Nós, mulheres, somos verdadeiras lutadoras. Saímos de casa, entramos no mercado de trabalho, nos tornamos independentes. Mas, paradoxalmente, apesar de todas essas demonstrações de força, ainda somos vistas como o sexo frágil. Agora, agüentar as dores de parto, cólica menstrual, depilação, limpeza de pele e todos os tratamentos que praticamente tiram o nosso coro, isso a gente tem a obrigação de fazer. É, também lutamos pela beleza. Algumas representantes da ala feminina, no entanto, resolveram levar isso ao pé da letra e foram buscar no boxe e nas artes marciais uma alternativa para entrarem em forma, extravasarem as emoções, aprimorarem a coordenação motora e ainda aprenderem técnicas de defesa pessoal. Isso mesmo, a luta se estendeu para o tatame, ringue ou mesmo o chão de uma academia de ginástica, com direito a socos e pontapés.
Abaixo aos filmes de Bruce Lee, Daniel San, Rocky Balboa e demais demonstrações violentas de luta! Quem disse que as artes marciais abrangem esportes exclusivos para homens ainda não deu uma olhada nas academias de ginástica e constatou que os calções e quimonos foram substituídos pelos shortinhos, blusas e nada mais, nada menos que o charme feminino. Modalidades como o Boxe, Taekwondo, Karatê, entre outras, foram adaptadas, tornando-se atividades descontraídas e benéficas ao corpo e mente. O diretor técnico das academias Bodytech do Rio de Janeiro, Amaury Marcello, explica que combinar golpes com movimentos aeróbicos foi uma idéia desenvolvida para levar para as academias aulas descontraídas e, ao mesmo tempo, eficazes. “As lutas marciais são boas para desenvolver o sistema cardiovascular, aumentando o preparo físico, além de estimularem a agilidade, flexibilidade e o desenvolvimento do tônus muscular”, diz Amaury.
Como a nova geração de lutas não se baseia no corpo-a-corpo – os socos, chutes e pontapés são dados em seqüência no ar ou em algum material apropriado –, a prática é menos violenta e, ainda assim, ensina técnicas de defesa pessoal. “As mulheres gostam porque é divertido e o resultado pode ser visto rapidamente. E o melhor: todas são em grupo e têm música”, acrescenta Amaury Marcello, falando que, como se trata de uma sucessão de golpes em determinado ritmo, as modalidades aumentam a coordenação motora, além de serem ótimas para perder aquelas gordurinhas que tanto incomodam, devido ao alto índice de gasto calórico. Os exercícios, embora menos eficientes que o levantamento de peso, ajudam a desenvolver os músculos do braço, como tríceps, peitorais e ombro e os inferiores, como o quadríceps, os glúteos, os ísquios tibiais (posteriores da coxa) e panturrilha.
As aulas têm aproximadamente uma hora de duração e devem ser praticadas de duas a quatro vezes por semana, sempre acompanhadas por um atividade anaeróbica, ou seja, de musculação. “Elas são classificadas como de impacto, porque o peso é sempre o do corpo e não se muda a carga. Por isso, é preciso aumentar dar mais estímulo para aumentar a força dos músculos trabalhados, além dos outros menos envolvidos”, aconselha o diretor técnico da Bodytech. As atividades são indicadas para todo o tipo de pessoa. No entanto, por conta das séries contínuas de socos, chutes, pulos e pontapés, existe o risco das adeptas da nova geração de artes marciais indoor contraírem distensões nas partes do corpo mais trabalhadas, conhecidas como lesões do esforço repetitivo (LER). Esse é mais um motivo para fazer uma série complementar de musculação. “Mesmo com a forte movimentação da região superior, a maioria das atividades trabalha pouco os dorsais e bíceps”, avisa o professor de educação física Rodrigo Moreira.
Agora que você já sabe dos benefícios dessa nova febre de misturas de artes marciais e aeróbica, o segundo round é escolher qual das modalidades combina mais com o seu perfil. Entre as mais pedidas estão o Taebo e o Aeroboxe, um conjunto de séries de socos e esquivas no ar vindos do Boxe associados a movimentos de ginástica, totalizando uma queima de 350 a 400 calorias por aula. Na mesma linha de golpes no ar se encontra o Body Combat, que usa socos, chutes, joelhadas e deslocamentos de práticas de autodefesa e artes marciais, como o Karatê, o Boxe, o Tai-Chi-Chuan, o Kick Boxing e outros. A atividade proporciona gasto energético de em média 600 calorias por vez, assim como a nova febre do lugar preferido da geração saúde: o Bob Boxe, uma fusão de golpes de Boxe, Karatê e Taekwondo que, ao invés de serem no ar, são mirados em um boneco apelidado Bob – que pode muito bem ser aquele cafajeste ou alguém que mereça uns bons chegas pra lá. Daí o nome da prática.
Além dessas práticas, outras parecidas também são responsáveis por tornear muitos corpos por aí. Todas agregando golpes de lutas, coreografias e sessões de aquecimento e alongamento pré e pós-exercício. No entanto, ao falar de chutes, socos, esquivas e pontapés, não podemos deixar de falar das próprias lutas que deram origem ao mix de golpes: o Boxe – que usa a força – e as artes marciais como Karatê, Taekwondo, Judô, Jiu-jitsu, Hap-ki-do, Kung-fu, e muitas outras, todas baseadas nas técnicas em detrimento da força bruta. De acordo com Paulo Caldas Júnior, dono do site Universo Marcial e da academia A Fábrica, em São Paulo, essas lutas têm sido procuradas por muitas mulheres que desejam se defender da violência e acabam descobrindo as vantagens das atividades. “A pessoa não deve procurar a arte marcial pensando na melhora da forma física. Isso é apenas uma conseqüência das técnicas de defesa pessoal da disciplina, fundamental para sua execução”, diz o professor, aconselhando as interessadas a praticar no mínimo três vezes por semana. As lutas são ótimas para quem quer entrar em contato com a filosofia oriental, melhorar a respiração, elasticidade, autocontrole e estabelecer um equilíbrio entre corpo e mente.
Bem diferente, mas cada vez mais presente nas salas da academia de ginástica é a Capoeira, uma atividade afro-brasileira que conquista adeptas pela quantidade de benefícios para o corpo e mente. “A atividade tem sido muito procurada pelas mulheres por ser menos violenta e junta a ginga dos movimentos de dança com luta em dupla, sem encostar na pessoa”, comenta o professor de educação física Rodrigo Moreira. Fora o gasto – de 500 a 900 calorias por aula –, não há nada melhor do que se movimentar, cantar e bater palmas ao som dos berimbaus africanos. Se, depois de todas essas explicações, você continua pensando que as mulheres que praticam essas modalidades são brutas e masculinizadas, é melhor rever seus conceitos. As meninas de aço – ou, seguindo os padrões hollywoodianos, de ouro – estão levando muitos homens a nocaute… pela beleza!