Minha filha, como que você não pensou em usar camisinha antes de transar com seu namorado?! – berra a mãe, histérica, ao saber que será vovó. Pois é, esse tipo de imprevisto acontece, e com freqüência, na adolescência. Mas essa fase tão conturbada, repleta de desentendimentos entre pais e filhos, não se deve a pura irresponsabilidade da qual insistimos em acusá-los. Além das mudanças físicas e hormonais, seus cérebros sofrem transformações extremas, fazendo com que muitas vezes não dêem conta das tarefas que lhes delegamos.
É esta também a época em que o sonho de ser mãe é jogado para escanteio. Basta os pimpolhos completarem doze anos, para o ditado se confirmar. Ser mãe de adolescentes é, sim, padecer no paraíso. A vontade é de entregá-los na porta do primeiro colégio interno que aparecer pelo caminho, para só buscarmos as pestes quando todos os percalços desta fase insuportável tiverem passado, e, quem sabe, eles estiverem mais maduros e tranqüilos. Quem já teve filhos aborrecentes sabe bem o que isso significa. Para quem ainda aguarda pela chegada dela, uma boa notícia: ainda é tempo de aprender a lidar com esta idade, tão chata e importante para o desenvolvimento dos filhotes.
Eles são acusados de serem rebeldes sem causa, mas quem é que garante que a revolta é gratuita? A faixa etária, que normalmente vai dos onze aos dezoito anos, é muito mais complicada do que se imaginava. Foi na tentativa de esclarecer os mistérios por trás deste tornado, que a neurocientista Suzana Herculano lançou o livro “O Cérebro em Transformação” (Editora Objetiva, 2005). A obra explica de que forma os processos químicos e neurológicos que ocorrem no cérebro destas pessoinhas em crescimento afetam seus desenvolvimentos emocional e físico, acarretando mudanças de humor, medos, inseguranças, paixonites e muita – e bota muita nisso – irresponsabilidade.
A autora, mãe de dois filhos que em breve estarão lhe causando dor de cabeça, ajuda a compreender. “O cérebro só termina de se desenvolver por volta dos 30 anos, mas é durante a adolescência que acontecem algumas das maiores transformações. A mais perceptível é no sistema de recompensa, responsável por nossa satisfação. Este sistema sofre uma baixa, pois perdemos um terço dos receptores de dopamina, substância responsável pelo prazer. Isso faz com que nossas preferências mudem. O que nos dava prazer, como brinquedos, não dá mais. É quando eles despertam para novos interesses”, explica Suzana. Mas, calma, não precisa se desesperar! A neurologista indica o caminho. “Os pais devem reconhecer essa necessidade, e oferecer estímulos positivos, como música, viagens e estudos. É nessa época que eles começam a gostar de filosofia e literatura”, recomenda. Mais do que importante, a busca pelo novo é fundamental. É a novidade quem vai ativar o sistema de recompensa, e equilibrá-lo novamente.
Uma das maiores causa das brigas entre pais e filhos é a irresponsabilidade. O impulso descontrolado de se fazer alguma coisa deixa muita mãe de cabelos brancos, e pais de cabelos em pé. Mas sabia que até para isso existe uma explicação? De acordo com a neurologista, não faz sentido dar bronca no filho. “Quando você pergunta se ele não pensou que algo poderia ter saído errado, a resposta é não. E ele não pensou simplesmente porque não têm a capacidade de antecipar fatos. Uma região do cérebro deles, chamada córtex órbito frontal, ainda não está amadurecida”, esclarece Suzana. É por isso que acabam se metendo nas maiores roubadas. Mas nada de sair tomando decisões por eles. “Isso não significa que eles não devam decidir nada sozinhos. Muito pelo contrário. Não é só o tecido cerebral que precisa amadurecer. A experiência que se adquire através do erro também é necessária”, esclarece.
O desenvolvimento do cérebro ajuda a compreender a desordem, mas por trás das conexões neuroniais, há outros fatores nos quais você, como mãe, pode – e deve – interferir. A educação é fator fundamental para se criar filhos responsáveis e conscientes. A psicóloga Vera Soumar é compreensiva com a fase. “Diferentemente do título do filme, a rebeldia nunca é sem causa. Eles são cobrados cada vez mais cedo, além de viverem bombardeados por informações, seja através da internet, celulares ou TV a cabo. Mal terminam o colégio, se deparam com o vestibular. Quem é que tem maturidade para escolher a profissão que quer seguir pelo resto da vida? Ser adolescente hoje em dia não é nada fácil. A agressividade está muito presente. São notícias de seqüestros, guerras, assaltos, além da instabilidade dentro de casa. Pais estressados, sem perspectiva, mostrando que o futuro pode não ser maravilhoso. A família deve dar o exemplo, mostrar que vale a pena. Pois a adolescência passa, mas, para a vida, não há escapatória”, ensina a psicóloga.
Da próxima vez em que for brigar com seu filho, lembre-se de que é esse comportamento impulsivo que move a sociedade. “Se não fosse pelos jovens, viveríamos em um mundo quadradinho, cheio de médicos e advogados. Eles têm idéias grandiosas, se acham capazes, e acreditam em revoluções. Não concordo com livros e médicos que tentam ensinar aos pais a sobreviver à adolescência, como se esta fosse uma fase chata e cheia de problemas. É tão bacana, com tantas coisas legais acontecendo, que não consigo enxergar por esse lado. É a busca por novidades, o querer correr riscos, que nos faz sair de casa. Exatamente o que os pais não entendem. Tudo o que eles precisam é de estímulos”, arremata Suzana Herculano. Ah, que saudade que dá daqueles tempos.