– Pai, por que você trabalha?
– Para ganhar dinheiro.
– E por que ganhar dinheiro?
– Para pagar as contas, filho.
– E depois de pagar as contas?
– Se sobrar alguma coisa, eu guardo.
– Onde?
– No banco.
– E até quando você vai trabalhar?
– Até me aposentar.
– E depois que se aposentar?
– Não sei, ainda falta muito tempo, filho.
– Quanto tempo?
– Tanto tempo que você já vai ser adulto.
– E o que eu vou fazer quando for adulto?
– Trabalhar.
– E trabalhar por quê?
– Ah, menino, me deixa ler o jornal e vá perguntar para sua mãe”.
Que as crianças são mesmo curiosas e possuem uma mente fértil, não há dúvidas. Certamente, você já foi pego de surpresa com alguma dúvida cabeluda dessas de colocar qualquer “de onde vêm os bebês” no chinelo. O que você faria se seu filho viesse com as perguntas: “Quem criou Deus?”, “Se o ar está poluído, por que não desligam as indústrias?”, “É verdade que, se os peixes-boi forem extintos, não haverá mais chocolate?”. Sair correndo não vale. Nem rir.
Despertada a partir dos três anos, a curiosidade é fundamental para o desenvolvimento do baixinho. “A curiosidade é saudável e necessária. É ela que leva à compreensão de si, do outro e do universo. Quando incentivada por pais e educadores, faz com que a criança queira, cada vez mais, adquirir novos conhecimentos. Se não for encorajada pode gerar falta de confiança, medo e até sentimentos repressivos”, revela a psicóloga e escritora Cristina Locatelli.
Despertando a curiosidade
Ainda que muitos pais achem que a criança só desperta sua habilidade de detetive aos três anos de idade, a curiosidade costuma dar o ar da graça bem antes disso. “Ela aparece no momento em que o pequeno vê o mundo pela primeira vez. Claro que de um modo mais elementar: através dos sons, paladar, contato e observação dos movimentos ao redor. Quando cresce e domina a fala, passa a se manifestar através de perguntas”, esclarece Cristina. “Primeiramente, a curiosidade é formulada através do nome das coisas (o que é isto?). Apenas quando a criança ganha um determinado nível de individuação (observa o mundo separado de si) e começa a perceber que existe uma relação de causa e efeito entre as coisas, passa a questionar sua funcionalidade e causalidade (por que?)”, acrescenta a psicóloga Vera Zimmerman.
“Vale lembrar que até os seis anos de idade, a causalidade tem uma lógica mágica, sem o caráter de uma observação científica. Logo, se a mãe ficou doente após brigar com a criança, por exemplo, ela pode concluir que fez a mãe chegar a esse estado”, explica Vera.