Eu adoro fondue, ainda mais em tempos de frentes frias. A de queijo é uma perdição, mas sempre tive problemas com o tipo bourguignone, de cubos de carne fritos, que deixa a sala, a mesa, a toalha e os convidados cheirando a óleo por dias a fio, além de ser um desafio hercúleo para qualquer sistema digestivo.
Como sou carnívora por convicção, adotei uma receita vinda da minha avó suíça. O nome é fondue chinoise, ou fondue chinesa. Quando perguntei a vovó se havia tal sorte de iguaria na China, ela disse que o nome chinoise devia-se ao modo do preparo oriental e não necessariamente ao fato de haver fondue na China. Se houver algum pesquisador de plantão, contribuições serão bem-vindas. As vantagens da fondue chinoise são várias:
– É deliciosa;
– É leve (dá pra comer sem medo de ser feliz);
– Pode ser consumida em qualquer época do ano, inclusive no calor;
– É diferente (você prepara e fica todo mundo te achando super cool, inserida e criativa);
– Se quiser impressionar pra valer, diga que é uma coisa assim, meio fusion, “uma releitura meio thai com french cuisine contemporânea”. É tiro e queda.
– É tão fácil, que dá até vergonha;
– É lúdica;
– Tem um grande “efeito moral”.
Explico-me: fondue chinoise nada mais é que uma fondue de carne, feita com carpaccio em vez de cubos de filé mignon e cozido em caldo, em vez de óleo fervente. O princípio da coisa é o mesmo: enrola-se o carpaccio no garfinho (costumo calcular uma bandeja por pessoa), coloca-se na panelinha para cozinhar (em 5 segundos porque o carpaccio é finíssimo e o caldo está fervendo), molha-se em algum dos molhos e pronto! Sucesso absoluto.
No caldo, tanto é possível colocar umas ervas e temperos, quanto uns funghi porcini, pra dar um gostinho especial. Só não cometa a heresia de mergulhar o coitado do carpaccio em uma panela com caldo de cubinho puro. Tenha brios! Ponha pelo menos alguma coisa de sua autoria dentro do caldo; uma cenoura que seja!
Ah, e nem ouse comprar aqueles molhos prontos. Você é uma futura cozinheira ou é um rato?
Para acompanhar, batatas cozidas (que você pode até cozinhar com casca, para as pessoas descascarem à mesa. Menos trabalho para você e mais uma coisa para distrair seus convidados) e uma salada de salsão temperada com mostarda, uma pitada de orégano, Fondor e iogurte ou de salsão-batata (difícil de encontrar, mas delicioso), temperada igual. Os molhos (É. Molhos. Pelo menos uns quatro diferentes, em potinhos individuais para mimar seus convidados. Ah, e nem ouse comprar aqueles molhos prontos. Você é uma futura cozinheira ou é um rato?) podem ser: rosé (catchup, conhaque, creme de leite ou iogurte e um tantinho de molho inglês), mostarda (mostarda, creme de leite ou iogurte e Fondor), shoyu (puro e simples) e tártaro feito em casa (com pepino fresco e pepino em conserva, azeitonas, alcaparras, cebola e salsinha, todas picadas cirurgicamente e temperadas com iogurte, muito pouca maionese, um tantinho de mostarda e Fondor, evidentemente.Já dei a receita aqui. Claro que se você tiver um molho seu, sucesso de público e crítica, pode e deve incluir, para o deleite dos presentes.Apesar do carpaccio ser carne vermelha, é muito suave, bem como o caldo, as batatas cozidas e a salada… Assim, sugiro vinho branco em vez de tinto. Um chardonnay honesto costuma dar conta do recado.
Variações:
Tem gente que faz uma espécie de sukiaki em vez de fondue e, além da carne, aproveita o caldo para cozinhar também vegetais como champignons, baby carrots, acelga, cebola e outras coisas mais. Pode até ser. Mas se for pra comer assim, prefiro sukiaki de vez.