1- O que acha da alimentação atual da criança e do adolescente?
2- O que pode melhorar?
3- O que é difícil de modificar?
Respostas da pediatra e clínica de adolescentes Dra. Evelyn Eisenstein, doutora em Nutrição e autora do livro “Saúde, Vida e Alegria”, Ed. Artemídia.
1- A diferença entre a alimentação de hoje em dia e a de antigamente é que antes tínhamos falta de alimento e de informação, atualmente temos os dois, mas existe falta de tempo para digeri-los. As famílias se tornaram extremamente dinâmicas com os pais trabalhando e a alimentação das crianças e adolescentes ficando relegadas a um segundo plano. Elas fazem uma refeição no meio de uma atividade, geralmente no horário da televisão. Com isso se perdeu o costume tradicional de fazer uma refeição familiar onde todos sentavam e conversavam a mesa agradavelmente. Hoje em dia quando conseguem sentar existem conflitos ou então a família come fora, procurando cadeias de alimentos de lanches rápidos. Assim a criança perdeu o modelo referencial de uma refeição saudável. Então, as refeições estão muito açucaradas ou salgados ou gordurosas. Tanto é que já existe epidemia de obesidade em países como os Estados Unidos. No Brasil temos quase em igual número a população menos favorecida desnutrida e a população mais favorecida com crianças e adolescentes com obesidade ou sobrepeso. Gostaria de falar sobre a dúvida se comer bem é igual a comer muito. A alimentação não é só quantidade, é qualidade principalmente. Isto tem a ver com os hábitos que estabelecemos, pois as crianças tem o hábito, muitas vezes, de pular alguma refeição. Isto não é correto. O ideal é fazer duas refeições e dois lanches rápidos, não necessariamente comer muito, mas adequadamente para as suas necessidades de crescimento.
2- Os hábitos alimentares da população, de uma maneira geral, podem melhorar, principalmente para as criança voltarem a ter de novo referencial do que é saúde. Atualmente elas acham, por exemplo, que batata frita, chetoos ou cachorro-quente da esquina, são sinônimo de saúde. Até por esses alimentos serem mais acessíveis, ganham a criança ou adolescente pelo paladar, pelo prazer de comer fora. No entanto a criança tem que aprender, justamente, a escolher a comida, sempre balanceando as proteínas, as gorduras, os carboidratos e as vitaminas. Outra aspecto que pode melhorar é a ingestão de água, sucos e leite. Nós vivemos em um país tropical e esquecemos do cuidado de beber líquidos sempre para não desidratarmos. A volta do hábito da refeição conjunta, um momento que eles teriam de convívio familiar saudável, também seria uma boa melhora. Também existe a possibilidade de crianças e adolescentes aprenderem a fazer o seu próprio alimento, então eles podem e até devem participar da cozinha, este lugar, tomando-se os cuidados necessários, não precisa ser só da cozinheira, da tia, da mãe ou da avó,. Eles podem perfeitamente aprender a fazer um sanduíche, uma vitamina, desenvolver uma alimentação mais acessível e preparar os alimentos a seu gosto.
3- O que acho difícil de modificar é o hábito patológico e comercial da nossa sociedade, então temos um grupo de pessoas querendo emagrecer e outro querendo engordar. O comércio vai em cima disso, então temos medicamentos para quem deseja emagrecer e para quem quer engordar. Um dos grandes perigos atualmente são os anabolizantes. Qualquer academia de ginástica, balé ou esporte receita, dietas e bolinhas mágicas. A vigilância sanitária deveria estar atenta a este fato, inclusive proibindo esta prática. Os efeitos são muito prejudiciais à saúde, principalmente na fase de crescimento e desenvolvimento das crianças. Elas são muito influenciadas pelos comerciais de TV e você nunca assiste um anúncio de laranjada ou de leite.
Respostas da nutricionista e professora de pós-gradução em Nutrição Clínica e Nutrologia da Santa Casa,
Simone Cortês Coelho.
1- Considero que melhorou muito hoje em dia, principalmente para as crianças e adolescentes que dependem dos pais para escolher o que vão comer dentro de casa ou levar de merenda para a escola. Os pais estão mais conscientes sobre o que é uma boa alimentação, então buscam comprar comida mais saudáveis. Com isto, instruem os filhos para que se alimentem melhor. Muitas vezes elas levam uma fruta, acompanhada de um toddynho, um leitinho ou de sucos de caixa para o lanche da escola. Com o adolescente, porém, é mais difícil, por causa da vergonha de levar merenda para a escola. Eles preferem comprar algo na cantina, mesmo os das classes menos favorecidas. Essa é uma dificuldade porque temos que contar com terceiros: as cantinas. Eles querem comer o que está na moda, o que ele acha que é legal e nem sempre é o mais recomendado. Hoje alguns procuram alimentos de melhor qualidade, com essa moda de esporte e vida saudável, mas ainda existe o que chamamos de lanches de calorias vazias.
2- Os meios de comunicação poderiam ajudar a conscientizar melhor a população sobre a importância de uma alimentação correta. Os comerciantes de alimentos não deviam pensar só no lucro que vão obter, deveriam tentar oferecer produtos, principalmente em suas cantinas e nas saídas das escolas, que tivessem também valor nutritivo. Obviamente as crianças e adolescentes não devem ser proibidos de freqüentar as cadeias de fast food, mas têm que saber a hora de ir. É saber administrar o horário que estes alimentos devem ser ingeridos, para não atrapalhar o almoço ou jantar. A criança está chorando então se dá uma bala e isto não é um hábito saudável. Melhor esperar o fim de semana para que esta alimentação rotulada de besteira não faça parte da vida diária de uma criança e/ou adolescente.
3- Eu acho que quando queremos nada é difícil. Noto, tanto no consultório como no hospital da Santa Casa, no qual trabalho, que se você se esmerar consegue modificar e atingir aquilo que você está propondo. Claro que é necessário um esforço. Atendo crianças de cinco ou seis anos obesas mesmo. Para explicar para elas que o que estão comendo como o sorvete, a bala e o biscoito em grande quantidade, não é bom, devem ser evitados, não é fácil, mas você consegue resultados. É preciso um bom profissional para orientar e que este seja bem convincente na sua orientação dos pais, ás vezes das avós e empregadas. Já com o adolescente requer saber falar na linguagem dele. Com ele, se radicalizar, você não obtém nenhum resultado. Quer dizer: é melhor você trocar um recheio de um sanduíche do que tira-lo totalmente. Não acho que tenha nada na realidade difícil de modificar. Apenas dá trabalho.