É canja!

Eu sei, eu sei que quase todos os pratos do mundo são mais interessantes do que uma canja. “Canja é comida de doente”, dirão alguns. “Canja é coisa de velho”, diria minha avó. Mas ela também diria que “cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém”. Com base nesta sábia afirmação e aproveitando que você provavelmente foi muito além do razoável nesse carnaval, que tal entrar na quarta-feira de cinzas com a consciência limpa e o estômago leve?

Antes que você comece a fazer careta, vamos combinar algumas coisas:

– Eu também não gosto de partes como pés e pescoços de frango, embora aquela mesma avó dissesse que eram excelentes fontes de proteína. A simples idéia de abrir uma panela e dar com o pé do que quer que seja me enche de calafrios. Assim, na nossa canja só colocaremos as partes nobres do frango que mais nos agradarem (se você adora sobrecoxas, sua canja será só com sobrecoxas. Se o seu negócio é peito, que seja peito. E tudo sem pele, naturalmente, porque, aqui, a gente quer ser feliz e fazer bonito dentro do biquíni, certo?)

É quase uma ressurreição. O melhor de tudo é que é nutritivo, leve, rende pra burro e dá pra você congelar porções individuais para usar sempre que necessário.

– Para tirar esse ranço de “comida de doente”, vamos colocar uns temperinhos espertos. Nada que subverta o espírito angelical da canja. Só umas pitadinhas disso e daquilo, aqui e acolá pra dar mais bossa.

Vamos a ela?

Ingredientes:

1 kg de frango em pedaços (use sobrecoxas, coxas ou peito)
2 colheres (sopa) de azeite
1 cebola, picada
1 dente de alho, picado
1 colher (sobremesa) de sálvia
1 colher (sobremesa) de tomilho
1 maço de salsinha e um talo de salsão, amarrados
2 litros de água
Sal a gosto
1 cenoura, ralada
1 xícara (chá) de arroz
1 colher (sopa) de salsinha picada

Se você comprou frango com pele, é hora de tirá-la. Eu sei que é muito mais fácil tirar a pele depois que o frango cozinha, mas aí, toda a gordura que mora embaixo dela já estará boiando no seu caldo e será tarde demais.

Lave os pedaços de frango, escorra e enxugue. Nem precisa cortar.

Coloque o azeite na panela. Eu recomendo a velha e boa panela de pressão, que poupará seu tempo e a sua paciência. Aqueça o azeite, ponha a cebola e o alho e doure. Acrescente a sálvia e o tomilho e misture. Coloque o frango e dê uma fritada, apenas até ele perder a cor rosada.

Agora é hora do banho embelezador do frango. Na panela, ponha sal, o amarrado de salsão e salsinha e água suficiente para cobri-lo. Tampe. Depois que chiar, marque uns quinze minutos. Abra a panela com todo cuidado – aliás, todo cuidado é pouco. Vai que você ainda não está de todo recuperada dos excessos do carnaval…

Frango cozido, pesque o amarrado de salsinha e jogue fora. Ele já cumpriu o seu papel na história. Em seguida, tire os pedaços de frango e desfie. O melhor jeito de desfiar um frango é usando dois garfos. Fixe o penoso com um e vá tirando nacos com o outro. Se você escolheu coxas ou sobrecoxas, tire as cartilagens e ossos com todo cuidado porque poucas coisas são mais desagradáveis do que encontrar um pedaço de cartilagem no meio da canja.

É de perder a fé na canja, na cozinha e na humanidade. Uma cartilagem pode estragar tudo, inclusive sua vontade de expurgar os pecados do carnaval. Pelo menos, eu acho.

Volte o frango desfiado SEM CARTILAGENS para a panela e jogue tudo o que você ainda não jogou lá dentro – a cenoura ralada e o arroz, por exemplo. Lembre-se que o arroz vai cozinhar e estufar uma barbaridade. Talvez seja prudente colocar mais um pouco de água na panela, só por segurança. Feche novamente e, quando começar a chiar, marque dez minutos.

Abra, teste o sal e, pouco antes de servir, coloque a salsinha picada. É quase uma ressurreição. O melhor de tudo é que é nutritivo, leve, rende pra burro e dá pra você congelar porções individuais para usar sempre que necessário.

Seja novamente bem-vinda ao mundo dos vivos, porque agora, minha filha, o ano começa de verdade.