Foi mais um susto, porque coincidiu com uma doença que tive. Estava internada. Não tinha um namorado firme. Foi talvez uma emoção negativa de gravidez. Não gostei muito de saber que estava grávida. Foi difícil. Tinha que explicar para os meus pais. Resolvi ter. Minha mãe já havia desconfiado e tive que contar. Falei com o meu namorado, na época, que ia ter a criança. Ele sumiu de vez. Meu sonho foi sempre ser mãe, mas tinha muitos problemas na cabeça. Me questionava o que era ser mãe, se poderia ser mãe ou não. Foi aí que eu procurei um grupo para ver se me dava um apoio psicológico. Foi importante.
Percebi que as pessoas também tinham problemas em relação a ser mãe. Achava que pelo fato de ser mãe solteira, precisava um pouquinho mais disso. Tinha medo da minha filha ter problemas, medo do parto, da reação das pessoas. Esse é um medo que tenho até hoje, não de ser mãe solteira porque isso hoje é normal, não tenho mais tabu em relação a isso. Tenho medo da minha filha em relação à sociedade. Isso é um pensamento constante. Enquanto isso não acontecer, como irá acontecer, será um medo constante, a reação que ela vai ter em relação a isso, entende? Foram coisas que aconteceram durante a gravidez e hoje eu penso ainda mais na medida em que ela cresce.
Engordei vinte e poucos quilos, fiquei imensa e completamente desproporcional. Adorei. Para mim ser mãe era isso. Fazia parte ficar bem gorda, imensa, bem bolachuda e fiquei mesmo. Tinha desejo de comer chocolate todo dia. E comia. Só tive cuidado de passar creme de amêndoas na barriga e nas pernas. Chorava por qualquer coisa. Fiquei muito irritada durante a gravidez. A irritação piorou nos últimos dois meses. Até voltei a fumar. Qualquer coisa, as pessoas falavam comigo, me irritava. Com o tempo, comecei a me afastar, mesmo na faculdade, das pessoas que tinham carinho comigo. Já não ia muito a faculdade porque não agüentava mais de tão imensa que estava. Fiquei muito carente também. Mesmo entre os jovens, ainda era um choque. Isso dá para perceber claramente. As pessoas te cobrem de mais carinho que o normal, pelo fato de você ser mãe solteira. Toda hora perguntam se o pai apareceu. Isso é fatal, não tem jeito. Até hoje perguntam.
Antes de você ser mãe solteira, já esta fazendo coisas sozinha a muito tempo. Qualquer pessoa precisa de ajuda, a mãe solteira muito mais, porque você não tem com quem falar. No trabalho as pessoas comentam, na faculdade comentam, dentro de casa muito mais. Você precisa conversar com alguém. Uma terapia, um grupo de gestantes, não é suficiente. Senti falta de terapia depois. Os problemas continuam. Você vai ser mãe solteira para o resto de sua vida. Por mais que você consiga um marido que substitua o pai da criança, você vai ser mãe solteira para o resto da sua vida.
No momento em que a minha filha nasceu eu realizei um sonho. Senti falta da barriga. Eu adorava esta grávida, hoje quando eu vejo uma grávida, dá vontade de engravidar de novo. Acho lindo. Com toda a gordura eu queria ter a minha barriga. Normalmente ao ser mãe pela primeira vez, você não sabe fazer nada. Por você ser mãe solteira acham que você não sabe fazer nada em dobro. Não deixam você mexer na criança. Você tem que ficar deitada. Depois que resolvi tomar conta da minha filha, vi que não devia ter tido medo porque não era nenhum bicho de sete cabeças. Não gostava dela pendurada no meu peito o tempo todo. Mas, com uma semana de nascida ela começou a ficar pendurada no peito. Não sei se era por eu conversar muito com ela e explicava as coisas que iriam acontecer no futuro. Era uma forma de colocar para fora um pouco da minha depressão. Ela dormia, acordava e eu sentada dando o peito para ela. As coisa chatas que aconteceram foram só no começo. A depressão, aquela irritação toda. Larguei a criança para minha mãe cuidar.
Não fiquei desesperada, depois de um tempo eu coloquei a cabeça no lugar e resolvi as coisas normalmente. Foi uma delícia descobrir que eu era mãe. Eu acho engraçado que as pessoas, depois que tem o primeiro filho não querem ter mais. não é um problema financeiro. as pessoas são menos paciente para ter filhos. Não querem ter mais filhos. Não consigo entender. Por que é tão ruim ter outro se você ama tanto o que você tem?
