Óia o áio e o óio, aí, ó!!

Queria começar a coluna com alguma coisa que ribombasse, demonstrasse imenso contentamento. E encontrei essa, digamos, frase, um bordão do bloco carnavalesco “Mukiranas do Brás”, lançado em 97 (e que vem a ser uma das maiores frases do mundo sem consoantes). Acho que achei: a frase ribomba, mesmo! Claro que exagerei, forcei um pouco para chamar atenção. E consegui, né? Mas “…qualquer coisa é a mesma coisa, o que importa é o que interessa!” (mais uma dos Mukiranas).

O que interessa aqui, é o nosso júbilo e o orgulho crescente pela indústria nacional, por aquilo que nossos vitivinicultores vêm conseguindo: reconhecimento internacional e sucesso crescente no mercado interno. Justiça, enfim. O premiado no caso é a Adega Dal Pizzol Vinhos Finos (antes conhecida como Adega Monte Lemos), que acaba de receber quatro importantes prêmios internacionais: três primeiros lugares na Argentina e uma medalha de prata na Turquia. Conquistou agora em novembro a “Gran Medalla de Oro” e o “El Gran Premio Pais” para o seu Espumante Brut e “Medalla de Oro” para o Assemblage, num importante concurso em Mendoza, Argentina (grande produtor e quarto consumidor mundial de vinhos). Em outubro, o mesmo Espumante Brut emplacou uma Medalha de Prata, num concurso na Capadócia, Turquia, berço da cultura vitivinícula desde os primórdios da humanidade. Não custa nada lembrar que em março o Dal Pizzol Cabernet Sauvignon 99 recebeu menção honrosa no 34º Vinitaly Concurso Enológico Internacional 2000, em Verona, Itália, num certame apoiado pela Organização Internacional da Uva e do Vinho e da União Internacional de Enólogos.

Seu Antônio

Na coluna sobre espumantes e festas, já tinha dado uma dica do prêmio recebido pelo belo Espumante Dal Pizzol Brut e, um pouco antes, consegui uma pequena entrevista com Antônio Dal Pizzol, o homem que dirige a Adega desde a sua fundação, há 25 anos. Estava procurando alguém ligado ao mercado de vinho, mas menos marqueteiro, daqueles que só falam de vendas. Queria saber mais sobre a real qualidade de nossos vinhos. E encontrei no seu Antônio uma pessoa paciente e dedicada em fazer de seus vinhos produtos de qualidade, em vencer no mercado nacional por essa diferença. Daí que é um obstinado em só distribuir seus vinhos em casas que “possam cuidar bem dele”.

Você não vai encontrar um vinho Dal Pizzol num pé de chinelo, cozinhando em pé, numa prateleira qualquer de supermercado. Certo encontrá-lo em restaurantes mais finos, em lojas especializadas com adegas climatizadas e pessoal bem treinado na guarda e no serviço de vinhos. “Se a Dal Pizzol quisesse dobrar sua produção hoje conseguiria facilmente. Mas isso não vai acontecer, pois queremos que o produto dentro de nossas garrafas mantenha sua qualidade. Não vamos massificar, pois estaremos deseducando o consumidor. Vamos crescer gradativamente, colocando nosso produto em locais que respeitam o vinho tal como entendemos que ele deva ser respeitado”.

A Dal Pizzol tem realmente uma imagem mais seletiva, de butique de vinhos finos.

Conseguiu essa imagem com seus produtos. Daí seu Antônio perseguir o conceito de qualidade. “A cultura do consumidor brasileiro está evoluindo. Devemos contribuir para a melhoria dessa cultura. Vamos, produtores e consumidores, crescer juntos. Fazer o que todo mundo faz não é difícil (referindo-se à massificação desenfreada), mas talvez não seja o mais certo quando falamos de qualidade, de vinhos finos”.

Nacionais e importados

“Minha nossa!! Como tem carro importado por aqui…” Dizem que foi essa a exclamação de Jardel, ex-jogador do Grêmio ao chegar ao Japão. Antônio Dal Pizzol está animado com a presença mais constante do vinho na mesa dos brasileiros. O consumo vem aumentando muito nos últimos cinco anos. O mercado de vinhos finos anda pela casa dos seis milhões de garrafas (3.200.000 para os nacionais e 2.800.000 para os importados). Um Jardel já não se espantaria.

“As pessoas estão despertando para a cultura do vinho. O importado sempre esteve ao alcance do consumidor brasileiro, só que a preços muito altos, o que privilegiava somente algumas pessoas. A partir de 1992 e com grande força em 95, ele já estava à disposição de todos com preços acessíveis e até inacreditáveis.

Com isso, o mercado de vinhos nacionais enfrentou uma enorme batalha na conquista de seu espaço. Em 96, as importações baixaram consideravelmente devido a uma reação positiva dos vinhos brasileiros. Nossa qualidade aumentou, nosso vinho se valorizou e hoje compete lado a lado com os importados. O consumidor está aprendendo a comparar, falar sobre este ou aquele vinho. Inicia-se um período de renovação cultural. E vamos todos ganhar com isso”.

Degustando

Degustamos alguns vinhos com a assistência de seu Antônio. Seu Espumante Brut harmoniza três uvas: a Chardonnay, a Pinot Noir e a Sylvaner. É elaborado pelo método tradicional, aquele praticado há séculos em Champagne, França, onde a segunda fermentação é feita na garrafa. A produção é mais demorada, mas os resultados são compensadores. Um espumante seco, de cor amarela com reflexos esverdeados. Aroma lembrando frutas como pêssego maduro, amêndoas, bananas e toques de flores e pão tostado. Sabor persistente e equilibrado até a última bolha. Vai bem como aperitivo ou alegrando a sua festa, ou acompanhando uma larga faixa de pratos: peixes, aves, queijos, tortas e sobremesas em geral.

Vai bem do início ao fim.