Pai, mãe, eu sou gay

“Pai, mãe. Eu sou gay”. Ouvir esta frase, para muitos, parece um pesadelo. Mas, para outros é um verdadeiro alívio. O mais difícil é ter certeza se está na hora certa e se o melhor a fazer é abrir o jogo e contar para a família sobre a opção sexual. Mas, por mais que a sociedade esteja se acostumando com o homossexualismo e encarando-o com naturalidade, para a família é muito difícil aceitar o filho, filha ou irmão que assuma ser gay. Para os especialistas, no entanto, os pais sempre sabem, mas preferem fingir que não estão vendo nada para evitar mágoas e constrangimentos.

Houve o tempo em que só de pensar que os pais desconfiavam de sua preferência amorosa, os jovens tremiam. Muitos optavam por sair de casa e viver uma vida afastada em que a sexualidade pudesse ser exercida em sua plenitude. A lista de motivos para a tal atitude é imensa. Um deles é que, morando mais tempo na casa dos pais, os filhos ficam vulneráveis à vigilância dos mais velhos. O telefone toca e a voz pertence sempre à alguém do mesmo sexo. A filha só sai com amigas e o filho nunca apresenta a namorada. Mentir é mais complicado.

Assim aconteceu com Julia Costa e Raquel Teixeira, ambas com respectivamente 23 e 21 anos. Raquel afirma que, apesar de ter tido muitos namorados, só conseguiu ser feliz quando conheceu Julia. “Foi de repente. Éramos amigas e um dia nos sentimos atraídas. A partir daí, não nos deixamos mais, nossa vida mudou. Minha mãe começou a notar e um dia me perguntou se era aquilo que eu queria. Depois de ouvir a resposta afirmativa, ela nunca mais tocou no assunto”, conta Raquel. Já no caso de Julia, foi bem diferente. “Eu não queria mais esconder dos meus pais. Contei a verdade e eles reagiram de forma agressiva. Proibiram de levar a Raquel em casa e me obrigaram a fazer tratamento com psicólogos. Só agora, depois de três anos juntas, eles nos aceitaram e se acostumaram. Viramos uma família. Fazemos tudo juntos e Raquel praticamente mora aqui em casa”, conta Julia.

Resolvido o conflito interno é mais fácil contar para a família. A maioria não se abre nunca e uma parcela ponderável dos jovens espera anos para fazer isso. Segundo a psicóloga Teresa Amorim, esse é pode ser mesmo o melhor caminho. “Antes de contar, a pessoa deve ter certeza. Quando se é muito jovem, existe o risco de estar se envolvendo numa aventura. Pode ser apenas um desejo que surge na adolescência. Mas, quando se tem certeza, deve-se ter muito tato para conversar. É complicado para os pais compreender tais atitudes”, esclarece a psicóloga. O motivo da demora para assumir a opção sexual, entretanto, não está relacionado apenas ao medo que se tem dos pais. Desde muito cedo, alguns gays aprendem a conviver com a discriminação, antes mesmo do próprio desenvolvimento da sexualidade.

É importante lembrar que essa experiência acontece na vida de milhões de pessoas e nunca é irrelevante. A maior parte dos que enfrentam a dúvida sobre a própria sexualidade esconde o dilema dos amigos e pais. Alguns acabam no sofrido caminho de se enquadrar no padrão da maioria e seguem em frente. Serão pais, mães, avós e avôs eternamente frustrados, que apenas administram o desejo sexual com algumas escapadas. Outros chegam à conclusão de que realmente desejam o amigo do mesmo sexo e farão o que puderem para esconder a verdade dos que não são também homossexuais. Normalmente, esses colocam na balança os prós e os contras de assumir a posição e concluem que pode sair caro demais se expôr como gay na sociedade. Mas, de acordo com a Dra Teresa, estes não conseguem livrar-se do grande sentimento de culpa e, um dia, acabam trazendo tudo à tona. “Pare e pense antes de tomar qualquer atitude. Seja na hora de contar, ou na hora de ouvir. Não se deve magoar ninguém e nem a si mesmo”, conclui a psicóloga.