Pula a fogueira!

Olha a chuva… É mentira! Quadrilha, bandeirinhas coloridas, pescaria, canjica, quentão… e aquela fogueira que vem bem a calhar neste friozinho de início de inverno. São poucos os que resistem a uma boa festa junina. São poucos, também, os que sabem de onde vem essa tradição. E você? Conhece as verdadeiras origens dessa festa tão conhecida?

No Brasil, celebra-se em junho alguns importantes santos católicos; entre eles, Santo Antônio (no dia 13), São João (dia 24) e São Pedro (dia 29). Mas, por incrível que possa parecer, a origem dos festejos não tem nada de cristão. Historicamente, as mais antigas comemorações ao redor da fogueira eram pagãs e celebravam o solstício de verão na Europa. A oferta de comidas e bebidas, o fogo e a dança eram usados para afastar espíritos malignos e homenagear Juno, a deusa romana da fertilidade, para que as colheitas fossem sempre boas.

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Como a tradição já estava bem enraizada nos povos desde o século VII, a igreja Católica resolveu adaptar os costumes pagãos às comemorações do dia de São João, que teria nascido próximo ao início do verão europeu. Assim, surgiram as festas joaninas, que até hoje são realizadas em alguns países europeus católicos, protestantes e ortodoxos, como Portugal, Suécia, França, Rússia e Polônia. Foram os portugueses, durante o período colonial, que trouxeram este tipo de evento para o Brasil – embora os índios já fizessem rituais relacionados à agricultura por aqui também. E como somos um povo conhecido pela mistura cultural, logo incorporamos diversos elementos tupiniquins às festas juninas.

Apesar de ter sido importada da Europa, sabemos que a festa de São João brasileira é típica da região Nordeste. Lá, por causa do clima árido, é costume agradecer anualmente a São João e a São Pedro pelas chuvas caídas nas lavouras. E como o mês de junho é propício para a colheita do milho, é este o ingrediente principal de boa parte das comidas tradicionais da festa – canjica, pamonha, cural, milho cozido, cuscuz, bolo de milho… Hummm!

Falando de nordeste, a animação das festas de Campina Grande, na Paraíba, e de Caruaru, em Pernambuco, por exemplo, é famosíssima. Não por acaso, elas são denominadas “o maior São João do mundo” e o “o melhor São João do Brasil”. E se a intenção é curtir um bom forró, a alternativa certa é a festa de São Luis do Maranhão, que mistura bumba-meu-boi e instrumentos tradicionais, como a matraca. Vale a pena conferir…

O fogo

As fogueiras juninas também surgiram na Europa e faziam parte do ritual pagão do solstício de verão. Há, também, uma versão cristã explicando o seu emprego: segundo a Bíblia, a prima de Maria, Isabel, acendeu uma fogueira sobre um monte para avisar sobre o nascimento de seu filho, São João Batista. O uso de fogos de artifício e balões está relacionado com a fogueira e seus efeitos visuais. Segundo a tradição popular, eles serviriam também para “despertar” São João. Mas vale lembrar que os balões estão proibidos, pois podem causar incêndios e acidentes gravíssimos!

O ambiente

O local em que são celebradas as festas é chamado de arraial – geralmente um espaço amplo, ao ar livre, decorado com bandeirinhas e balões de papel colorido, onde se acumulam as barraquinhas de comidas, bebidas e brincadeiras. E é lá que acontecem as quadrilhas e as encenações de casamento matuto. As pessoas se vestem como caipiras (um jeito estilizado e exagerado de representar o homem da roça), com camisas xadrez, calças com remendos coloridos, chapéus de palha e maquiagem característica. Aliás, se você ainda não sabe como ir a uma festa junina sem parecer deslocada ou over demais, invista no meio termo: tire aquele jeans meio rasgadinho do armário e improvise com qualquer blusa xadrez bonitinha. Faça uma maria-chiquinha baixa no cabelo, amarre um lenço no pescoço, coloque uma bota e pronto. Divirta-se!

A quadrilha

E o que mais não pode faltar numa festa junina? A quadrilha, é claro! Se você não tem idéia de onde essa tradição surgiu, saiba que ela também nasceu na Europa, originada de uma dança de salão chamada quadrille, em voga na França entre o início do século XIX e a Primeira Guerra Mundial. Alguns movimentos da dança francesa permanecem até hoje na nossa quadrilha, como aquele em que os cavalheiros devem cumprimentar as damas.

A quadrille veio para o Brasil no século XIX, por influência das elites da época que se interessavam em importar tudo o que fosse sofisticado e seguisse a moda e tendências de Paris. Mas aqui, é claro, o costume acabou ganhando uma versão mais característica. A quadrilha foi se popularizando e se fundindo com ritmos e danças brasileiras, evoluindo aos poucos para o que conhecemos hoje. Longe de se tornar apenas um capricho da burguesia, ela acabou tomando o caminho da roça (literalmente), ganhando mais força nas regiões rurais – o que resultou, por exemplo, no vestuário “caipira” usado até hoje.

Junto com a quadrilha, é comum haver a encenação de um casamento fictício, tradição também herdada das festas de São João européias, que costumam comemorar uniões matrimoniais.