Seu conceito do que é bonito muda após 15 minutos olhando uma foto, e isso é perigoso

A superexploração dos corpos magros pela indústria da moda e publicitária moldaram o conceito de beleza nas últimas décadas. Com o propósito de tornar a imagem feminina cada vez mais comercial, adotou-se que as divergências não seriam valorizadas, e sim somente o que fosse padrão. Assim, criou o estigma-se de que o ” corpo ideal” deve ser magro e esguio.

Não há nenhum problema em ser magra. Os danos – psicológicos e físicos – existem quando se impõe que somente corpos magros são considerados bonitos e desejáveis. E, de acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade de Neuchâtel, na Suíça, bastam 15 minutos de exposição a este padrão para que o nosso conceito de beleza seja influenciado.

Influência do padrão de beleza

De acordo com o psiquiatra Mario Louzã, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, isso acontece devido às referências sociais e culturais que moldam os conceitos de um determinado povo, segundo seus ideais.

“Esses aspectos criam uma pressão para que todas as mulheres sejam magras como ‘top models’. Nos últimos anos, este tipo de pressão tem atingido também os homens, que passaram também a ser mais cobrados em relação à aparência física e expectativa de certas características tidas como ideais”, explica o especialista.

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Ideal de corpo e beleza é moldado

Com o objetivo de investigar se o corpo ‘ideal’ presente no subjetivo do ser humano é realmente magro e padronizado, como os que são explorados pela mídia, os cientistas da Universidade de Neuchâtel desenvolveram um estudo observacional com moradores de aldeias rurais sem acesso à energia elétrica.

O propósito era buscar pessoas que possuíssem conceitos “puros” de beleza e corpo, sem influências dos modelos divulgados em revistas, televisão ou internet.

Ao todo, foram reunidos 80 voluntários, entre homens e mulheres de 16 a 78 anos. Com um software de desenho que permitia desenhar mulheres de todas as formas e tamanho, foi pedido que criassem o que consideraram o corpo ideal.

Metade dos participantes receberam imagens de modelos magras (corpo tamanho 36) e a outra parte, de mulheres gordas (tamanho 46). Eles tiveram que observar as fotos por 15 minutos. 

Novamente, lhes foi pedido que desenhassem o corpo ideal. Eis que os participantes que viram imagens de mulheres magras criaram corpos ideais que eram mais finos do que as primeiras mulheres que criavam.

Por outro lado, os participantes que analisaram fotos de modelos gordas, enquanto isso, criavam desenhos de mulheres em tamanho maior do que da primeira vez.

Isso mostra que o conceito de beleza é construído e influenciado pelas referências de um determinado grupo. Apesar de não ser possível determinar se esses efeitos são eficazes a longo prazo, a exposição constante – como a feita pela publicidade e indústria da moda – pode reforçar modelos e transtornos de imagem em mulheres, distorcendo o modo como enxergam seu corpo ou o que acham bonito.

Transtorno de imagem: como identificar?

Estima-se que cerca de 2% da população global sofram com transtorno de imagem. No Brasil, esse índice representaria 4 milhões de pessoas. A doença tem traços de compulsão, naturalmente percebidos pelos pacientes, mas dificilmente identificados por familiares e amigos. 

Os transtornos de imagem corporal são identificados pela discrepância entre a queixa da pessoa e o que é observado durante o exame médico. “Uma pessoa pode dizer que está ‘gorda’ embora na avaliação seja possível perceber que está, de fato, magérrima”, afirma Louzã.

De acordo com o especialista, a pessoa que sofre com transtorno de imagem apresenta vários sinais que podem identificar o problema. Algumas características são olhar frequentemente no espelho, ficar avaliando repetidamente sua forma física, checar com outras pessoas se aquele ‘defeito’ prejudica sua aparência, comparar-se com os outros e tentar modificar o que os incomoda com tratamentos dermatológicos  e cirurgias plásticas.

É bastante comum, no caso de pessoas que se acham mais gordas do que são, ficarem perguntando para os outros se estão “tão gordas como fulano ou ciclano”. “Fundamentalmente, elas chamam atenção pela preocupação obsessiva com esse pequeno detalhe de sua aparência e pelos comportamentos para contornar o ‘problema'”,diz o psiquiatra. 

Como os demais transtornos psicológicos, o de imagem vem relacionado com outros distúrbios. Cerca de 90% dos doentes sofrem de depressão; 48% abusam de bebidas alcoólicas; e 32% sofrem de anorexia ou bulimia.

Distúrbios alimentares