No fim do túnel…

Dizem que no fundo do poço tem mola e que quando realmente chegamos lá recebemos um impulso e começamos a trajetória de saída. Esta é a idéia de que para tudo há uma solução e de que no auge do sofrimento encontramos de alguma forma, o alívio e a recuperação. Dizem também que o tempo se encarrega de aliviar as dores e que coloca tudo em seu lugar. Infelizmente, nem sempre os processos de recuperação de crises e situações dolorosas obedecem a esses ditames e é exatamente neste momento que devemos prestar atenção e tentar entender onde ficamos fixados.

Cada pessoa reage às situações da vida de acordo com uma série de fatores, sobretudo em consonância com seus traços de personalidade. Não é diferente quando estamos diante da dor emocional. Por dor emocional me refiro a uma ampla gama de sentimentos e sensações. Decepções, perdas amorosas, crises existenciais, angústia, morte de pessoas queridas, enfrentamento de doenças graves, envelhecimento etc. Poderia passar muitas horas tentando listar as tão complexas e variadas sensações inerentes à condição humana.

A dor nos leva a passar por fases que vão da negação, raiva, depressão, até à reestruturação da vida e o retorno dos sentimentos de alegria e contentamento. O tempo percorrido varia de pessoa para pessoa

Evidentemente que o trabalho da psicologia clínica gira em torno exatamente do que não está indo bem, das questões que nos confundem, paralisam ou equivocam de alguma forma. Ao tentarmos compreender a dinâmica de superação e os mecanismos de recuperação da estrutura psíquica, percebemos nitidamente que há uma relação muito direta entre traços de personalidade e maior ou menor sucesso na superação de obstáculos importantes. Pessoas de temperamento alegre, otimistas, capazes de ver os acontecimentos em perspectiva, que valorizam o acerto mais que o erro, que se divertem com pouca coisa, que extraem prazer com facilidade das situações apresentadas, que têm senso de humor apurado, sem dúvida alguma, diante do sofrimento têm grande chance de ressurgir das cinzas, de realmente se beneficiar da mola do fundo do poço.

Isto não significa negar sofrimento, sublimar ou fazer o jogo da “Pollyana”. Significa viver as diferentes fases das dores, deixando que o fluxo se estabeleça e leve de volta ao caminho de ressignificação da vida.

Embora sejamos todos muito diferentes uns dos outros, parece haver certos padrões que tendem a diferenciar grupos. Dentro desses, há inúmeros subgrupos. Correndo o risco da generalização, mas sem nenhum menosprezo às individualidades, é fato que felicidade, bem-estar e sensação de realização concorrem sempre para a manutenção da harmonia física e emocional. Quando falamos em predisposição, deixamos claro que mesmo essas pessoas, revestidas dessas características, poderão não conseguir lidar bem e resolver satisfatoriamente questões dolorosas. Há inúmeros outros elementos envolvidos nos tempos internos de aceitação e resignação diante do irreversível ou consumado.

A natureza e a riqueza de recursos psíquicos do ser humano tenderão a levá-lo sempre em direção a uma nova ordem, ao desfazimento do caos. Paulatinamente a dor nos leva a passar por fases que vão da negação, raiva, depressão, até à reestruturação da vida e o retorno dos sentimentos de alegria e contentamento. O tempo percorrido varia de pessoa para pessoa, mas, em média, precisamos nos preocupar quando percebemos que estamos demorando demais numa determinada fase, como que fixados, impedindo, dessa forma, o fluir do processo que através de sucessivas etapas podem nos levar de volta à disponibilidade para a felicidade.

Fiquem atentos. Dores que não se dissolvem impedem a vida.

Até a próxima!