A modernidade possibilitou diversas facilidades na vida de quem tem filhos pequenos para criar: fraldas descartáveis, babás eletrônicas, carrinhos mais seguros, lenços para a higiene… Na internet, vários serviços têm sido oferecidos para as mães, ávidas por novidades e soluções práticas. Algumas têm, inclusive, usado a grande rede para reinventar um hábito cultivado por suas avós: o de escrever diários. Hoje, eles vêm na forma de blogs e contam as maravilhas, os temores e os desafios da maternidade.
A publicitária Ana Kessler, de 34 anos, é uma que embarcou na onda dos “diários virtuais de bebê”. A idéia surgiu quando sua filhinha, Ana Beatriz, estava com nove meses, em abril de 2006. “Decidi fazer o blog da Bia ( O sapo não lava o pé) para me obrigar a registrar momentos do início de vida dela, momentos que passam tão rápido e que se não colocamos no papel, a memória apaga. Mostrou-se também uma ótima maneira da minha família, que é gaúcha, acompanhar o desenvolvimento da carioquinha da família”, conta. Agora que Ana voltou para Porto Alegre, é o ex-marido e a família dele, que moram no Rio de Janeiro, que acompanham as peripécias da baixinha pelo blog. “E ai de mim se fico uma semana sem atualizar!”, acrescenta a publicitária.
A mamãe-blogueira confessa que, no fundo, fez o blog para que ela e a filha pudessem lê-lo no futuro. “É meu maior presente para ela. Eu adoraria ter algo meu assim, para relembrar. Infelizmente, na época, mal havia máquina de fotografia portátil. E, bem, minha mãe tinha três filhos – e não havia fraldas descartáveis! Aí só com poderes sobrenaturais para arranjar tempo (e fôlego) para escrever diários”, diz Ana, que fez algo que é visto em muitos blogs escritos por mães: adotar a primeira pessoa do singular, como se sua filha (e não ela própria) estivesse escrevendo. “Isso permite uma certa auto-crítica – ‘ela’ reclama de coisas que eu faço ou deixo de fazer, porque educar não é fácil e nem sempre a gente acerta. E também liberdade de criação, tanto no uso das palavras quanto na visão fantasiosa e mais inocente das coisas da vida. Eu curto demais”, diverte-se.
Mais do que um diário ou mesmo um registro do crescimento da criança, alguns blogs fazem tanto sucesso entre as mães que acabam virando fóruns, veículos de comunicação entre elas. Um bom exemplo é o Desabafo de Mãe, que ampliou-se e transformou-se em um portal colaborativo “de mães para mães”, onde elas podem não só desabafar, mas se informar e trocar idéias, conselhos e dicas úteis. O blog, criado em 2006, ainda está no ar, mas agora conta com colaboradores. “Diante dessa experiência, percebi o quanto era necessário ter um lugar que deixasse os comentários mais visíveis e pudesse reunir outras mães. Então, surgiu a idéia do site, com o propósito de ser um lugar onde qualquer um pode falar, um espaço para compartilhar coisas relativas à maternidade e filhos”, explica a jornalista Ceila Santos, de 33 anos, criadora do blog e do site. Para ela, o intercâmbio de experiências entre as mães (e pais) no mundo virtual é importante e muito rico. “As mães têm uma característica comum: gostam de cuidar, inclusive de quem vive a mesma situação que já vivemos ou estamos vivendo”, ressalta a blogueira, que é mãe de uma menina de três anos de idade.
Mães modernas
Outro blog que fez sucesso e expandiu seus limites além da web foi o Mothern, criado pelas publicitárias Juliana Sampaio e Laura Guimarães, que virou livro em 2005 ( Mothern – Manual da Mãe Moderna, pela editora Matrix), e inspirou, no ano seguinte, a série de TV homônima do canal pago GNT. O nome vem da junção das palavras mother (mãe) e modern (moderna). “O Mothern surgiu de uma troca de e-mails entre eu e a Laura, quando trabalhávamos juntas em uma agência de publicidade. A gente estava comentando que não nos identificávamos com as representações de mães que apareciam na mídia em geral, e, brincando, eu sugeri, ‘que tal se a gente montasse o site da mãe moderna?’. A Laura levou a sério a proposta e sugeriu este trocadilho em inglês. Em janeiro de 2002, acabamos resolvendo montar um blog que é uma ferramenta de publicação muito simples e gratuita”, recorda Juliana Sampaio, revelando que não havia um objetivo muito claro quando a “empreitada” começou: “Escrevíamos pelo puro prazer de refletir sobre nosso papel de mães – papel ao qual ainda estávamos nos acostumando, pois as crianças eram pequenas. O tom principal era de humor: a gente queria mesmo era rir e fazer palhaçada com as nossas tragicomédias diárias”, afirma ela, hoje com 37 anos e mãe de Alice, que está completando 8 anos.
O estilo mothern de ser atraiu não apenas leitores, dando origem à primeira série de dramaturgia nacional da GNT. Mas é claro que o sucesso não foi tão repentino. “O blog começou a atrair um número cada vez maior de mulheres que se identificavam com nossa maneira de enfocar a maternidade e criou-se uma comunidade enorme em torno do nosso Livro de Visitas. Depois, enviamos alguns textos para a revista TPM e passamos a escrever uma coluna lá”, explica Juliana. Outras portas, então, foram se abrindo para as motherns, que foram convidadas pela editora Matrix para publicar um livro.
Depois de um ano, finalmente, um diretor da produtora Mixer conheceu o trabalho de Juliana e Laura e propôs uma adaptação para a TV. “Ficamos muito felizes com cada uma dessas conquistas, principalmente porque elas significam que um número cada vez maior de pessoas vão ter acesso às idéias: vão rir e refletir (afinal, o humor é uma boa ferramenta para desarmar as pessoas) sobre o papel da mulher na sociedade, o peso desse discurso da ‘conciliação de tarefas’, o quanto o cuidado com os filhos ainda acaba recaindo quase integralmente sobre as mães etc”, diz.