Intrometida é a mãe!

Ah, nossos queridos e amados pais – o que seria de nós sem eles? Nos colocaram no mundo, nos deram educação, amor, casa, comida e roupa lavada. A eles todo nosso carinho e gratidão. Mas a verdade é que chega um ponto da vida em que a gente quer cortar o cordão umbilical e dar nosso grito de independência, não apenas financeira mas também, e principalmente, de independência emocional. Só que, muitas vezes, o grande problema é avisar isso aos velhos, que ainda nos vêem como eternos bebês que precisam ser sempre guiados. Seja para escolher namorado, para decidir a cor das flores da cerimônia de casamento e, afe Maria, sobretudo, para educar um filho – “coisa linda da vovó”. Tem mãe que se mete em tudo, pai que quer mandar numa casa que nem é dele. Aí, é usar os ensinamentos que eles mesmos nos deram: contar até 10 e tentar resolver o dilema sem machucar os pais nem muito menos ferir a si próprio.

Qual é a mãe que não quer o melhor pro filho? T-o-d-a-s querem que a gente seja feliz, não sofra por amor e não pegue resfriado. O perigo é que a boa intenção ao aconselhar se transforme em uma encheção de saco ao se intrometer.  Quem vive situação como essa é a publicitária Bianca G., que está de casamento marcado e tenta a todo custo se livrar da marcação da mãe. “Parece que a noiva é ela! Quer escolher o vestido, a aliança, o papel do convite… tudo! E quando eu discordo da opinião dela e escolho algo que não seja do seu agrado, precisa ver a cara emburrada que ela faz…”, reclama a publicitária, que usa de alguns truques para se livrar de tantas e repetidas intromissões. “Escolhi marcar a cerimônia em outra cidade justamente para ela não poder dar muito palpite e aluguei um apartamento bem longe da casa dela, para ela não bater na minha porta toda hora com a desculpa de que estava por perto”, revela Bianca, ainda um pouco culpada por se distanciar da família.

Estava tudo muito bem, tudo muito bom, até a chegada do primeiro filho, leia-se o primeiro neto dos pais da professora Taís C., que queriam educar o baby a seu modo, sem respeitar a opinião dos verdadeiros pais da criança. “A minha mãe é pediatra e sempre dá um jeito de se intrometer em tudo: o que eu dou pra comer, a que horas, em que posição…”, revela Taís, que tenta ter paciência com a mãe, ao contrário do marido, que já está de saco cheio. “Outro dia teve o maior pega-pra-capá, quando minha filha caiu no chão. Meu marido já avisou a todo mundo que não quer que ninguém ajude a menina quando ela cair e ameaçar chorar. Nós queremos que ela se levante sozinha, para não ficar dependente da gente, nem ficar muito manhosa. Só que quando ela caiu, não deu outra: minha mãe foi lá, paparicou, levantou, botou no colo e meu marido ficou pê da vida, por ela estar estragando nossa filha e contrariado as regras de educação que a gente impôs”, conta a professora, que teve que segurar o marido, antes que ele brigasse com a sogra pela qüinquagésima vez, consciente de que a intromissão da mãe atrapalha ( e muito!) sua relação amorosa.

Diz o ditado que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher, mas não é bem assim que dita a família da advogada Heloísa R., que já meteu a colher, o garfo e só falta meter a faca no peito do genro. Os pais dela são idosos, o marido tem sangue quente e aí já viu. “Um dia meu marido foi um pouco ríspido comigo à mesa, meu pai ouviu e ficou uma fera. Falou que ele não podia falar assim comigo e começou o bate-boca. Meu marido me pediu desculpas e eu perdoei, só que meu pai não. Ele continuou dando lição de moral no meu marido, que levantou da mesa e disse que não ia ficar ouvindo esse tipo de coisa na sua própria casa”, lembra Heloísa, que nunca mais recebeu a visita do pai, quando o marido está em casa. “As intromissões continuam, meu pai e minha mãe querem se meter nas nossas brigas e eu fico sem saber como agir”, afirma a advogada.

Falando assim, parece até que os pais são os grandes vilões da história. Mas a gente não imagina como é difícil para eles deixar o filho tomar suas decisões sozinho, quebrar a cara e fazer aquilo que os pais estão literalmente carecas de saber que não vai dar certo. Com a palavra, a dona de casa Eliete F., que jura não se meter na vida das filhas, mesmo não sendo nada fácil. “Sofro muito para me controlar e manter a boca fechada. É claro que vejo minhas filhas fazendo coisas que não gosto e preferia que elas fizessem de outra forma. Mas prefiro deixar que elas façam do jeito delas, afinal, é a vida delas e não é minha”, afirma D. Eliete, acrescentando que criou as filhas sabendo que elas iriam ganhar o mundo e sairiam da barra de sua saia. “É duro querer ligar para saber onde e como a filha está e acabar não ligando com medo de ser chata. O jeito é confiar na educação que dei a elas e rezar para que nada grave aconteça”, ensina.

Para a psicóloga Maria Adelaide Ferraz, os conselhos de pai e mãe devem ser sempre considerados pelos filhos. “Não só porque eles querem o seu bem, mas também porque têm mais experiência. Por outro lado, esse conselhos não podem significar mais do que uma orientação. Cabe ao filho aceitar ou não, levando sempre em consideração o bom senso. O que não pode acontecer é o filho recusar a opinião dos pais somente por birra. Isso revela dependência da mesma forma que aquele que só faz o que o pai manda”, explica a psicóloga, salientando que os filhos devem fazer suas próprias escolhas e inclusive cometer seus erros, parte integrante da vida adulta. Para lidar com essa situação, o melhor caminho é sempre o diálogo. “Quando o filho não segue o caminho indicado pelo pai, ele pode deixar claro que sua intenção não é magoá-lo e, assim, evitar melindres”, finaliza.