Marianna Feiteiro
Do Bolsa de Bebê
Além de ser um possível indicativo de outras doenças, a respiração feita pela boca é extremamente prejudicial para a criança, podendo acarretar complicações até a vida adulta.
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Segundo o ortopedista facial e ortodontista Gerson Köhler, membro da Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial, filiada à World Federation of Orthodontists, nos Estados Unidos, inspirar o ar pela boca é uma das principais causas da alteração do crescimento facial. “A respiração bucal provoca a geração progressiva de alterações ortopédicas e ortodônticas da região dentofacial e deve ser combatida precocemente”, alerta.
A prática pode acarretar outras consequências. Baixo rendimento escolar, distúrbios do sono, irritabilidade, dores de cabeça, sonolência diurna e redução da concentração são algumas delas. “O nariz é o caminho correto para a respiração normal, necessária para a correta oxigenação do sangue, que nutre nosso cérebro e todo o nosso corpo. Ele funciona como um condicionador: filtra, aquece, umidifica e pressuriza o ar que vai para os pulmões. Se o nariz não funciona por questões obstrutivas, o ar não chega de forma condicionada aos pulmões, e é justamente este estado em que o ar chega que faz toda diferença entre uma boa saúde e as doenças na vida cotidiana”, explica o especialista.
Respirar pela boca pode exercer uma série influências negativas à saúde dos tecidos bucais, principalmente gengivas e dentes, que tornam-se mais suscetíveis a inflamações e infecções. Outra consequência do hábito, esta que se manifesta na fase adulta, são os distúrbios do sono. Além do ronco e apneia obstrutiva, a pessoa pode desenvolver o “apertamento dos dentes” (ou apertamentos repetitivos da musculatura mastigatória, na linguagem técnica). Estas complicações, por sua vez, acarretam sonolência diurna e dores de cabeça tensionais iniciadas nas têmporas, uma vez que os músculos temporais foram contraídos durante a noite por conta do apertamento dentário.
Por fim, a respiração pela boca afeta a condição de memória das crianças, bem como sua capacidade de concentração, culminando em um baixo rendimento escolar.
Todas as consequências citadas estão ligadas ao baixo nível de oxigenação sanguínea. É crucial, portanto, que o tratamento seja iniciado assim que a condição for detectada e que os pais fiquem atentos. “A principal causa costuma ser a hipertrofia, ou seja, crescimento exagerado da adenoide, situada na parte traseira das narinas. Outros fatores incluem ocorrer alterações na anatomia interna do nariz, bloqueando a respiração nasal, a presença de rinites, principalmente as alérgicas, e de amigdalas platinadas”, enumera o especialista.
Segundo ele, o tratamento deve ser feito de forma multidisciplinar, uma vez que as causas e consequências do problema podem ser muitas. “Entrarão em ação não somente o médico pediatra, como também o otorrinopediatra, pois a respiração bucal pode sinalizar que a via aérea superior está obstruída, e o ortopedista facial, para conter os possíveis danos ao desenvolvimento facial da criança”, explica Gerson, ressaltando também a ação do fonoaudiólogo, que será encarregado de restaurar e readequar as funções viciosas da respiração.