Se você é uma mulher romântica, está no início de um relacionamento e acredita piamente na tal da fidelidade, é melhor parar de ler essa matéria por aqui – ou é capaz que seus cabelos fiquem em pé; sua orelha, cheia de pulgas e aí a traição vai ser mesmo inevitável. Vamos combinar que, se todo traído resolvesse seqüestrar um ônibus, não haveria mais condução no mundo!
Conversamos com algumas pessoas que traem, traem, sim, traem mesmo e estão felizes com isso. Amam seus parceiros, querem continuar o relacionamento, mas não resistem quando vêem uma cerca… e pulam!
Faça o teste: você está sendo traída?
Aos 40 anos, N. A. é um infiel convicto. “Não há casamento sem adultério”, defende ele, para quem uma escapada aqui, outra ali não faz mal a ninguém. “Costumo namorar pessoas que já conheço há algum tempo e que, portanto, já sabem a minha posição sobre a fidelidade. Traio, sim, sempre traí. Mas prefiro ficar na encolha, não traio em público, nem divulgo aos quatro ventos”, explica N., que prefere a omissão, mas não é capaz de mentir. “Quem pergunta quer saber! Se a minha mulher me pergunta, eu falo a verdade. O homem é mais sincero. Já a mulherada trai e não conta nem no leito de morte”, diz.
Mesmo sem contar, há quem descubra por si mesmo que foi traído, como o biólogo A. P., 29 anos. “Fiquei louco! Eu estava numa viagem a trabalho e, quando voltei, descobri que ela tinha passado uma semana inteira com outro cara”, lembra ele, que chegou a romper o namoro – mas não por muito tempo. “A gente ficava se falando por telefone, discutindo a relação, tocando em assuntos delicados que jamais havíamos tocado antes. Acabou que foi ótimo: nos tornamos mais íntimos, passamos a entender mais o outro e eu comecei a amar ainda mais a minha namorada”, conta A., aconselhando que meter um chifre no namorado é tiro certo para a relação esquentar.
O ser humano é naturalmente infiel pois o conceito da fidelidade não é natural e sim construído
Para a estudante M., 23 anos, pior do que trair é contar que traiu. Ela namora há 5 anos e já pulou a cerca algumas vezes. “Meu namorado nem imagina. Pra quê contar?”, questiona. Ela também não põe a mão no fogo pelo namorado. “Eu sei que ele me ama, que queremos ficar juntos. É até difícil imaginar a cena, mas tenho consciência de que a chuva que cai aqui, cai lá. Se eu traio, ele também já deve ter me traído”, diz M., alegando que a vida é uma só e que devemos aproveitá-la ao máximo. “Não tenho crise de consciência porque traí. Sou jovem, bonita, sou uma excelente namorada e não vejo motivo pra resistir às tentações”. M. deixa claro que perdoaria uma traição de uma noite, mas não uma amante. “Se chegou a esse ponto é porque perdeu o respeito, o amor acabou e então é melhor terminar tudo e partir pra outra”, diz.
Segundo o psicólogo, Paulo Próspero, a noção de fidelidade está ligada à organização da sociedade. “São dois pilares que sustentam o conceito de fidelidade: o social e o religioso, ambos buscando o fortalecimento da família”, afirma, citando Freud, que definiu a sociedade como fruto da repressão. “O ser humano é naturalmente infiel pois o conceito da fidelidade não é natural e sim construído”, explica.
O psicólogo acrescenta que, no passado, numa sociedade patriarcal e machista, só o homem traía e, hoje em dia, as mulheres também traem e assumem essa posição com mais facilidade. Ao optar por trair ou não trair, deve-se colocar os prós e contras na balança. “Uma infidelidade é uma quebra do pacto feito pelo casal, como se a aliança se partisse. Ainda há o risco de ser descoberto e com isso abalar as estruturas do relacionamento”, explica ele, lembrando que muitas vezes a pessoa acaba se delatando devido ao sentimento de culpa.
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– Os três lados da traição – A vítima, a liberada e o privilegiado: assim é o triângulo amoroso.
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– Eu perdoei – Você perdoaria? Elas sim.
E ainda: a coluna da psicanalista Beth Valentim sobre ” poliamor“, a traição aceita pelo cônjuge.