O cenário é tradicionalmente masculino. O vaivém constante de carros e a poeira de beira de estrada impedem que qualquer limpeza consiga dar conta. Os serviços de abastecimento e troca de óleo são a razão da existência de um posto de gasolina, o que favorece a ideia de um ambiente demasiado hostil para a sutileza de uma mulher. Mas só aparentemente. A vida de um posto de gasolina pode ir muito além do óleo e da graxa. E o toque feminino consegue transformar qualquer robustez em estilo.
Definitivamente mulher não combina com sujeira. O radar para detectar o que está fora do eixo é um talento da ala. “Acostumar com a sujeira, a gente nunca acostuma. A mulher, por natureza, é mais detalhista, se preocupa mais com isso”, destaca a proprietária Maria de Fatima Marques, revendedora Petrobras do Marques Peter Auto Posto, no Rio de Janeiro. Segundo ela, o segredo da limpeza está nos detalhes.
E foram esses detalhes que mudaram a imagem do posto de Elisabete Hafner, revendedora Petrobras do Posto Jurema, no bairro da Tijuca, também no Rio de Janeiro. “Uniformes limpos, frentistas bem barbeados, limpeza cuidadosa da bomba de combustível e flanelas novas são obrigatórios. O atendimento e o visual são tudo por aqui”, destaca. A proprietária adotou uma filosofia para transformar a imagem do seu ambiente de trabalho. “Costumo frisar para os meus funcionários que eles são as estrelas do estabelecimento. Não adianta eu ter a gasolina se eles não atenderem bem os clientes”, diz.
O fato é que não é fácil mudar completamente uma mentalidade. As proprietárias confessam que, no princípio, havia uma grande dificuldade de os seus profissionais aceitarem vê-las à frente da administração de um negócio tão masculinizado. “Não é fácil mudar os hábitos das pessoas, principalmente os dos homens. Você tem que se impor para conseguir colocar em prática os seus planejamentos”, pontua. Maria de Fátima corrobora: “É complicado trabalhar com homem, sobretudo frentistas e encarregados. Muitos deles não aceitam ser gerenciados por uma mulher. A gente tem que provar que está ali para agregar”.
No comando do posto desde 2003, Elisabete lembra como suou a camisa para conseguir o respeito de seus colegas. Ela, que atuava no ramo de turismo, teve que aprender uma nova forma de relacionamento no trabalho. “Tive que ser bastante dura no início. Mas, quando chegava em casa, eu chorava e pensava: ‘Meu Deus, não vou conseguir domar esses homens'”. Com o passar do tempo, ela afirma ter se adaptado ao meio. “Todo mundo passa por isso. Procuro ser sempre firme nas decisões e humana no tratamento”, confidencia.
Toque feminino
Mais à vontade e com o respeito conquistado, a proprietária dá alguns toques tipicamente femininos capazes de ganhar a simpatia do consumidor. “Eu sempre enfeito o posto em ocasiões especiais, como o Natal, por exemplo. Chama a atenção e já até virou uma tradição aqui no bairro. As pessoas passam e perguntam quando vai começar a arrumação. É um posto temático“, orgulha-se. Os funcionários entram no clima e participam ativamente da decoração, dando um novo ânimo ao ambiente de trabalho. Além da celebração natalina, o estabelecimento já ganhou ornamentação para a Páscoa, festas juninas e até para Copas do Mundo.
O cheiro da gasolina ainda é o maior vilão. Agradável para uns e insuportável para a maioria, o odor forte, para Maria de Fátima, virou caso clínico. “Eu nunca me acostumo com esse cheiro porque tenho alergia. É um desespero”, admite ela, que desde pequena vive nessa rotina, já que seu pai também tem um posto. Este desconforto não a impede de colocar a mão na massa quando necessário. “Não tenho nenhuma frescura. Se tiver que ir na troca de óleo ou botar a mão na bomba para abastecer, eu faço”, assegura.
E onde fica a vaidade? Segundo Elisabete, não se pode destoar do todo, portanto, nada de exageros. ‘Não adianta botar um salto alto e ir para a pista colocar combustível. No trabalho coloco minha maquiagem, mas procuro manter um visual mais neutro”, conta. Já Maria de Fátima revela uma preocupação maior com os cabelos, em função da química forte dos combustíveis. “Eu exagero no condicionador com muito filtro solar”, dá a dica. A proprietária do posto Marques Peter afirma que não tem muitos problemas com o cheiro da gasolina e garante que uma hidratação simples é suficiente para manter os fios leves e cheirosos.