Mapa do sexo

Fiz meu Mapa do Sexo para a virada do ano. Saber se vai aparecer um alpinista sarado que me faça subir as paredes ou se vou encontrar um encaixe perfeito para a minha sexualidade ímpar é o que menos me interessa. O acaso é a pimenta do sexo, não descartaria esse tempero jamais. Tampouco quero descobrir como serão os momentos na horizontal. Tirar o mistério perderia a metade da graça. Nada melhor do que uma boa pegada na vertical para nos provar que a subversão às regras sexuais é a única via ao verdadeiro prazer. Adoro.

Então, além de curiosidade, o que me levou a investir num mapa sexual? Autoconhecimento. Astrologia é como TPM: especialistas dizem que influenciam no seu humor, nas suas reações, na sua sensibilidade. Você acredita? Não importa. Importante é observar-se. Entender-se. E usar as informações a seu favor. Você jamais vai comprovar ou descartar teses se não fizer pesquisa de cama, digo, de campo. Para TPM, existe o calendário. Para conjunções astrais, mapas astrológicos.

As flores foram parar no tapete, arrastadas junto com o porta-retrato de vime, a estátua balinesa e a calcinha. No lugar, esparramada sobre o mármore gelado, devorada viva, eu e minhas concretizações astrológicas

O que me agrada na Astrologia é que você interpreta as previsões como quiser. Eu, pelo menos, só levo a sério a parte boa. Trechos ótimos, nem se fala. Coloco logo em prática para não haver dúvidas de que é uma ciência exata. Por exemplo, meu mapa do sexo foi categórico: “Você tende a ser uma companhia estimulante e disposta a descobrir novos prazeres e sensações com muita naturalidade e harmonia, o que atrai o parceiro instantaneamente, criando uma sintonia em que carícias e posições sexuais são descobertas e criadas com incrível talento e intimidade”. Acertaram na mosca. O Thomas está de prova.

Quando ele tocou a campainha, eu não estava preparada para sair. Para todo o resto, estava prontíssima. Abri a porta, lingerie vermelha rendada, minúscula, saltos-agulha maiúsculos. “Você quer mesmo ir a essa festa?”, meu umbiguinho perguntou. Thomas vinha direto de uma reunião com altos executivos de uma rede hospitalar, estava todo engomado feito presente de Natal. Um convite irresistível para desembrulhá-lo e, como uma legítima Noel, caprichar na entrega.

Baixou a mão com o bouquet de rosas, sorriu, jogou as flores sobre o aparador da entrada, me ergueu nas alturas. Afundou o rosto nos meus peitos, escorregou meio metro de beijos até eu encostar novamente no chão. Nem sinal de terra firme: minhas pernas estavam bambas. A boca dele encontrou a minha, nos perdemos. As flores foram parar no tapete, arrastadas junto com o porta-retrato de vime, a estátua balinesa e a calcinha. No lugar, esparramada sobre o mármore gelado, devorada viva, eu e minhas concretizações astrológicas.

O conteúdo do mapa é cem por cento baseado nos trânsitos de Marte e Vênus. Adorei a explicação: ” Na Astrologia, Marte e Vênus são os planetas responsáveis pelo comportamento sexual. Enquanto Marte está relacionado à sexualidade física, de caráter mais instintivo e selvagem, Vênus rege a sensualidade e a inspiração erótica. As paixões e a intensidade do desejo são atributos de Marte; por outro lado, Vênus envolve o porquê do parceiro ser o escolhido e como ele se torna sua fonte de prazer”. Para mim, não precisava existir nenhum outro planeta.

Gostei especialmente de ‘Vênus em Sextil com Marte natal’: “Você está expressando os seus desejos e pulsões sexuais com grande harmonia e, ao aproximar-se do parceiro, interage de forma dinamicamente insinuante para que juntos façam amor. Não há fronteira entre sexo, erotismo e afeto”. E de quando Thomas me presenteou com um anel de brilhantes em plena mesa do café da manhã. Mas o final, ‘Vênus em Trígono com Saturno natal’ me intrigou: “Caso o envolvimento sexual seja feliz, é possível que você se incline a começar um relacionamento” . O que os astros quiseram dizer com isto?