De olho aberto

Após nove meses de gravidez, o bebê chega ao mundo e descobre que há muita coisa para desvendar além daquela escuridão do útero materno. No entanto, seu sistema visual, ainda prematuro, impede que ele enxergue os objetos com riqueza de cores e nitidez. A musculatura ocular em desenvolvimento não permite que o recém-nascido foque os objetos e, até o terceiro mês de vida, ele só é capaz de diferenciar o claro do escuro, como se o mundo fosse preto e branco. A cada dia sua visão vai se aprimorando e apenas aos cinco anos ele passa a enxergar tudo como um adulto.

Logo que o bebê nasce, faz-se uma série de testes para ver se ele apresenta algum problema na visão e ministram-se colírios para evitar infecções

Mas se durante este “período de adaptação” natural você percebe que a criança não responde muito bem aos estímulos externos, algo pode estar errado. Ele não olha para os brinquedos, não reage à luz, franze a testa para assistir ao desenho animado na televisão, seus olhos ficam vermelhos e lacrimejam com facilidade. Ao que parece, seu filhote está com problemas de visão. “Logo que o bebê nasce, faz-se uma série de testes para ver se ele apresenta algum problema na visão e ministram-se colírios para evitar infecções”, afirma Newton Kara José Junior, professor da USP e oftalmologista do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. No entanto, apesar desses cuidados, nem sempre é possível impedir o aparecimento de alguns problemas.


As estatísticas mostram

Cerca de 3% dos bebês em todo o mundo sofrem de problemas de visão e a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica prevê o surgimento de 710 novos casos de cegueira em crianças a cada ano. “Enquanto os casos de retinopatia são muito comuns em primogênitos dos sete aos 11 anos, muitas crianças sofrem com vícios de refração como miopia hipermetropia e astigmatismo”, revela Newton.

Dentre as doenças visuais que podem acometer as crianças, estão:

Obstrução Congênita da Vias Lacrimais – Muito comum em bebês com menos de um ano de idade, a obstrução do canal lacrimal leva ao lacrimejamento constante. A causa costuma ser uma membrana na cavidade nasal ou estreitamento do canal, o que retém a lágrima por longos períodos, levando à inflamação no canto interno e inferior do olho.

Retinopatia
– É muito comum em prematuros. “Quando o bebê nasce prematuro, a retina não é bem vascularizada. Logo, falta oxigênio e ela começa a morrer”, diz o oftalmologista Newton Kara José Junior. Se não for tratada a tempo, pode gerar descolamento da retina.

Retinoblastoma – É um tumor ocular que atinge uma em cada 20 mil crianças no mundo. Se caracteriza por uma massa branca dentro do olho. Quando descoberto a tempo, o retinoblastoma pode ser removido.

Glaucoma congênito – “Ocorre quando o líquido produzido pelo olho não escoa, aumentando a pressão sobre o globo ocular”, explica Newton. O glaucoma gera lacrimejamento freqüente e aversão à luz. As crianças com essa doença costumam apresentar olhos grandes e o tratamento precisa ser imediato, pois há risco de cegueira.

Catarata congênita – “O cristalino do olho que foca a imagem fica opaco e a luz não chega a retina”, esclarece o oftalmologista. A catarata congênita caracteriza-se pelo aparecimento de uma mancha esbranquiçada que pode diminuir a visão da criança ou levá-a à cegueira total.

Erros de refração – É a alteração de visão em um ou nos dois olhos. Existem três erros de refração muito comuns: miopia (a focalização da imagem é feita antes da retina. A pessoa consegue ver de perto com nitidez, mas de longe os objetos ficam desfocados), hipermetropia (a imagem é formada após a retina. Enxerga-se bem de longe, mas há dificuldades em focar objetos de perto) e astigmatismo (formato irregular da córnea ou do cristalino que leva a pessoa a ver os objetos desfocados de perto). Segundo Newton, a hipermetropia e o astigmatismo causam dores de cabeça.

Estrabismo – Caracteriza-se pelo desvio dos olhos, para dentro, para fora ou na vertical (um olho mais alto que o outro). O estrabismo gera diminuição da visão do olho desviado e pode resultar em dores de cabeça, visão dupla e torcicolo, já que a criança inclina a cabeça para compensar o desvio. “Até os sete anos de idade, o estrabismo pode ser corrigido com o uso de um tampão no olho sadio que obriga o olho desviado a se desenvolver”, observa o médico.