Sentir ansiedade é algo normal, mas as demandas da sociedade atual, assim como a quebra de importantes tabus, estão nos permitindo cada vez mais identificar quando um simples sentimento se transforma em transtorno. Nem as crianças passam ilesas.
Desde cedo, os pequenos podem apresentar transtornos de ansiedade, e por não terem ainda maturidade para expressar suas angústias, torna-se ainda mais desafiador para as figuras parentais avaliarem quando buscar ajuda profissional.
Na maioria das vezes, a criança mostra sintomas físicos. E, para que cresça de forma saudável e sem prejuízos para a vida adulta, é possível ficar aos sinais de alerta. Saiba mais abaixo.
O que é a ansiedade infantil?
Uma criança ansiosa vê o mundo como um lugar inseguro e que pede o tempo todo sua vigilância, além de ser sensível à reprovação alheia, incluindo a dos pais.
De acordo com a neuropsicóloga Elaine Di Sarno, os sintomas ansiosos patológicos podem aparecer já nos primeiros meses do bebê. “Estão na recusa de alimentos, no desenvolvimento tardio, em alterações psicomotoras e na linguagem”, explica.
Assim como a carga genética dos pais contribui para o desenvolvimento da ansiedade infantil, as primeiras experiências emocionais também têm peso. Ou seja, o seu filho sente e absorve caso você sempre diga que tem medo que ele sofra na escola.
Por exemplo, se uma criança sente-se frequentemente sozinha ou até abandonada, há chances de que ela desenvolva o “Transtorno de Ansiedade de Separação”. Segundo o “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais” (DSM-V), ele é caracterizado pelo medo excessivo de estar longe dos pais ou figuras de apego.
Como lidar com os medos do filho?
Ao perceber um temor em seu filho, a orientação é escutá-lo sem críticas e, ao perceber que é a primeira vez em que a situação sai do controle, tente técnicas de respiração junto com ele ou o convide para narrar o que há no ambiente em volta, como distração.
Evite o uso da tecnologia nesses momentos. A conexão de um abraço tranquilo também auxilia.
A orientação da neuropsicóloga é manter o equilíbrio dos estímulos e a empatia, já que a timidez do seu filho pode ser um ciclo vicioso que só será quebrado com ajuda clínica. “Excesso de proteção atrapalha muito”, afirma.
Entretanto, expô-lo radicalmente a situações que causam desconforto (colocá-lo à força em uma piscina rasa, por exemplo, caso haja receio de água) criará traumas e fobias. “Ajude a criança a enfrentar esses medos e preocupações de maneira positiva e com acolhimento”, reitera Elaine.
Quando é preciso tratamento?
Ser apenas uma criança ativa e curiosa está longe de ser sinônimo de transtorno psíquico, já que a ansiedade é uma reação natural dos seres humanos. Dessa forma, é necessário encarar atentamente se existem sintomas mais sérios e qual a manifestação deles no dia a dia.
O período entre os seis e oito anos, já em idade escolar, é quando ficam ainda mais evidentes.
“Ansiedade e medo são considerados patológicos quando são desproporcionais e interferem na qualidade de vida, conforto emocional ou desempenho diário da criança”, aponta a especialista.
Sinais de uma criança ansiosa
1. Sensações repentinas de insegurança ou desconforto intensas – a criança pode até falar sobre ter medo de morrer;
2. Medo extremo de falar em público;
3. Falas ou atitudes que demonstrem uma preocupação cotidiana;
4. Queixas corporais, como dor de barriga, embrulho no estômago e palpitação sem causa clínica;
5. Dificuldade para dormir ou se alimentar;
6. Queda no rendimento escolar ou no foco;
Como tratar
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) conta com diversas técnicas sem medicamentos que ajudam a criança a relaxar, treinar sua exposição para o mundo e as habilidades sociais, fora que é a primeira opção indicada por especialistas.
A ideia é habituar a criança às situações que incomodam e mudar o significado. Por exemplo, se há fobia em andar de carro, o método trabalha novas formas de enxergar aquela vivência e, aos poucos, dissolve a importância do medo no cérebro infantil.
Com a ajuda do terapeuta, os familiares também passam a entender o que engatilha a ansiedade e como ajudar os pquenos a lidarem com ela.