Fiquei grávida quatro vezes. Cada gravidez teve seu momento, sua ansiedade, suas expectativas. Todas foram bem diferentes entre si. A expectativa de engravidar era tão grande, tão desejada que, depois da perda do primeiro filho, com pouco tempo de gravidez, cheguei a ter problemas psicológicos e a precisar de terapia de apoio. Depois de longa pesquisa, com vários médicos importantes no Rio de Janeiro, consegui engravidar do Leonardo, meu primeiro filho, que hoje é o mais velho.
Quando o Leonardo nasceu e chorou, foi um sol, uma sensação inédita, insubstituível. Não há nada parecido, não tem explicação. É muito de feeling, muito da gente, muito de mãe. É uma sensação de poder, de superioridade em relação a tudo, porque você gerou uma pessoa. Nesse momento senti Deus muito próximo. Pensei que para Deus nada é impossível, porque quando eu pensei que as coisas estavam perdidas na verdade estavam começando. Foi uma emoção que eu jamais vou esquecer na minha vida. Assim como no dos outros, porque cada um teve seu momento. Quando ele nasceu e veio para perto de mim, eu chorei muito, o choro da emoção, da alegria, do contentamento, do agradecimento a Deus, da felicidade.
O Leonardo estava com dois anos mais ou menos e eu me vejo grávida de Luísa. Foi uma surpresa do tamanho de um bonde, porque eu não estava imaginando uma nova gravidez, nem estava esperando, porque achava que não havia possibilidade. A gravidez da Luísa foi curtida, mais do que a do Leonardo, no sentido de que eu estava com mais liberdade. Eu estava mais relaxada: já não era uma marinheira de primeira viagem, já tinha mais controle da situação..
Só que não tinha tempo para nada, porque a Luísa tinha cólicas homéricas e mamava desaforadamente. Com um mês e meio eu já não tinha mais leite, porque estava exausta, porque eu não dormia, embora Gina, a babá, dividisse comigo. Luísa nasceu no dia 29 de março. No dia 28 de abril, Leonardo fazia três anos. Quando Luísa tinha um ano engravidei dos gêmeos. Essa já foi mais complicada, a nível de sentimento, porque eu não estava esperando, achava que não ia engravidar mais. A gente falou na época da Luísa em ligadura. O médico disse para não fazer isso, porque eu não sabia o dia de amanhã e que eu era muito nova etc e tal. Com os problemas que eu tive para engravidar do Leonardo e os anteriores, as sessões de terapia, muito choro, muita angústia, somatizei muita coisa. Então, achamos conveniente, por tudo que já tinha acontecido, não fazermos a ligadura.
Quando veio a gravidez dos gêmeos, eu realmente balancei. Estava me sentindo mal. Tinha relaxado no Carnaval e nem tomei fé de que era período fértil. Como eu não tinha ligado as trompas, porque o médico me botou minhocas na minha cabeça, tomei alguns cuidados, precauções, porque eu não podia tomar pílula, por causa de fatores emocionais; mas tudo falhou. Quando eu estava me preparando para a festa de Leonardo e Luísa – ia fazer a festa dos dois no mesmo mês de abril eu comecei a me sentir mal e comentei com uma amiga minha de trabalho. Ela perguntou se eu não estava grávida. Fui então fazer o exame sem ninguém saber, queria pegar o resultado no mesmo dia, mas o laboratório disse para eu voltar depois. No dia seguinte, antes de ir para o trabalho passei lá e peguei o resultado. O resultado chegou como uma bomba na minha cabeça.
Num primeiro momento, eu não queria. Pela primeira vez, tive esse sentimento. Confesso que pensei em aborto, porque não queria pensar em gravidez. A verdade é que não estava contente com aquela gravidez. Meu marido achava que a gente podia deixar vir o terceiro e fechar a fábrica. Quando descobri que estava grávida, chorei uma semana com essa sensação de que não queria ter. Depois descobri que não valia a pena ficar chorando. Era melhor relaxar e ter. Tinha o peso da responsabilidade. O apartamento que não ia dar. Teria de me mudar. Aquela gravidez para mim era sinônimo de problemas.
Algumas pessoas quando souberam que eram gêmeos, achavam lindo, maravilhoso. Todo mundo tinha sempre uma história para me contar. Na empresa eu remava naqueles corredores com aquele barrigão, subia no arquivo, descia. Não deixei de fazer absolutamente nada. Fazia exatamente o contrário do que fiz nas outras gravidez. Não fiz controle hormonal, não tomei remédio, não tive preocupação nenhuma de poupar aquela gravidez. Meu marido, durante a gravidez, tinha um sentimento de medo, de querer, de não querer e de não saber se ia agüentar, porque a família iria dobrar. Quando os meninos nasceram ele olhava os gêmeos com olhar apreensivo, de quem estava amando, mas amando com medo.
A gravidez do Gustavo e do Guilherme trouxe muita angústia, com muita preocupação, muita apreensão, muita tensão veio com expectativa de como isso ia acontecer. Já havia outros dois. Luísa ainda era uma bebezona. Quando eles nasceram ela estava com um ano e oito meses, ainda usava fralda e chupeta. Tivemos de continuar dando atenção a ela, que era super-agarrada. Foi um Deus-nos-acuda. Não gosto nem de lembrar. Sentia muito sentimento duplo, muita auto-crítica que não resolvia nada.
Eu chorava muito por causa dessas angústias que sentia, que não eram coisas que eu solucionasse num piscar de olhos e que não dependiam só de mim. Eram, são, meus filhos, eu os amava, mas significavam alguns problemas na minha vida, e isso eu não podia negar. Quando tudo parecia estar cer-to eles chegaram e tudo ficou errado. Isso tornou-se uma verdade. As asmas freqüentes deles começaram me tirar do sério. Prejudicaram muito meu trabalho, porque já não estava totalmente lá. A amamentação deles foi ruim. Nos primeiros 30 dias conseguia dar um peito pra um, outro peito para o outro. Só que no final de um mês um peito só era pouco para um e comecei a ter que dividir com mamadeiras.
Eu curti muito menos do que podia tê-los curtido. Os problemas foram diversos e de várias naturezas que levou para longe aquela possibilidade de curtir dois bebês lindos e maravilhosos. Era problema atrás de problema, de toda a ordem e que naquele momento, pareciam não ter fim. Haviam as exigências médicas: não podiam tomar leite, sentar no chão, se resfriar, ir para a praia, pegar vento. Foi um não podia de tantas coisas que a gente se privou de tudo. Hoje a gente tem muitas alegrias com eles. Hoje não posso me queixar. Com todos os senões, Deus foi muito bom pra mim, me deu forças para eu superar isso, porque Deus sabe a quem dá gêmeos.
Trechos do livro: “Maternidade: Que delícia! Que sufoco!”
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