Treinamento para habilitados: como funcionam as aulas para quem tem medo de dirigir

Quase todo mundo conhece alguém que fez todas as aulas práticas, tirou a CNH e depois descobriu que têm medo de dirigir. Isso acontece porque dirigir sozinha, sem o instrutor e em ruas mais movimentadas do que as das aulas da autoescola pode ser bem diferente. Na tentativa de preencher esse vazio entre o ideal e o real, surgiram os centros para motoristas habilitados.

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Para descobrir como funcionam essas aulas, eu, Marina Lopes, jornalista de 23 anos e habilitada há quatro, fui ao centro de treinamento Mulheres no Trânsito. Morro de medo de dirigir e só de pensar em assumir o volante meu coração dispara.

Quando cheguei, a instrutora Dayane Ribeiro dirigiu até um lugar tranquilo e perguntou sobre o histórico da minha carta. Tirei em 2011, mas quando peguei meu carro fiquei totalmente insegura e guiei duas ou três vezes. No fim de 2013, procurei uma autoescola convencional para fazer aulas para habilitados. Na última, entrei em pânico em uma curva e larguei tudo: pedais e volante. O instrutor deu um grito comigo e piorou a situação. Percebi que minha tentativa não tinha dado muito certo e nunca mais dirigi.

“Eu sei que a vontade de muitas vezes é largar o carro e sair correndo, é a insegurança. As mulheres são muito cuidadosas e a maior dificuldade de quem chega aqui é o medo, e não a prática. O maior medo delas é errar, bater, causar um acidente. O medo trava, dá branco”, explica a profissional. 

A primeira aula é simples, com muita conversa para que ela conheça a aluna e reconheça seus traumas – o meu é a ladeira. Depois, assumo o volante e coloco em prática os comandos básicos: embreagem, primeira, segunda, freio e assim por diante. Dirijo por algumas ruas cheias de subidas, descidas e cruzamentos.

Ela buscou me tranquilizar o caminho inteiro: “Relaxa, tá muito tensa! Não adianta nada agarrar o volante desse jeito”. Me deu várias dicas bacanas, como “Foca no retrovisor lateral! Nesse do meio você não vai ver o motoqueiro vindo” , me ajudou a dominar o ponto da embreagem e me incentivou muito, principalmente na hora de sair das ladeiras: “Tá vendo o carro tremer? Você achou o ponto certo, agora o carro não volta e não morre”. Tirei o pé do freio, acelerei, soltei a embreagem e deu tudo certo, foi lindo!

Mas, se o problema é a insegurança, é preciso recorrer à ajuda profissional. Por isso, alguns centros de treinamento para habilitados oferecem acompanhamento psicológico paralelamente às aulas. “Você faz uma sessão com a psicóloga antes de começar as aulas, durante e depois. Ela identifica suas principais barreiras e acompanha a sua evolução. Às vezes ela chama a gente durante a sessão para sugerir um jeito melhor de fazer as coisas e assim a gente vai vencendo o medo”. 

Conforme a aluna se desenvolve, o grau de dificuldade aumenta. Trânsito intenso, baliza, estacionamento de mercado, avenidas e assim por diante. Quem quiser pode fazer algumas aulas no próprio carro, pode ir sozinha na frente com a instrutora seguindo. Vale tudo nessa luta.

O ideal é procurar uma escola em que você se sinta à vontade e, principalmente, que tenha profissionais realmente preparados para lidar com o seu caso. Hoje vejo que aquele instrutor que perdeu a cabeça quando me desesperei no trânsito não era a pessoa certa para ajudar alguém com medo de dirigir. Afinal, eu sei guiar, o que eu precisava era aprender a vencer o medo.