Instrutor de autoescola: conheça melhor a profissão

A primeira vez a gente nunca esquece. Você se lembra de quando começou a dirigir? Não importa se foi o seu pai, namorado ou irmão mais velho a lhe dar as primeiras dicas: o responsável pelo estilo de direção que hoje a acompanha é o instrutor de autoescola. E nada mais justo, portanto, do que esse mestre ganhar uma homenagem à altura de sua importância. Atividade perigosa e estressante? Não para eles! Com calma, paciência e didática, os educadores do volante ajudam a tornar o trânsito mais gentil e, de quebra, colecionam ótimas histórias.

As aulas diárias são sempre como um primeiro encontro entre o aluno e o carro. E se transforma numa rotina para quem ensina. “Estamos acostumados, mas é importante perceber que cada pessoa é diferente. Uns possuem um perfil mais fácil de aprendizado, outros são mais inseguros. E há os que já tiveram alguma experiência com carros. Este início é fundamental para que eu possa conhecer a pessoa e saber como vou ensiná-la“, explica Luciano Rogério, instrutor da autoescola Ivan.

O desafio dos professores é reinventar-se diariamente para evitar uma primeira impressão distorcida. “Muitos alunos chegam cheios de expectativas. Alguns já até sofreram traumas”, destaca Marcelo Galvão, proprietário da autoescola Via 9. Por isso, o professor é o principal referencial para um aprendizado tranquilo. “O papel dele é manter sempre a calma, a concentração e ser muito atencioso”, considera.

Passada a primeira etapa do conhecimento, é hora de ganhar confiança na direção. “Alguns querem acelerar mais logo de cara, outros ficam com medo de andar numa velocidade maior. A gente tem que saber administrar para não criar um trauma no aluno e fazer com que sua vontade de conduzir acabe“, destaca Anderson Ferreira, instrutor da autoescola Aleixo. A influência do estilo de condução do instrutor pode ser determinante para os novatos. “Alunos são como filhos pequenos, que passam a imitar os trejeitos e atitudes dos pais. Por isso, escolhemos profissionais que não tenham um estilo mais agressivo. Caso contrário, formaríamos motoristas igualmente perigosos”, completa o professor.

No país em que os acidentes de trânsito são a segunda principal causa de mortes, de acordo com dados do Ministério da Saúde, estar num veículo controlado por uma pessoa sem experiência é um risco. “A gente sabe das estatísticas, por isso temos total controle do carro: tanto através dos pedais auxiliares, como também pela liberdade que temos em, se necessário, tomarmos a direção. Nossa atenção deve ser redobrada e temos que ser firmes em ordenar e prever situações de risco“, diz Anderson.

Para Galvão, o perigo diminui drasticamente quando o aluno assimila bem os ensinamentos das aulas teóricas. “Sem elas, o aluno não vai compreender as repreensões e também não saberá seus limites no trânsito. Muitos chegam ansiosos para a parte prática. Isso atrapalha”, opina o empresário. O bom relacionamento também é um aliado. O aprendiz deve chegar dez minutos antes do início da aula, enquanto os mestres tentam quebrar o gelo inicial. “Depois do primeiro momento um pouco mais tenso, a gente cria uma boa convivência e ensina de acordo com o desenvolvimento da pessoa. É errando que se aprende”, garante Luciano.

Para se tornar um instrutor, algumas regras devem ser seguidas. Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, é preciso ser maior de 21 anos, dois anos de efetiva habilitação legal e não ter cometido nenhuma infração de trânsito de natureza gravíssima nos últimos 60 dias. Entre os requisitos está ainda o certificado de um dos Centros de Formação de Condutores (CFCs) credenciados pelo Detran.

Mesmo com tanta quilometragem, os instrutores também levam sustos. Anderson quase trocou de carreira por causa de um incidente. “Logo nos primeiros meses, um aluno errou o tempo da embreagem e o carro morreu. Um veículo não conseguiu parar e provocou uma colisão traseira”, lembra ele, que continuou se aperfeiçoando e dando aulas com o mesmo prazer. Os dez anos de experiência de Luciano só lhe renderam bons alunos. E boas histórias. “É uma profissão que nos dá a oportunidade de conhecer muitas pessoas diferentes. É muito bacana”, orgulha-se.