Cuidado, frágil!

Cuidado! É frágil e pode quebrar. Não vem embalado em uma caixa dos Correios e muito menos chega no bico de uma cegonha. Costuma fazer muito barulho e sujeira, apesar de ser tão pequenininho. Exige atenção 24 horas, trabalho, dedicação e uma pessoa qualificada para o serviço, porém não dá garantia de carteira assinada. Ah! Os benefícios extras? Vêm com tempo. É, realmente, ser mãe pode significar padecer no paraíso, como já escreveu o poeta Coelho Neto. Ainda mais se considerarmos os primeiros meses de uma criança, época em que se tem como rotina: fraldas, banhos, amamentação e cuidados muito, muito especiais.

“Não dá para fechar a porta e ir embora ou ignorar um problema em relação ao seu filho. É uma responsabilidade muito grande”, afirma Olívia Bernardes, mãe de três filhos e professora do curso “Marinheira de Primeira” – um tipo de guia para as gestantes que, na maioria das vezes, não têm noção do universo que irão enfrentar após o parto. De formação pedagógica, Olívia sentiu a necessidade de passar para outras mulheres tudo o que aprendeu ao ter seu primeiro filho. Não só conhecimento, como também apoio e carinho. “Eu não entro nas questões médicas. Cada mãe deve seguir as orientações do seu pediatra. O que eu tento é passar conforto e segurança com dados que obtive através de pesquisas e também com a minha própria experiência como mãe”, comenta. Ela ainda ressalta: “É impressionante a capacidade das pessoas em lembrar coisas ruins para uma mulher que está grávida. ‘Olha, o leite da fulana secou’, ‘Ih, o meu sobrinho sofreu muito com isso’, e por aí vai. É preciso ter informação para não entrar em papos como esses”, orienta.

Eu não levo o menor jeito com criança! E se na hora de segurar eu o acabar machucando? Ai, não quero nem pensar nisso

Durante as aulas, Olívia discute itens fundamentais do dia-a-dia de uma mãe; dos cuidados da amamentação ao banho, lista básica de enxoval, recomendações na hora de contratar uma babá, noções sobre motivos de choro do bebê, enfim… Tudo que é necessário saber para não se desesperar sem um motivo real. “Detalhes” que irão colaborar para que o emocional daquela mulher esteja em equilíbrio e, conseqüentemente, o do pai e o da criança. Com a inserção da mulher do mercado de trabalho, a presença do pai se tornou tão essencial quanto a da mãe. E muitos deles sabem disso.

Ter um filho envolve outras questões, como a mudança do corpo com a gestação e as inseguranças femininas decorrentes. “Tem mulher que não gosta de amamentar, por exemplo. Não é algo fora do normal. Acontece. Só que ela não deve se achar a pior pessoa do mundo e nem ter medo ou vergonha de falar isso. Ela precisa saber como lidar com esta questão, afinal, a amamentação é indispensável”, explica. Para Olívia, o importante é que a “marinheira de primeira viagem” entenda: a criança nunca teve pai ou mãe. Não teve nenhum cuidado anterior para ter uma base de comparação e fazer críticas. Por isso, não há por que se sentir incapaz como mãe. O que a criança apenas consegue perceber é que foi feito com amor. Precisa de mais? Assim, não é estranho de se encontrar marujas experientes repetindo ou fazendo o curso, como avós e até babás. “Ser mãe é, realmente, uma doação”, completa. E para quem se interessar, o curso, atualmente, acontece no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Por mares nunca dantes navegados…

“Eu não levo o menor jeito com criança! E se na hora de segurar eu o acabar machucando? Ai, não quero nem pensar nisso”, diz a estudante de jornalismo Mônica Costa, de 26 anos. Grávida de cinco meses da Maria Eduarda, ela ainda não leu nada sobre os primeiros cuidados que se deve ter com o bebê e nem conversou com ninguém sobre o assunto. “Acho que é algum bloqueio por causa da responsabilidade que isso envolve. Quando penso na minha filha, já a imagino na adolescência. Pulo a infância mesmo! Ainda estou digerindo o fato de estar grávida”, comenta. No momento, ela só tem se preocupado com o antes do parto. Quando amigos ou conhecidos falam da trabalheira que se tem para cuidar de um bebê, ela ainda brinca: “Ih… Não quer aparecer lá em casa quando a Duda nascer?”. Uma coisa de cada vez…

Agora, se ela não pensa, a sua mãe demonstra o contrário. A avó da Duda decidiu por conta própria que Mônica ficará em sua casa durante três meses após o nascimento da criança. “Ela sabe que vou ficar muito assustada quando minha filha nascer”. E diz isso se sentindo mais segura, apesar de já ter outra vantagem: Diego, o pai da Maria Eduarda, cuidou da sobrinha, hoje com cinco anos, desde que ela nasceu. Trocava fralda, dava o banho, comida… “Era a babá oficial da menina!”, conta a estudante, sortuda pelo menos na questão de ter gente para ajudar!