Dizem que o ser humano é um bicho em evolução. Mas existem certas figuras que parecem fazer questão de ser exceção nessa teoria. São aquelas almas que, às vezes, parecem estar na vida como vacas olhando para a farmácia, ou seja, sem entender muita coisa do que se passa. Estáticas diante das oportunidades, elas insistem em não progredir e se mantêm cópias fiéis de si mesmas nas versões de três, quatro ou dez anos atrás. O pior é que, de vez em quando, essas tais criaturas caem de pára-quedas nas nossas vidas, talvez para nos mostrar o quão importante é viver buscando crescimento. Porque, verdade seja dita, homem que não vai pra frente é dose pra leão.
A engenheira de som Carolina Esteves tem um ex-namorado desse tipo. Mesmo depois de quase dez anos separados, os dois ainda têm amigos em comum e, volta e meia, se encontram em eventos sociais, para a estupefação dela. “Nosso namoro já era surreal naquela época porque eu tinha 15 anos e ele 23. Mas, apesar disso, ficamos quase dois anos juntos. Naquele tempo, ele já me irritava com essa história de não andar pra frente. Eu chegava até a pensar que fosse natural porque, com 15, suas perspectivas de vida mudam toda a semana e, com 23, o ritmo é um pouco mais sossegado. Mas depois eu percebi que ele enguiçou na estrada há muito tempo e não consegue nem chamar o reboque”, comenta ela.
Carolina se diz escandalizada quando, nessas esbarradas, percebe que nem mesmo o guarda-roupa do sujeito sofreu mudanças significativas. “Tem uma maldita bota que ele usa desde antes de a gente namorar que ele continua usando até hoje. Os assuntos são os mesmos, o jeito de falar, de perceber as coisas. Ele continua infeliz no mesmo emprego, morando com a mãe no mesmo apartamento, ouvindo as mesmas músicas e com as mesmas perspectivas de vida. Você não imagina a aflição que me dá quando eu vejo”, garante Carolina lembrando, entretanto, que pelo menos um tratamento para a calvície o rapaz conseguiu fazer nesse meio tempo. “Vai ver ele gosta tanto de ser do mesmo jeito sempre que nem com a evolução do corpo ele consegue lidar”, suspeita ela.
Mas, se Carolina percebeu de fora a “involução” do ex-namorado, a empresária Eliza Schindler sentiu o gosto amargo do mesmo processo dentro de casa. “Sempre achei que o bom do casamento era dividir com o outro as transformações, as conquistas e ver o amor sobrevivendo com essas modificações. Mas, de repente, me senti como numa corrida de Fórmula 1, saindo bem na frente do meu marido até pegá-lo como retardatário. Aí, eu me separei”, conta ela. Eliza e seu ex-marido se casaram com 24 anos e, segundo ela, durante os dez anos que passaram juntos, pouco ou quase nada evoluiu dentro da relação. “No começo, percebi que ele tinha um pouco de dificuldade com a rotina de casa e acho que a solução que ele encontrou pra isso foi se conformar, aceitar passivamente o ritmo que a relação poderia tomar. Por isso, ele acabou estacionando. Durante muito tempo, levamos assim. Mas meus objetivos na vida, no casamento, em tudo, foram se transformando e, que ótimo seria se ele tivesse acompanhado essa evolução, mas realmente não foi o que aconteceu”, afirma.
A terapeuta de casais Norma Emiliano explica que, antes de se queixar sobre a síndrome de estátua de qualquer marido ou namorado, é preciso entender que ninguém pode mudar ninguém. “Se não for interesse próprio, nenhuma pessoa se transforma. E se ela não soluciona um problema ou transpõe uma dificuldade é porque, por algum motivo, também não há impulso interno”, diz ela. Na opinião de Norma, essa é uma das maiores dificuldades dos relacionamentos modernos. “A gente encontra alguém, gosta dessa pessoa e acredita que pode resolver os defeitos dela. E não é assim. Interferências externas até existem, podem abrir os olhos da pessoa para as dificuldades dela, mas não são suficientes para comandar uma mudança. Além disso, é preciso saber que certas coisas que podem nos parecer problemas não geram insatisfação no outro. Se a pessoa supostamente não evolui, ela provavelmente é feliz da maneira que está”, encerra ela.