Produção brasileira

por | jun 30, 2016 | Comportamento

O Vinography, criado por Alder Yarrow em 2004, é hoje o blog de vinhos mais lido do planeta. O crítico já ganhou o American Wine Blogger Award, o “Oscar” da categoria, e é figura eminente nos Simpósios Anuais de Escritores de Vinho, que se realizam na Califórnia.

E o que ele está fazendo nesta coluna? É que Alder foi recentemente convidado para experimentar vinhos brasileiros. Pelo que sei, foi o primeiro crítico de peso a se dedicar a uma degustação de nossos vinhos mais extensa. E escreveu sobre esta aventura. E no geral ele não gostou, confessa com tristeza. Mas saiu pra lá de bastante esperançoso com a nossa indústria.

Entendemos que o famoso e respeitado blogueiro americano saiu mais animado do que decepcionado com os nossos vinhos

Antes dessa degustação, Alder não sabia nada de nada sobre vinhos brasileiros. Nunca os havia provado, jamais lera sobre ou falara sobre o assunto.

Mas tinha noções de que produzíamos vinhos, que nossa história vitivinícola era tão antiga quanto a da Argentina e a do Chile. Sabia que graças à imigração, principalmente de italianos, iniciamos de verdade, lá por meados do século XIX, a verdadeira educação pelo vinho. Ficou sabendo também que a nossa indústria começou a se expandir e a investir seriamente na modernização a partir dos anos 60. Tomou conhecimento das nossas principais regiões vinícolas, a Serra Gaúcha e, agora, o Vale do São Francisco, com as suas duas safras anuais.

E com isso na cabeça Alder partiu para a degustação de vinhos brasileiros.

“Muitos dos sessenta e tantos vinhos que tive a oportunidade de experimentar nesse evento não eram muito bons. Mas havia alguns que eram decentes – decentes o bastante para provar que certamente é possível fazer vinho de qualidade no país. Se é possível ou não produzir em quantidade e preços que permitam ao Brasil conseguir um lugar no mercado internacional de exportação, não tenho informação para afirmar e, portanto, não estou qualificado a julgar”.

Ele diz que aqueles que procuram vinhos previsivelmente de grande qualidade devem evitar os vinhos brasileiros. “Mas aqueles que, como eu, estão dispostos a experimentar e a explorar irão sem dúvidas encontrar vinhos cada vez melhores da terra do Carnaval”.

Entendemos que o famoso e respeitado blogueiro americano saiu mais animado do que decepcionado com os nossos vinhos. Vamos ver o que ele experimentou e as suas notas (os preços, em dólares, são os registrados no varejo do país):

Vinhos entre 8,5 e 9 pontos: 2004 Casa Valduga Brut Premium, Espumante (US$ 17).

Vinhos com 8,5 pontos: Boscato Reserva Cabernet Sauvignon 2002. $40; Casa Valduga Premium Chardonnay 2006 ($15); Don Laurindo Gran Reserva Bordeaux Blend 2002 ($105); Don Laurindo Malbec 2005 ($45); Miolo Quinta Castas Portuguesas, tinto 2004 ($23); Salton Talento 2004, corte com tintos ($25); Salton Volpi Chardonnay 2006 ($13).

Vinhos entre 8 e 8,5 pontos: NV Mioranza Espumante Brut ($20); Mioranza Cabernet Sauvignon 2005 ($15); Salton Desejo 2004. blend de tintos ($29); Salton Flowers 2007 branco demi sec ($7).

Vinhos com 8 pontos: Boscato Cabernet Sauvignon 2005 ($21); Brazilian Soul Chardonnay 2006 ($9); Don Laurindo Cabernet Sauvignon 2005 ($35); Miolo Reserva Chardonnay. (2006) ($12); Miolo Reserva Merlot Terroir 2004 ($45); Mioranza Chardonnay 2006 ($15); Mioranza Merlot 2005 ($15); Mioranza Moscatel Sparkling Wine, Non Vintage ($18); Pizzato Concentus 2004 ($25); Pizzato Merlot 2004 ($15); Marson Espumante Brut, Non Vintage ($15).

Vinhos entre 7,5 e 8 pontos: NV (Aurora) Conde de Foucauld Moscatel Espumante, non vintage ($10); Casa Valduga Duetto Cabernet Sauvignon/Merlot 2004 ($14); Don Laurindo Merlot 2005 ($35); Espumante non vintage Georges Aubert Extra Brut ($16.50); Espumante Prosecco Georges Aubert Brut, non vintage ($12); Espumante Miolo Brut, non vintage ($15); Miolo Lote 43 2004, corte de tintos ($35); Pizzato Chardonnay 2007 ($15); Pizzato Fausto Cabernet Sauvignon 2005 ($11); Salton Volpi Cabernet Sauvignon 2005 ($13).

Vinhos com 7,5 pontos: Boscato Reserva Merlot 2005 ($25); Casa Valduga Cabernet Franc Premium 2004 ($14); Georges Aubert Moscatel, Espumante non vintage ($12); Famíglia Marson Chardonnay 2005 ($15); Marson “Gran Reserva” Cabernet Sauvignon 2002 ($15); Pizzato Cabernet Sauvignon 2004 ($15); Salton Volpi Merlot 2005 ($13).

Vinho com 7 pontos: Marson Vale da Ferradura 2006, corte de tintos ($10); Panceri Merlot 2005 ($6.50); Pisani e Panceri Cabernet Sauvignon 2004 ($18.50); Pizzato Merlot Rosé 2007 ($11).

Vinhos entre 6,5 e 7 pontos: Aurora Cellars Proprietary 2004, tinto ($11); Casa Valduga Gran Reserva Cabernet Sauvignon 2004 ($32); Georges Aubert Espumante Demi Sec, non vintage ($12); Miolo Reserva Pinot Noir 2006 ($12); Panceri Cabernet Sauvignon 2004 ($6.50).

Vinho com 6,5 pontos: Brazilian Soul Merlot 2005 ($9); Famiglia Marson Cabernet Sauvignon/Merlot 2002 ($15).

Vinhos com 6 pontos: Aurora Cellars Merlot 2004 ($11); Casa Valduga Merlot Premium 2004 ($15); Georges Aubert Cabernet Sauvignon 2005 ($17); Marson Reserva Merlot 2004 ($14); Brazilian Soul Cabernet Sauvignon 2005 ($9).

(Alguns vinhos têm seus nomes em Inglês – os mantive desse modo quando não consegui achar os nomes em Português nos sites das vinícolas).

O sistema de Alder. A escala utilizada por Alder Yarrow vai de 1 a 10, “muito mais simples do que a de 20 e 100 pontos, dominantes hoje no mundo dos vinhos”. Ele acha que a distinção entre um vinho com 89 e um com 90 pontos ou um 93 e um 94 não faz sentido.

Então, tirando uma média, nossos vinhos ficaram até que bem avaliados pelo blogueiro.

Por outro lado. Alder Yarrow ainda não foi apresentado, por exemplo, a alguns dos vinhos da lista do Johnattan Nossiter, outro americano, cineasta e também sommelier (é dele o documentário Mondovino”, de 2005, que sacudiu as estruturas do sistema de produção em massa dos vinhos e colocou na berlinda gente como o consultor Michel Rolland e o “imperador” Robert Parker). Nossiter mora no Rio, é casado com uma brasileira, tem filhos brasileiros e está se naturalizando.

Nossiter é um apaixonado pelo Brasil e por bons vinhos. E vinhos nacionais de grande qualidade é o que ele vem descobrindo para nós. Sua influência já pode ser sentida em alguns dos bons restaurantes cariocas.

Ele responde por cartas de vinho de casas respeitáveis, como a de Roberta Sudbrak e “Aprazível”, em Santa Tereza. Lá vamos encontrar o Vallontano Tannat, o Cave Ouvidor, o Dal Pizzol Ancellotta, o Quinta Ribeira do Mattos, o Don Abel Pinot Noir, o Vallontano Moscatel Espumante, entre muitos outros. Tenho certeza que quando o Aldo os conhecer, ampliar o seu conhecimento dos nossos vinhos, viajará logo para cá e enriquecerá as suas impressões.

Para mim, o que se destaca na degustação do Alder é o esforço em promover nossos vinhos no importante mercado norte-americano. E foram felizes em conseguir a presença desse importante crítico. Tenho certeza de que hoje milhares de entusiastas por vinhos, leitores de Alder Yarrow, já estão de olho em nossas garrafas. Isso vale mais que qualquer pontuação.

Pois faça como o Alder e o Nossiter, amiga: não deixe de experimentar os nossos vinhos. E depois conte faça a sua avaliação para o Bolsa ou para a Soninha no soniamelier@terra.com.br.

Da Adega. Não percam o Festival Grandjó Late Harvest que começa agora, dia 5, e vai até 31 de outubro. Será realizado em 14 dos melhores restaurantes cariocas e incluirá receitas exclusivas de foie gras e de sobremesas, opções ideais para harmonizar com o Grandjó Late Harvest. A promoção é da importadora Barrinhas.

O Late Harvest é elaborado a partir de uvas semillon botritizadas – ou seja, uvas atacadas pela Botrytis cinerea, um fungo que se forma na casca das uvas, penetra na fruta e retira toda a sua água, mas deixando o açúcar e os componentes de sabores e aromas. Os enólogos do Grandjó destacam os aromas intensos de damasco seco, passas, mel e uma nota de madeira oriunda da maturação em barris de carvalho.

Os restaurantes são: Antiquarius (Leblon, 2294-1049), Bazzar (Ipanema, 3202-2884), Carême Bistrô (Botafogo, 2537-2274), Carlota (Leblon, 2540-6821), Eça (Centro, 2524-2399), Esplanada Grill (Ipanema, 2512-2970), Garcia & Rodrigues (Leblon, 3206-4100), La Sagrada Família (Centro, 2252-2240), Le Pré Catelan (Leme, 2525-1232), O Navegador (Centro, 2262-6037), Quadrifoglio (Jardim Botânico, 2294-1433), Quadrucci (Leblon, 2512-4551), Vizta (Leblon, 2171-1000) e Zuka (Leblon, 3205-7154).

Cada um destes restaurantes oferecerá a sua receita de foie e de sobremesa.

Amigas: este Festival é muito mais que um curso completo sobre as maravilhosas possibilidades dos vinhos doces. Conhecer vinhos, na verdade, é não parar de experimentá-los. Você terá de 5 a 31 de outubro para não só conhecer esse Late Harvest, mas também como aprender a harmonizá-lo de 14 diferentes e deliciosas maneiras, seja com um pouco de sal ou com um pouco de doce. Não percam.

Mais informações com a Marina Ivo (pelo 3478-7413 ou 8272-2335).