Tire isso da cabeça! > Coça-coça

O ato de coçar a cabeça freqüentemente é o principal indício de pediculose. A coceira costuma ser mais intensa na nuca e atrás da orelha. “O piolho é um inseto pequeno, com cerca de 2,5 mm de comprimento, marrom-acinzentado, que gosta das regiões mais quentes do couro cabeludo, onde fica melhor escondido”, descreve o dermatologista Sergio Barbosa. Ele explica que o parasita é hematófago, ou seja, se alimenta de sangue humano, e são as picadas que faz na cabeça que causam a sensação desagradável de comichão. “Para amenizar a coceira, podem ser usadas loções com corticosteróides ou anti-histamínicos por via oral, o que somente deve ser feito por orientação médica”, destaca Sergio.

Muitos pais jogam querosene, creolina e gasolina na cabeça das crianças. Isso é um perigo! Estes produtos são extremamente tóxicos e podem levar à morte

O desconforto da coceira não é a única conseqüência da pediculose. O ato de coçar a cabeça violentamente pode gerar infecções secundárias. “Isso é especialmente perigoso nas crianças porque elas, em geral, não têm tanto o hábito de lavar as mãos por si mesmas. Então, depois de brincarem na terra, coçam a cabeça com as unhas sujas, o que pode ocasionar feridas e infecções. Em alguns casos, quando mal alimentadas, a infestação de piolhos pode deixa-las anêmicas”, observa o biólogo Júlio Vianna Barbosa. O dermatologista Sergio Barbosa menciona, ainda, o inchaço de gânglios no pescoço. Além disso, o sono e o rendimento das crianças na escola ficam comprometidos devido ao ataque dos piolhos e até mesmo a possíveis preconceitos que possam sofrer.

Mas, então, o que fazer para evitar ou tratar a pediculose? Em um mês, um piolho fêmea pode gerar até 150 lêndeas, portanto, quanto mais rápido se perceber o problema, mais fácil será expulsar os intrusos do couro cabeludo. Para começar, é bom estar atento às crianças e inspecionar suas cabeças com freqüência, se possível diariamente, e desconfiar logo quando perceber que estão se coçando muito. É importante educá-las a não usarem pentes, escovas, chapéus e presilhas de cabelo de colegas nem emprestarem os seus. Para Júlio Barbosa, a outra dica infalível, para prevenir e também para remediar, é a boa e velha “receita da vovó”: o pente fino. “Passar o pente fino todos os dias dificulta a reprodução dos piolhos e os solta dos fios. Mas deve-se utilizar sempre um pano branco para evitar que os insetos caiam na roupa”, indica Júlio. Ensinar a criança a usar o pente fino durante o banho também é válido, já que nesse momento fica mais fácil passá-lo e os piolhos são eliminados juntos com a água corrente.

Paciência e pente fino

O biólogo diz que as loções e xampus vendidos em farmácias que prometem acabar com a pediculose não surtem muito efeito. “Normalmente, esses produtos trazem na embalagem um pente fino de ‘brinde’. É claro que quem faz o trabalho principal é justamente o pente. Mesmo os que matam os piolhos não funcionam sempre. Os novos insetos que nascem já desenvolvem certa resistência às substâncias e, por isso, os produtos não fazem mais efeito”, afirma. O dermatologista Sergio Barbosa recomenda, porém, o tratamento com permetrina (loção), que mata o piolho em poucos minutos. Ele descreve o modo de usar: “Com o cabelo lavado, passe o remédio e coloque uma touca por 10 minutos. Uma aplicação é capaz de matar todos os piolhos, mas por segurança faz-se o tratamento por dois dias seguidos, suspendendo em caso de irritação. Repita após sete dias. Todos em casa devem ser tratados. Use condicionador, se necessário, e pente fino no banho por até dois meses para garantir”.

Há, ainda, remédios orais, mas tanto o biólogo quanto o dermatologista fazem ressalvas sobre o seu uso. “Alguns médicos indicam a ivermectina, mas não deve ser a primeira escolha e parece não ser tão efetiva quanto a permetrina. Alem disso, ela só pode ser usada por crianças com mais de 15 quilos. Este é um medicamento que não deve ser tomado sem prescrição médica”, reitera Sergio.

As lêndeas, que são os “ovos” dos piolhos, são mais difíceis de tirar. “Não há nenhum produto eficaz contra elas. O pente fino ajuda muito, mas pode não arrastar todas. O que se pode fazer é embeber um pedaço de algodão em vinagre diluído em água, e, com ele, envolver uns quatro fios de cabelo e puxar da base para a ponta. Essa solução rompe a ‘cola’ que prende a lêndea ao fio”, orienta Júlio. Um grande erro é o uso de inseticidas para acabar com o problema. “Muitos pais jogam querosene, creolina e gasolina na cabeça das crianças. Isso é um perigo! Estes produtos são extremamente tóxicos e podem levar à morte”, alerta o biólogo.

Apesar de ser o mais comum e conhecido, o Pediculus humanus capitis não é o único tipo de piolho existente. Há, ainda, outros dois que são parasitas de humanos: o Pediculus humanus corporis, que é popularmente chamado de “muquirana” e ataca a pele em várias partes do corpo, e o Phthirus púbis, mais conhecido como “chato”, que se prende aos pêlos pubianos e é transmitido principalmente pelo contato sexual.

Qualquer que seja a origem, é importante que a infestação, quando descoberta, não seja ocultada por constrangimento. Siga as recomendações para evitar o contágio e procure um especialista para receitar um bom medicamento. “A população mais carente tem maior dificuldade em erradicar o piolho, pois muitos não têm condições de adquirir medicamentos eficazes. Esta dificuldade é agravada em casas onde moram muitas pessoas”, diz o dermatologista Sergio Barbosa. O pente fino, no entanto, é um ótimo aliado para todos e pode (e deve) ser usado sempre.

O biólogo Júlio Vianna Barbosa desenvolveu, com uma equipe do Instituto Oswaldo Cruz, o Disque-Piolho, serviço que atende à população por telefone dando orientação e dicas de como tratar a pediculose. O número do Disque-Piolho é: (21) 2598 4379, ramal 126. Mais informações sobre a doença podem ser obtidas nos sites www.piolho.fiocruz.br e www.piolho.org.br.