A episiotomia, também chamada de “pique”, é um procedimento que consiste em um pequeno corte na região do períneo durante o parto vaginal feito com a justificativa de ajudar na expulsão do bebê. Sem nenhum respaldo científico sobre seu necessidade e efetivos benefícios, a prática é alvo de muitas críticas e está longe de ser um consenso entre os médicos.
Episiotomia
De acordo com a médica e obstetra Dra. Melania Amorim, em seu blog Estuda, Melania, Estuda, a episiotomia foi introduzida nos partos no século 18 por um obstetra irlandês, mas foi no século 20 que se popularizou. De acordo com a profissional, foi nessa época que o nascimento passou a ser visto como algo que requer intervenção médica e não um processo natural do corpo da mulher. Com isso, o corte se popularizou de passou a ser feito de rotina, em todas as mulheres, mesmo em casos em que não havia nenhuma suposta necessidade.
Foi apenas na década de 70 que a prática começou a ser questionada. Agora, estudos sérios, grandes e baseados em evidências científicas vão colocando luz na questão e gerando mudança nas condutas profissionais.

Pique no períneo
Recentes pesquisas médicas aliadas ao maior engajamento das mulheres sobre a autonomia do seu corpo está tornando a prática cada vez mais obsoleta, levando muitos médicos a abandonarem o procedimento.
Estudos clínicos estão quebrando, um por um, os motivos que sustentavam a prática, mostrando que além de não trazer benefícios para preservar o assoalho e a musculatura pélvica, a prática pode ser pior do que a ocorrência de uma laceração natural, que geralmente é menor e tem melhor desfecho.
Episiotomia: por que não fazer?

Falácia do assoalho pélvico
Uma das justificativas utilizadas por médicos para realizarem o procedimento diz respeito à proteção do assoalho pélvico materno. Conforme Dra. Melania – com base em uma revisão bibliográfica sobre o tema – a episiotomia de rotina não protege contra incontinência urinária ou fecal, e tampouco contra o prolapso genital, associando-se com redução da força muscular do assoalho pélvico em relação aos casos de lacerações perineais espontâneas.
Sangramento
Quando a cirurgia de rotina não é realizada a perda sanguínea é menor, há menor necessidade de sutura e há menor frequência de dor perineal.
Laceração profunda
Médicos costumavam justificar a episiotomia como uma forma de evitar uma laceração perineal, porém o procedimento já é, por si só, uma laceração, só que de segundo grau. Pesquisas demonstram que quando a prática não é realizada pode não ocorrer nenhuma laceração durante o parto, ou até ocorrer, mas de primeiro grau.

Falsa prevenção
A episiotomia não reduz o dano perineal, ao contrário, aumenta-o: uma prática de episiotomia restritiva reduz o risco de lesão perineal grave; nas episiotomias medianas é maior o risco de lacerações de terceiro ou quarto graus;
Dor em relações sexuais
A episiotomia aumenta a chance de dor pós-parto e dispareunia;
Impactos relacionados
A episiotomia pode cursar com complicações como edema, deiscência, infecção (até fasciíte necrosante) e hematoma;
Casos específicos
A recomendação atual da Organização Mundial de Saúde não é de proibir a episiotomia, mas de restringir seu uso, admitindo-se que em alguns casos ela pode ser necessária.
Nessas circunstâncias é importante ressaltar que como todo procedimento cirúrgico, a episiotomia só deve ser realizada com o consentimento da mulher antes do parto, caso contrário a intervenção nada mais é do que um caso de violência obstétrica.
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