Quando o assunto é alimentação, todo – mas todo mesmo – cuidado é pouco. Além de mantermos uma dieta equilibrada, rica em fibras, vitaminas e minerais e pobre em gorduras, temos ainda que prezar pelo manuseio e conservação dos alimentos. Isso porque um simples descuido pode fazer com que seres microscópicos contaminem a comida, nos causando, no mínimo, muita dor de barriga. Bactérias, vírus e fungos estão presentes em toda parte e, muitas vezes, somos nós mesmos os responsáveis pela sua proliferação.
Mal invisível
É uma maionese passada, um doce com o creme azedo, um macarrão que ficou fora da geladeira e você comeu. O menor descuido pode ser motivo de uma intoxicação alimentar, causada por microorganismos. Um dos mais conhecidos é a salmonella. Presente em alimentos como carne crua bovina, ovos, leite e derivados, peixes, carne de rã e sobremesas cobertas com creme, essa bactéria pode causar vários desconfortos. “A contaminação pode ocorrer por causa da manipulação e da exposição do alimento em temperaturas inadequadas. Com isso, a pessoa pode apresentar problemas como diarréia, náusea, dor abdominal, febre e calafrios em alguns casos”, afirma Janaína Nascimento, microbiologista do Cefet-Química, no Rio de Janeiro. Existe ainda uma variante dessa bactéria que causa a febre tifóide e pode levar à morte.
Agente contaminador: o homem
O nosso corpo é um dos maiores veiculadores de doenças. O Staphylococcus aureus, por exemplo, está presente normalmente na pele e no trato respiratório de cerca de 50% dos indivíduos saudáveis. Portanto, fique também muito atento às condições de higiene de quem vai manipular os alimentos. “As bactérias causam intoxicações devido à produção de toxinas, que são resistentes ao calor (cozimento comum)”, explica Janaína.
Outra bactéria muito comum é a Escherichia coli, o famoso coliforme fecal. A contaminação também ocorre por causa da temperatura inadequada e pela manipulação. Mas o principal agente contaminador – no caso dessa bactéria, encontrada nas fezes de humanos e animais – é a água. No entanto, os sintomas são os mesmos: vômitos, febre e diarréia.
Fungos
Geralmente os fungos contaminam alimentos que ficam expostos à umidade e ao aumento de temperatura. São encontrados no pão ( Aspergillus, Penicillium e Rhizopus) e em geléias, xaropes e mel ( Saccharomyces), deixando esses alimentos bem turvos. “Vários fungos produzem toxinas chamadas microtoxinas, que apresentam sintomas parecidos com aqueles apresentados pelas toxinas produzidas por Staphylococcus“, revela a microbiologista Janaína Nascimento.
Vírus nos alimentos
Os principais microorganismos que contaminam alimentos são as bactérias e fungos. Mas os vírus, como o da hepatite A, também podem estar presentes em frutas e vegetais crus, que foram cultivados em áreas contaminadas com esgoto.
Dos males, o menor: a dor de barriga
O menor dos males causados pela intoxicação ou infecção dos alimentos
é a diarréia, que causa desidratação, principalmente em crianças e idosos. O tratamento pode ser feito por alguns tipos de probióticos, que não possuem contra-indicação. Mas, o mais importante é procurar um médico para saber qual o tratamento indicado para cada caso.
Os cuidados
As frutas e verduras devem ser muito bem higienizadas. Frutas com cascas mais grossas podem ser lavadas com esponja e algumas gotas de detergente. As de casca mais fina podem ficar de molho em água com um pouco de vinagre durante meia hora. O pH ácido do vinagre ajuda a matar as bactérias. Uma alternativa para as verduras é colocar uma colher de sopa de água sanitária em um litro de água e deixar de molho por apenas dez minutos. Depois, enxágüe bem.
Armazenamento
Esses alimentos nunca devem ser lavados antes de irem para a geladeira, já que podem acumular água, meio perfeito para a multiplicação de microorganismos que existem no refrigerador. O mesmo acontece com os ovos por causa da porosidade da casca. “É claro que às vezes os ovos estão muito sujos. Nesse caso, é melhor lavá-los para que eles não contaminem outros alimentos”, afirma a microbiologista Janaína Nascimento. O mesmo cuidado deve ser feito com qualquer embalagem ou pacote – lave-os em água e sabão antes de ir para a geladeira.
Os doces também são meios de proliferação de bactérias. Elas se desenvolvem na presença do açúcar. As compotas de frutas e doces mais secos como a paçoca são mais resistentes e podem ficar mais tempo fora da geladeira. Queijos e frios têm prazo de validade de apenas três dias, pois eles têm alta carga bacteriana.
Do quente para o frio
Deixar para guardar depois o almoço é um grande erro. Os alimentos só duram duas horas fora da geladeira. Depois disso, a contaminação é muito grande e a comida já não serve mais. “As pessoas têm medo de estragar a geladeira colocando comida quente nela. Não tem problema. E é bem melhor a comida ir esfriando com o ar frio do refrigerador”, afirma o biomédico Roberto Figueiredo, o “Doutor Bactéria”, do programa Fantástico, da TV Globo.
Cuidado com os enlatados também. Não compre latas amassadas e assim que abri-las, passe o seu conteúdo para um pote plástico. “Existe um verniz que impede o contato do alimento com a lata. Quando a lata é amassada ou aberta, esse verniz quebra e contamina o alimento”, esclarece Roberto Figueiredo.