acredita que não tem ninguém. Realmente não vê. Nosso cérebro tem a capacidade de criar isso – e a gente faz diariamente sem perceber”, afirma Vaz.

Todos podem ser hipnotizados?

De acordo com Vaz, partindo do princípio que a hipnose ocorre no dia a dia de todos: sim, qualquer pessoa é passível de ser hipnotizada. “Todas as pessoas são hipnotizadas diariamente sem perceber, seja numa conversa, pela televisão quando uma propaganda induz a pessoa a comprar um produto, isso tudo é uma forma de hipnose”, explica.

Quanto ao processo de hipnose, ele afirma que pode haver diferenças entre as pessoas. “Nem todo mundo vai alucinar e conseguir ver coisas, esquecer o nome, etc. Mas, com certo treino, os graus podem ser trabalhados para que a pessoa se acostume, passe a ter confiança no que está vendo, passe a sentir mais”, diz Vaz.

Pyong pode usar a hipnose a seu favor no BBB?

Conforme o anúncio de que Pyong estava entre os participantes do BBB, inúmeros internautas que têm familiaridade com o trabalho do youtuber questionaram se ele não poderia, por exemplo, hipnotizar os colegas de confinamento ou até mesmo o público para evitar votos que o prejudiquem no jogo. Isso, segundo o hipnólogo, não é algo possível neste cenário.

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“Toda comunicação é uma forma de hipnose, mas se aquilo que você está transferindo para a outra pessoa não é desejado por ela, se ela não quer que aquilo aconteça, a vontade dela vai prevalecer. Não tem como dizer que um hipnólogo tem um poder sobrenatural que vai induzir as pessoas a fazer algo que ele quer, mas elas não querem”, esclarece Vaz.

Hipnose como terapia

Assim como é possível usar a hipnose como forma de entretenimento, também é possível fazer uso da hipnose clínica – algo que Pyong também discute em seu canal e a que se dedica com o objetivo de ajudar especialmente pessoas com depressão. Segundo Vaz, o hipnólogo que faz isso é chamado de hipnoterapeuta, e são muitos os cenários em que a técnica pode ser útil.

Conforme explica Vaz, ela “condiciona” a mente do paciente a trazer à tona sensações específicas em momentos específicos. “Você tem estados de confiança, segurança e alegria que são criados a partir de momentos de confiança, segurança e alegria. Só que muitas vezes eles não são utilizados nos contextos que você mais precisa, e aí você acaba criando na mente que é insegura, que não consegue ser feliz”, explica.

Com a ajuda de um hipnoterapeuta, uma pessoa pode passar a utilizar esses estados de espírito e essas sensações já conhecidas por ela em situações específicas, alcançando, por exemplo, uma autoestima mais sólida. “É disparar sensações e visualizações de tudo aquilo que faz parte da sua história nos momentos em que você mais precisa”, define o hipnólogo.

Além disso, embora não chegue à raiz de um trauma como faz a psicologia, a hipnose também pode ser usada para aliviá-los. “Funciona como uma ferramenta de autoconhecimento: vamos olhar para esse trauma e ver o que podemos fazer para ressignificá-lo. Modificar cenários, modificar um pouco essa memória que está te impedindo de conseguir o que você quer”, diz ele, exemplificando.

“Quando a gente imagina um cenário do passado, é como se você estivesse sintonizando uma televisão. Você pode mudar as cores, mudar as sensações que tinha, o impacto que aquele trauma teve na sua vida. Isso faz com que ele perca força”, esclarece Vaz, que enxerga a hipnose como uma ferramenta auxiliar.

Segundo o especialista, embora seja possível usar a hipnose para fins terapêuticos, ela não substitui outras formas de terapia. “Ela não é uma substituta da psicologia, da psiquiatria – muito pelo contrário. Ela entra como coadjuvante, completando essas terapias”, conclui ele, ressaltando que é preciso buscar especialistas com certificação na prática de hipnose para isso.

Mistérios da mente