Para refletir sobre o Dia das Trabalhadoras Domésticas, o telejornal “Bahia Meio Dia”, da afiliada da TV Globo em Salvador, exibiu uma matéria revoltante sobre trabalho análogo à escravidão que ainda existe no Brasil, na última quarta-feira (27).
No momento mais doloroso da reportagem, uma das vítimas diz que sente medo de pegar na mão da repórter, Adriana Oliveira, por causa da diferença de suas peles.
Nas redes sociais, telespectadores compartilharam pesar, indignação e crítica social.
Trabalho escravo na Bahia
Segundo a reportagem, 13 mulheres já foram resgastadas por fiscais do Ministério Público do Trabalho desde 2021. Elas trabalhavam sem receber salário, proibidas de sair e sofrendo constantes ameaças – muitas delas, desde criança.
Atualmente, apenas 15% das empregadas domésticas são oficialmente registradas na Bahia. Leda Lúcia dos Santos foi uma das entrevistadas. Quando questionada pela repórter sobre o seu direito de receber salário, ela foi enfática. “Eu não sabia desse detalhe”, disse.
História de Madalena
Já na cidade de Lauro de Freitas, a repórter foi recebida por Madalena na casa em que vive de aluguel desde março, quando foi resgatada.
Ela começou a trabalhar como empregada doméstica aos oito anos de idade para uma família, em condições análogas à escravidão. Além dos mau-tratos e ofensas racistas, Madalena ainda era roubada pela filha dos patrões.
Apesar de hoje receber seguro-desemprego e um salário mínimo do governo, a senhora de 62 anos convive diariamente com os traumas adquiridos durante a exploração. “Fico com receio de pegar na sua mão branca”, disse Madalena à repórter, na mesa com um café preparado por ela.
A justificativa, de acordo com ela, é ser “feia” a diferença entre as duas. “Eu vejo sua mão branca, vejo a minha, e, se ‘boto’ em cima, acho feio isso”, lamentou Madalena, com lágrimas nos olhos.
https://www.instagram.com/p/Cc3sgmrgbv1/
Repercussão na web
Adriana admitiu que, em 27 anos de profissão, o encontro com Madalena foi um dos momentos mais emocionantes da carreira. Ela, que tentou mostrar à senhora que é possível abraçar uma nova vida, também aproveitou o Instagram para desabafar.
“Estarrecedor. Inacreditável. Inaceitável. Violência brutal. Seria interminável a lista do que fizeram com Dona Madalena”, escreveu.
https://www.instagram.com/p/Cc3pEvyuDi6/
Diversas outras personalidades influentes na luta antirracista se pronunciaram nas redes, além de um questionamento que também esteve em alta entre os internautas: segundo eles, diante de uma situação tão sensível, a repórter escolhida deveria ser negra.
Veja abaixo alguns comentários:
Uma opinião sobre a Dona Madalena: Era pra ser outra repórter. Óbvio que não dá pra imaginar que ela falaria aquilo, mas pela situação vivida, o ideal era ter posto uma repórter negra. Tanto pelo “conforto” da Dona Madalena, qnt pela sensibilidade que um igual teria!
— LU.MA (@luhcarvalho0) April 28, 2022
Muito doloroso de assistir o vídeo de Dona Madalena, uma mulher negra, com medo de segurar na mão da repórter branca por ter sido escravizada por 54 anos
E ainda há quem duvide que esse é um país racista
— alexandre (@Iexandre) April 28, 2022
Porque a equipe do ba meio dia não colocou uma repórter negra pra entrevistar Dona Madalena? Pq ao invés de fotos da família da equipe ,não mostraram um negro na equipe ? Questões…..
— Nadine (@NadineMoota) April 28, 2022
Sem palavras! Mais um caso de uma senhora trabalhadora doméstica que vivia em situação análoga à escravidão. Dona Madalena passou 50 dos seus 60 anos sem salários, roubada e vítima de maus tratos. Não consigo nem compartilhar o vídeo que está circulando!https://t.co/0zMy3257tb
— Thais Ferreira (@southaferreira) April 29, 2022
Meu coração dói tanto de ver esse vídeo de dona Madalena como que pode existir isso ainda Deus
— Gustavo (@GustavoSorje) April 28, 2022
Mais uma mulher negra resgatada de trabalho escravo. São tantas dores num só recorte que é impossível não chorar assistindo como o racismo foi cruel com essa mulher. Desejo à Dona Madalena liberdade, justiça e reparação. Você está livre e não descasaremos até todas estarem!
— Renata Souza (@renatasouzario) April 29, 2022
Que nó na garganta ao ver esse vídeo da Dona Madalena, é inadmissível que em pleno 2022 ainda ocorra isso em nossa sociedade.
— Douglas Pereira (@uaiteve) April 29, 2022