Testes neonatais

Nem bem acabam de dar à luz os seus bebês, as mamães precisam ficar atentas a três importantes exames médicos a que logo terão de submetê-los, mesmo que sejam aparentemente saudáveis. Os testes do olhinho (ou reflexo vermelho), da orelhinha e do pezinho, também chamado de triagem neonatal, diagnosticam e previnem graves doenças no recém-nascido, possibilitando melhores resultados para eventuais tratamentos. Mais conhecido e temido, o teste do pezinho faz algumas mães chorarem mais do que seus bebês, fazendo com que adiem o sofrimento. No entanto, perder o prazo certo para os exames pode ser um erro irremediável.

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Segundo o pediatra José Roberto de Moraes Ramos, do Departamento Científico de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, os pais devem realizar os exames em épocas próprias, sob pena de serem ineficazes. “O teste do pezinho, por exemplo, não deve ser feito nas primeiras vinte e quatro horas de vida, pois será grande o índice de falsos positivos ou negativos. Podemos falar que existe uma janela ótima para a realização desse exame, que vai do terceiro até o vigésimo dia de vida”, alerta o médico, lembrando que o hipotiroidismo e a fibrose cística – duas das doenças genéticas, metabólicas e infecciosas pesquisadas pelo exame – são diagnosticáveis apenas até o segundo e o terceiro meses, respectivamente.

O normal é apenas dar uma espetadinha no calcanhar. E isso não dói. O problema é que algumas vezes é preciso apertar o pezinho, pois algumas crianças têm o sangue mais viscoso, que precisa ser ordenhado para descer

José Roberto Ramos afirma que o teste da orelhinha, para a verificação de casos de surdez hereditária ou por infecções congênitas ou no pós-parto, deve ser realizado logo após o nascimento e até três meses, sendo que o ideal seria não ultrapassar o primeiro mês. Ainda na maternidade ou na consulta pediátrica, na primeira semana de vida, é o limite para fazer o exame do reflexo vermelho, que identifica doenças que podem causar cegueira, como a retinopatia da prematuridade, a catarata e o glaucoma congênitos e o retinoblastoma, um tumor ocular que pode ser maligno.

Teste do pezinho

Surgido no Brasil na década de 70, o teste do pezinho é o pioneiro em diagnóstico neonatal, possibilitando o tratamento precoce de doenças que afetam o desenvolvimento neuropsicomotor do bebê. “Quando surgiu, o teste era básico, para a pesquisa da fenilcetonúria e do hipotireoidismo. Aos poucos, ele foi sendo ampliado e, hoje, temos o teste plus, que abrange mais dez a vinte doenças ao analisar as ramificações de certas anomalias, como as hemoglobinopatias. No total, pode-se chegar à pesquisa de 45 doenças”, explica o pediatra José Roberto Ramos.

O pediatra acrescenta que apenas o teste comum (que detecta hipotiroidismo congênito, fenilcetonúria, fibrose cística e anemia falciforme, uma das hemoglobinopatias) é encontrado na rede pública de saúde. “Essas quatro doenças são as mais frequentes e mais tratáveis, se diagnosticadas precocemente. As outras são tão raras que não justificariam serem feitas na rede pública devido ao seu altíssimo custo”. Na rede particular, os testes ampliados são cobertos pelos planos de saúde, sendo hoje adotados em larga escala por pediatras.

Visto com temor pelas mães, o exame do pezinho é feito a partir do sangue do calcanhar do bebê, região bastante irrigada, de onde são colhidas várias gotinhas de sangue, armazenadas em papel filtro que segue para análise. Quanto à melhor técnica de realizá-lo, com menor sofrimento para bebê, o pediatra José Roberto de Moraes Ramos esclarece: “O normal é apenas dar uma espetadinha no calcanhar. E isso não dói. O problema é que algumas vezes é preciso apertar o pezinho, pois algumas crianças têm o sangue mais viscoso, que precisa ser ordenhado para descer”.

Teste de visão

O teste do olhinho, assim como o da orelhinha, é simples e indolor. Por meio de uma lanterninha e em ambiente escuro, o próprio pediatra observa se o reflexo que vem das pupilas tem tons de vermelho, o que revela olhos saudáveis. Se não houver reflexo ou ele for esbranquiçado (o chamado reflexo do olho de gato), pode haver problemas e o bebê deve ser encaminhado a um oftalmologista para detalhar o diagnóstico e o tratamento corretos.

Teste da audição

Já o teste da orelhinha consiste na colocação, por dez minutos, de um fone acoplado a um computador que emite sons de fraca intensidade no ouvido do recém-nascido, que deve estar dormindo. O exame, feito por fonaudiólogos em geral nas próprias maternidades, é imprescindível para todos os bebês, principalmente os que têm histórico de surdez na família, internação em UTI por mais de 48 horas, infecção por rubéola, sífilis, toxoplasmose, citomegalovirus e herpes durante a gestação e anormalidades craniofaciais (má formação de pavilhão auricular, fissura lábio palatina), dentre outros problemas.

Garantia de saúde

Não existe uma lei federal específica que discipline a realização obrigatória e gratuita dos testes do pezinho, da orelhinha e do olhinho no país, mas, na prática, eles são realizados na rede pública de saúde dos grandes centros urbanos, devido a leis municipais e estaduais isoladas. O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Federal 8.069/1990) dispõe, de forma vaga, em seu artigo 10, que as maternidades, públicas ou particulares, são obrigadas a “proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais”. Mães e pais, portanto, devem se informar para que seu bebê possa fazer os três exames neonatais, garantindo-lhe um direito fundamental à saúde e à vida.

Doenças encontradas pelo teste do pezinho

Fenilcetonúria: doença decorrente de uma deficiência enzimática que pode levar à degradação progressiva do cérebro. A criança não consegue metabolizar uma substância contida em diversos alimentos chamada fenilalanina, que se acumula no organismo e torna-se altamente tóxica.

Hipotiroidismo congênito : insuficiência da atividade hormonal da tireóide que diminui o metabolismo energético dos tecidos, causando diferentes graus de deficiência física e mental.

Fibrose cística: doença genética que causa o aumento de cloreto de sódio no suor, deficiência no pâncreas e doença pulmonar obstrutiva crônica.

Hemoglobinopatias: doenças genéticas na estrutura da molécula de hemoglobina ou na sua produção. A anemia falciforme é a mais comum, consistindo na deformidade nas hemácias, que provoca entupimento de vasos e necrose dos tecidos, resultando em infecções.