O bebezão

Ele quer tudo na mão. Quer que você o alimente, dê carinho e brinque com ele. E, caso ele não consiga o que quer, faz birra. Seu sobrinho, afilhado, primo? Não, seu namorado. Trata-se do típico bebezão, comumente chamado de “tchuco-tchuco”, ou simplesmente “nem”. Quando pega um resfriado, então, só falta pedir a chupeta! E adivinha o papel que sobrou pra você? Mamãe – só que de um marmanjo com barba na cara.

É confortável ter o colo e o aconchego da mãe e há homens que buscam manter esse lugar de menino com a namorada ou esposa

Pele lisa, bochechas rosadas, olhar carente. Pronto: está feito o perfil da carinha de bebê, um grande atrativo para uma extensa lista de mulheres. Mas não dá para ficar só com a carinha: tem que levar o pacote completo. “Tem homem que a gente conhece e tem vontade de levar para casa de tão fofo, com ar de desprotegido. Mas depois dá um trabalho…”, diz a dentista Rafaela P., que defende que o rostinho de bebê, a carência e o aspecto de desamparo podem ser interessantes nos primeiros encontros, mas só nos primeiros. “Depois perde a graça! Parece que eles são muito dependentes para comer, se vestir, cuidar do dinheiro… Quem tem filho de bunda cabeluda é macaco”, faz piada.

Às vezes, ele nem tem rostinho de bebê, mas em casa faz o maior bico. É assim no lar doce lar da estudante de medicina Eliana M., de 24 anos. “Meu marido chama o meu nome o tempo todo. Não decide nada sozinho e eu tenho que tomar a frente de tudo na casa. É cansativo demais não poder contar com ele para nada mais sério”, desabafa a estudante, que classifica o comportamento do marido como infantil. “Em casos como o meu, a mulher fica com o papel da responsabilidade e da proteção, o que para mim são características masculinas”, explica, admitindo ter assumido funções na casa e no casamento que deveriam ser dele e não dela.

Mas não são todas as mulheres que torcem o nariz para um namorado ou marido que ainda não tirou as fraldas. Tem gente que não reclama e ainda gosta, como a engenheira Marília P., de 33 anos. Segundo ela, o maridão parece ter dez anos de idade. “Depende de mim para tudo! Se eu não estiver em casa, ele não almoça nem janta – fica esperando eu chegar”, revela Marília, que não vê grandes problemas nessa situação. “Eu faço esse estilo mãezona mesmo, não só com ele, mas com os meus amigos, até com os meus pais. Gosto de cuidar e afagar os meus queridos”, defende ela.

De acordo com a psicóloga Bianca Oigman, esse comportamento segue o arquétipo de Puerl Aeternus. “É daí que vem a expressão pueril, que se refere ao infantil e ao ingênuo, quando as pessoas, homens ou mulheres, têm dificuldade de crescer, como acontece na Síndrome do Peter Pan”, explica a psicóloga, ressaltando que essa dificuldade pode ter diversas causas, como o histórico familiar de cada um. “É confortável ter o colo e o aconchego da mãe e há homens que buscam manter esse lugar de menino com a namorada ou esposa”, revela Bianca, que lembra que muitas mulheres não se incomodam com isso, uma vez que têm mesmo um perfil protetor. “A mulher que não se encaixa nesse perfil vai pedir uma mudança de comportamento. Não responder aos pedidos do parceiro é uma forma de mostrar que você não concorda com essa postura. É bom lembrar que o homem só vai conseguir se manter no papel de filho se a mulher encarnar o papel de mãe”, finaliza.