Homens a serviço

Quase ninguém leva em consideração aquela velha história de que antes só do que mal acompanhada. Afinal, sobram por aí relacionamentos recheados de problemas de todo gênero. Talvez seja por isso que, na tentativa de melhorar a pouco compensadora relação tempo x prazer – este quase sempre perdido no meio de tantos entraves cotidianos –, muita gente investe literalmente nos serviços prestados por especialistas do ramo. E como homens e mulheres já estão praticamente em pé e mais o corpo todo em igualdade, o que não falta é demanda e oferta de ambos os sexos, por sexo. Nessa nova ordem social, a carreira de garoto de programa vem conquistando, além do ganha pão de muitos rapazes, a fidelidade da clientela feminina.

Há muito tempo, as mulheres descobriram que podiam fazer um pé de meia tirando-a junto com as demais peças de roupa. Com a evolução dos costumes, os homens perceberam que essa profissão tinha mais campo do que cama e entraram com tudo para ofício mais antigo do mundo. O resultado disso foi a diversificação do público-alvo e dos serviços prestados. Hoje, como a mulherada já não dorme mais de touca, resolveu também usar e, às vezes, abusar dos profissionais do sexo.

Prazer em conhecer

A administradora de empresas Laura Mello conta que é muito bem casada, consequentemente, satisfeita. Em função disso, nunca nem lhe passou pela cabeça ter contato com alguém que ganha a vida vendendo sexo – e, claro, muito menos pela de seu marido. Ainda mais quando o seu programinha vespertino inicial era um inocente chá de bebê. “Era chá de bebê de uma amiga. Sabia que ela era muito maluca, mas com um barrigão de oito meses não tinha como aprontar muita coisa. Só que ela se superou. Quando todas as convidadas chegaram com fraldas, chupetas e mamadeiras, eis que surge no salão uma comitiva de michês”, diz ela. Sob o choque da platéia, os rapazes iniciaram o show. No entanto, Laura lembra que não demorou muito para a mulherada entrar no clima. “Quando as luzes apagaram e eles começaram a dançar se esfregando aqui e ali, foi uma loucura. Eu mesma me liberei e me atraquei com um cara maravilhoso. É um segredo que todas as mulheres da festa guardam, pode até servir futuramente como um mote para chantagem, no melhor estilo ‘eu sei o que você fez no chá de bebê passado’”, se diverte.

A autora desse tema pra lá de original para um chá de bebê, Vanessa Andrade, diz que nunca teve problemas em se relacionar com namorados profissionais. “Tendo dinheiro no bolso e falta de companhia, ligava mesmo para um gato bem gostoso. Poupava o estresse de ter que sair à caça de sexo e de ter ainda que ficar frustada com o resultado dele. Eu ia na certa, já tinha uns quatro garotos fixos que eram satisfação garantida ou meu dinheiro de volta. Claro que sempre de camisinha”, brinca Vanessa.

Para a maioria das mulheres, a porta de entrada para o universo dos garotos de programa é mesmo a da boate – daquelas que têm shows com rapazes musculosos vestidos com trajes sumários ou nulos. A produtora de eventos Érica Sabóia conta que fez 18 anos bem na época do estouro do Clube das Mulheres. Muitas meninas não titubeavam em comemorarar a maior idade debutando nos prazeres – pelo menos nesse meio – visuais. “Tinha um show chamado “Os Leopardos” que fez o maior sucesso naquele tempo, várias amigas minhas iam e algumas mães também. Nos divertíamos horrores com as performances daqueles deuses sarados e bem dotados. Mas, sinceramente, nós íamos mais pela farra do que por tesão nos caras, aquilo era muito over. Apesar de saber que muitas mulheres pegavam e pagavam, eram as chamadas carnes de leopardo”, relata Érica.

Relações perigosas

Pode soar, no mínimo, esquisitíssimo namorar alguém que o trabalho seja simplesmente… transar com outra pessoa. Mas há quem se habilite. A microempresária Lara M. é uma dessas desprovidas do sentimento de posse. “Eu freqüentava um bar que só ia garoto de programa, era ao lado de uma boate de show erótico. Com isso, acabei namorando com dois, um deles até ganhou um concurso de melhor pau”, revela Lara sem constragimento, esclarecendo ainda que o tal concurso não dizia respeito apenas ao tamanho do dito-cujo, mas também ao look geral da criança. Bom, vamos À pergunta que não quer calar: como lidar com o expediente do parceiro? Lara jura que encarava naturalmente. “Ele já fazia isso quando o conheci. Sabia que aquela era a profissão dele, então, não tinha porquê mudar a situação. E eu também não tinha nenhuma outra pretensão, além de curtir. A única coisa chata era quando surgia um programa, porque ele desmarcava comigo”, afirma ela.

Uma vida nada fácil

No entanto, nem sempre esses rapazes dadivosos encontram pessoas abertas como Lara. O garoto de programa Guilherme Silva revela que escondeu o seu ofício da pessoa que namora até não poder mais. “Foi um choque para mim e para ela. Posso falar que foi até constrangedor, tivemos uma briga feia, mas expliquei que é trabalho e não tocamos mais no assunto. Faço isso para ganhar dinheiro, não por prazer. As pessoas julgam que é uma vida fácil, mas não é não. Ter que estar com disposição para transar sem tesão não tem nada de fácil”, diz ele. E é aí que entra o lado profissional da função de michê. “O cara pode ser bonito e não ter talento. Porque o garoto de programa tem que estar sempre a fim e fazer a transa ser boa para a outra pessoa”, declara Guilherme.

Largar a carreira, para o garoto de programa carioca que atende pela instigante alcunha de Hugo Colosso, significa surgir alguém que assuma e ofereça casa, comida e roupa lavada. O que, segundo ele, já aconteceu com alguns conhecidos seus. “Tenho amigos que largaram a vida porque alguém se apaixonou por eles e quis exclusividade”, afirma Hugo. No entanto, o alguém, quase sempre, é do sexo masculino. “Cerca de 70% das pessoas que procuram garotos de programa são homens. O resto são mulheres, algumas querendo apenas companhia para sair, mas a maioria procurando mesmo por aquilo que não tem em casa ou que o marido não faz: um sexo gostoso. E casais, querendo realizar fantasias. Geralmente é o homem que quer ver outro transando com a mulher dele”, revela Hugo. No quesito preço, um programa com um garoto custa em torno de R$ 50 a hora. Mas nesse ramo, sabe como é, as propostas são bem-vindas e as negociações estão sempre abertas.