Por Renée Douek
A família contemporânea tem se deparado com novos problemas cotidianos
quanto à educação de suas crianças. Mães, pais e avós têm vida profissional
ativa e ajustes são necessários quando as avós são solicitados a colaborar
no suporte cotidiano da vida de seus netos.
Quem são as avós de hoje em dia ?
Senhoras que trabalham, consultam suas agendas para marcar compromissos, que fizeram parte da “geração feminista”, muitas acompanharam a “barriga de
fora” de Leila Diniz, buscam sua individualidade e, também querem, apesar de todos os conflitos que possam daí advir, usufruir da deliciosa companhia de
seus netos e contribuir em sua educação.
Circulam na relação que se estabelece entre avós e netos maturidade e
jovialidade, sabedoria e desconhecimento, lembranças e descobertas,
nascimentos e despedidas, fruto e raiz . . . Do ponto de vista da criança, trata-se de uma oportunidade única de se relacionar íntima e afetivamente com hábitos, ritmo de vida, modas, músicas, sabores, referências culturais de uma outra geração. Assim a história e a cultura a qual pertencem, vão sendo transmitidas de forma viva e um forte sentimento de pertencimento à cultura familiar se
desenvolve.
Pesquisando a arquitetura de tribos africanas, encontramos construções
destinadas à reuniões dos chefes de aldeia, onde importantes decisões
são tomadas. Nas colunas de madeira que sustentam estas construções,
encontram-se esculpidas figuras de mulheres idosas – as “avós
arquetípicas”. Assim, para a tomada de grandes decisões, estes homens evocam
a sabedoria feminina, através da reverencia a suas ancestrais. “O que minha avó me aconselharia nesta situação?”, eles devem pensar.
E me pergunto: “Como as avós contemporâneas estão sendo significadas por seus netos?” ”Em que parte de uma construção eles a representariam?’
Voltando-nos para as avós, encontramos estudos que mostram como a
longevidade está diretamente relacionada ao número de papéis sociais que uma pessoa desempenha (pai, avô, irmão, professor, etc) e de relações íntimas que possui:
– a percepção de conexão social (ou seja, em que medida se
sente apoiada pelas pessoas que a rodeiam)
– a freqüência das interações sociais”(citado em Sluzki,C.,1997)
Confirmamos assim, o quanto a rede social afetiva é vital para a humanidade. Neste sentido, é importante que as avós possam negociar condições que a deixem confortável nesta função . Assim poderão receber os netos com maior satisfação e ter a experiência que muitas comentam, de como é mais leve e lúdico ser avó do que ser mãe.
A “bolsa de mulher” de senhoras avós contemporâneas pode conter agendas,
celulares, batom, e serem ludicamente coloridas por brinquedos e retratinhos
de seus queridos netos.
Renée Douek é psicóloga com especialização em Psicanálise e Técnicas Reichianas, Terapia de Família (Instituto de Psiquiatria da UFRJ), Aperfeiçoamento em Psicodiagnóstico Infantil (Instituto de Psiquiatria da
UFRJ) e Arte-Educação (‘Metropolitan Museum of Art’/ NY)
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