“Não vejo descontinuidade no decorrer dos anos. Costumo dizer que não sou idosa e sim anosa“. Foi assim que Zilda Silva Bensabath, uma senhora de 78 anos, se referiu a si mesma quando perguntada sobre a sensação da redescoberta do aprender, do conhecer. Para ela, esse sentimento é apenas para aqueles que já pararam de estudar alguma vez, o que não foi o seu caso.
Casada há 54 anos, Zilda Silva é dona de uma vida animada. Cursou escola técnica e trabalhou numa empresa de iluminação pública por 32 anos. Já está aposentada há 26, mas isto não significou, de modo algum, um freio em seus planos ou atividades. Muito pelo contrário, ela hoje tem uma agenda intensa da qual se orgulha muito. “Os meus dias são todos desiguais porque faço crochê, costuro, leio, trabalho como doméstica, pois tenho casa e marido, e faço trabalho voluntariado no bazar para crianças carentes, às terças e quintas. Curso o segundo período de Alemão, informática e yoga na UERJ”, conta.
A leitura, manutenção das atividades cognitivas, hobbies e atividades físicas ajudam a manter a vitalidade
Tanta malhação, segundo ela, foi motivada pelo simples desejo de “estar na crista da onda”. O segredo da animação está no amor pela vida, na vontade de ser referência e modelo. O idoso (ou anoso) de hoje em dia busca a alegria e a admiração daqueles com quem convivem. Sentimentos tão gratificantes que podem ser combustíveis para uma vida inteira. “Fico prosa e envaidecida quando os meus netos dizem para os amigos: ‘minha avó está fazendo faculdade’. E eles perguntam: ‘De quê?’. Eles, muito contentes, respondem – ‘Está aprendendo a jogar xadrez, informática e alemão’. Não é gratificante? Eu nem sei descrever o quanto”, declara Zilda.
Este é o perfil da nova geração de idosos, que celebram hoje, 27 de fevereiro, o Dia Nacional do Idoso. Atualmente, os avôs já não são mais aqueles que permaneciam sentados de frente para a televisão esperando o tempo passar. Ao contrário, estão cada vez mais inseridos socialmente e buscam reconhecimento e qualidade de vida. Esse fenômeno ganhou forças à medida que nos últimos anos mais pessoas se tornaram idosas, devido ao aumento da expectativa de vida. No Brasil, espera-se que o número de pessoas com mais de 60 anos dobre até 2020. Com isso, serão cerca de 32 milhões de habitantes nessa faixa etária e nos tornaremos o sexto país em número de idosos.
Os dados chamaram a atenção dos especialistas de diversas áreas. Médicos, sociólogos, psicólogos, políticos, educadores. Enfim, uma parcela grande se mobilizou para pensar em projetos e políticas públicas que defendam o interesse dessa classe. Hoje no Brasil, ainda há deficiências para o atendimento desse grupo, como explica a psiquiatra Valeska Marinho. “As carências estão no atendimento público de saúde e em aspectos de seguridade social. Os idosos com maior poder aquisitivo têm chance de experimentar melhor qualidade de vida e acesso a tratamentos médicos”, diz.
Vida ativa
Cuidar da saúde física é um dos aspectos importantes para que o idoso se mantenha ativo. Mas estar ativo vai além desse cuidado. Refere-se ao fato de que ele participe de campos como o social, o econômico e o cultural. Por isso, alguns hábitos e atitudes precisam ser adotados por essas pessoas para o fortalecimento do corpo e conseqüente retardamento do envelhecimento, como diz Valeska. “A leitura, manutenção das atividades cognitivas, hobbies e atividades físicas ajudam a manter a vitalidade”, afirma. Ela complementa que o grande desafio deles é a necessidade de se manter independente, já que a família passa muitas horas fora de casa e o idoso permanece sozinho por mais tempo.