Esta época de festas sempre mexe com o nosso coração. É hora de reunir toda a família, presentear todos aqueles que amamos e pensar em todas as coisas – boas e ruins – que nos aconteceram no decorrer do ano. Na reta final de mais uma maratona de doze meses, nós sempre paramos para pensar o que fizemos de bom para nós e para os outros. Assim, acabamos por lembrar também das pessoas que não têm a oportunidade de ter um Natal como o nosso: crianças, jovens e idosos carentes. É por isso que, Brasil afora, há campanhas de solidariedade para ajudar esse pessoal a ter momentos mais alegres e mais dignos. Seja arrecadando roupas, brinquedos, comida ou remédios, tem muita gente batalhando por uma noite natalina mais feliz para eles.
Campanhas pela solidariedade no Natal já são habituais em nosso calendário. Algumas delas, inclusive, ganham força por operar nacionalmente, como é o caso do Natal Sem Fome. A campanha, criada em 1993 pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, já distribuiu cerca de 2 milhões de cestas básicas para pessoas carentes. Somente no ano passado foram arrecadados quase 6 mil toneladas de alimentos não-perecíveis em todo o país. Os colaboradores são bem ecléticos: igrejas, empresas, escolas, governos, artistas, instituições e até mesmo associações de moradores.
Os governos estaduais também fazem a sua parte, como acontece, por exemplo, no Paraná. O Programa de Voluntariado Paranaense, o Provopar, realiza anualmente ações dirigidas a crianças de diversas instituições do Estado. Segundo a assessoria de imprensa do programa, só neste ano serão 116 instituições sociais a receber brinquedos, recolhidos em parceria com empresas como o Grupo Sonae – que disponibiliza os locais de arrecadação – e a Renault, que ficou responsável pela coleta e transporte das doações. E não são apenas crianças as beneficiadas pelo Provopar: idosos que vivem em asilos também são presenteados com roupas, maquiagem e diversos acessórios, todos provenientes de doações. Em todas as ocasiões de entrega, tanto para a garotada como para os velhinhos, acontece uma grande festa, com direito a lanche e a visita do Papai Noel.
Andando por aí, a gente também acaba encontrando alguns chamados para colaborar um pouco com a alegria natalina dos necessitados. Durante as próprias compras no shopping, é bem capaz de você esbarrar em uma imensa árvore de Natal, recheada de envelopinhos no lugar dos costumeiros enfeites. Isso acontece, por exemplo, com quem circula pelos corredores do Shopping Curitiba. Há quatro anos, a empresa promove uma campanha direcionada ao auxílio de nada menos que 10.300 crianças, de zero a doze anos, que são cadastradas na Pastoral da Criança, na capital paranaense. “Cada envelope contém nome e os dados de uma criança carente. A pessoa que pega o envelope fica responsável por comprar ou doar um brinquedo para ela e entregar em um posto dentro do shopping. Nós fazemos a embalagem e entregamos diretamente para a criança, pelas mãos de um Papai Noel”, explica a gerente de marketing do shopping, Alessandra Furtado.’
Ela conta que, apesar de haver um prazo-limite para a entrega das doações, às vezes acontecem atrasos. “Como o nosso compromisso é presentear todas as crianças das árvores, tomamos a iniciativa de comprar o presente que está faltando e, depois que é feita a entrega do doador em atraso, passamos o brinquedo dele para alguma outra criança que não esteja no cadastro”, revela. E tem mais uma coisa interessante. Segundo Alessandra, muita gente aprova a experiência e decide apadrinhar as crianças pelo ano inteiro.
Amizade solidária
Tem gente que não é empresa, não é governo, mas também faz a sua parte. Foi depois de ajudar uma amiga a realizar uma festa de Páscoa em um orfanato carioca em 1998 que a administradora Flávia Ballvé decidiu convocar os amigos – e os amigos dos amigos – para organizar eventos para crianças carentes. Foi assim que surgiu o AUAU (Amigos Unidos para Ajudar Unzaozoutros), um grupo aberto de pessoas que organizam atividades, compra roupas e brinquedos novos, decora a instituição que vai receber os presentes e faz a maior festa, com Papai Noel e tudo. “A cada ano atendemos orfanatos diferentes, sempre optando pelos mais carentes. Nosso site chama a atenção das pessoas, então sempre recebemos e-mails ou telefonemas de pessoas interessadas em ajudar. E o AUAU cresceu tanto nos últimos anos que agora contamos até com postos de arrecadação”, conta ela.
O sistema do AUAU funciona de forma semelhante ao da árvore do Shopping Curitiba. São disponibilizados fotos e dados das crianças da instituição atendida e os interessados se encarregam de doar roupas, remédios ou fraldas. “Tem pessoas que preferem dar dinheiro, para que a gente fique encarregada de comprar o presente. O ano todo recebemos mensagens de gente interessada em ajudar. Este ano, em apenas dois dias, todas as sessenta crianças que estamos atendendo já tinham padrinhos. O legal é que algumas pessoas estão apadrinhando mais de uma criança”, comemora Flavia.
Para ela, iniciativas como a do AUAU fazem uma grande diferença no Natal de muita gente que nunca teve a oportunidade de ter uma festa de verdade. “Há tanta gente precisando de ajuda, tanta gente querendo ajudar, que fico superfeliz ao ver o resultado do nosso trabalho”, conclui.