Festa polêmica no final de semana gerou discussão enorme envolvendo artistas e famosos

https://www.instagram.com/p/BtuGlMaHPAG/

A festa de 50 anos de Donata Meirelles, diretora da revista Vogue Brasil, gerou uma série de questionamentos nas redes sociais por se associar a padrões de comportamento do Brasil Colonial.

A foto da famosa sentada em uma cadeira, ao lado de duas mulheres negras usando vestimentas brancas, em pé, sofreu duras críticas na internet. A imagem remete ao quadro em que pessoas escravizadas ficavam perto das sinhás para atendê-las.

Por ser uma pessoa influente no meio da comunicação e de famosos, Donata recebeu críticas de artistas e ativistas. A diretora chegou a se desculpar pelo tema da festa nas redes sociais.

Festa de Donata Meirelles, da Vogue Brasil: acusações de racismo

https://www.instagram.com/p/Btre1xwnMEd/

Donata Meirelles fez uma festa no Palácio da Aclamação, em Salvador, na Bahia, para celebrar seus 50 anos. Assim que a foto da aniversariante sentada em uma cadeira e cercada por mulheres negras com roupas brancas caiu na internet, publicada por uma das convidadas, muitos usuários criticaram a postura de Donata.

A cena tem referências bastante associadas ao período colonial no País, em que muitos negros sofreram não só pela condição de escravizados, como foram marginalizados por sua cultura, envolvendo, inclusive, o exercício de suas crenças, como o candomblé.

Um dos pontos que geraram mais polêmica foi o fato de que, em vários registros históricos, há a mesma cena sendo vivenciada por sinhás e suas mucamas — por definição, a mulher escravizada que cuidava dos serviços da casa e sempre estava à disposição de sua patroa.

Reações negativas à temática da festa

Em um vídeo publicado no Instagram, a filósofa, ativista e escritora Djamila Ribeiro definiu a festa de Donata como “absurda”.

“[A festa] tratou pessoas negras de maneira muito desrespeitosa, remetendo a uma herança colonial. É extremamente absurdo, mas o que me incomoda mesmo é a conivência das pessoas. As pessoas que lá estavam. Se a gente chega em um lugar desse, em que tortura, porque meus ancestrais foram torturados, [em que] insistem em romantizar isso como se fosse algo banal e a gente não fala nada, a gente tá compactuando com isso”, pontuou.

“Além da dona da festa, que tem que ser responsabilizada, as pessoas que lá estavam também devem ser responsabilizadas, sobretudo aquelas que se dizem anti-racistas. Não é meramente uma festa, é o reforço de uma estrutura colonial”.

A diretora de Marketing de uma empresa de cosméticos nos Estados Unidos, Shelby Ivey Christie, expôs o caso da festa de Donata a seus seguidores nos Stories do Instagram e no Twitter:

“A diretora de moda da Vogue Brasil, Donata Meirelles, teve um tema de aniversário de 50 anos com um tema muito detestável na noite passada. Parece ter sido um tema “escravo + senhor”. Mucamas (escravas da casa), que eram muito claramente retintas, foram colocadas como adereços ao lado de convidados”, escreveu, elencando algumas imagens registradas do Brasil Colônia para contextualizar a comparação de situações.

Elza Soares publicou foto com forte posicionamento

Uma das respostas mais sensíveis e contundentes ao tema da festa foi a da cantora Elza Soares, que tem uma carreira artística baseada na valorização da cultura negra e da ancestralidade. Ela aparece em duas fotos (deslize abaixo para ver mais), ocupando a posição central da cena.

https://www.instagram.com/p/BttijVNhzUJ/

“Hoje li sobre mais uma ‘cutucada’ na ferida aberta do Brasil Colônia. Não faço juízo de valor sobre quem errou ou se teve intenção de errar. Faço um alerta! Quer ser elegante?

Pense no quanto pode machucar o próximo, sua memória, os flagelos do seu povo, ao escolher um tema para “enfeitar” um momento feliz da vida. Felicidade às custas do constrangimento do próximo, seja ele de qual raça for, não é felicidade, é dor. O limite é tênue. Elegância é ponderar, por mais inocente que sua ação pareça. A carne mais barata do mercado FOI a carne negra e agora NÃO é mais”, disse em um trecho da legenda.

A publicação foi apoiada por anônimos e famosos. “Obrigado pelo legado e por estar sempre à frente do seu, Dona Elza. Lucidez e elegância!”, escreveu o ator Danilo Ferreira. “Rainha”, resumiram outros usuários.

A rapper Preta Rara também se posicionou sobre o caso. “Nossas dores não pode ser fantasias, estampa de roupa ou decoração. O problema do racismo nem é dos pretos, é de vocês que estão sentados nesse trono aí da foto trabalhados no privilégio, sendo assim revejam!”, disse, em um trecho da publicação abaixo.

https://instagram.com/p/BtqPKZkAr9V/

O que disse Donata Meirelles sobre festa

Em uma publicação no Instagram, Donata se manifestou sobre as acusações de racismo. “Nas fotos publicadas, a cadeira não era uma cadeira de Sinhá, e sim de candomblé, e as roupas não eram de mucama, mas trajes de baiana de festa. Ainda assim, se causamos uma impressão diferente dessa, peço desculpas”.

Mesmo com o posicionamento da famosa, o debate segue com uma questão: as roupas e objetos usados no candomblé também não devem ser vistos como itens de decoração, ou como algo exótico, já que são elementos fortemente conectados à cultura negra, valorizados dentro de um contexto religioso.

https://www.instagram.com/p/Btq5iMBh9Xb/

Leia abaixo o posicionamento na íntegra:

“Ontem comemorei meus 50 anos em Salvador, cidade de meu marido e que tanto amo. Não era uma festa temática. Como era sexta-feira e a festa foi na Bahia, muitos convidados e o receptivo estavam de branco, como reza a tradição.

Mas vale também esclarecer: nas fotos publicadas, a cadeira não era uma cadeira de Sinhá, e sim de candomblé, e as roupas não eram de mucama, mas trajes de baiana de festa. Ainda assim, se causamos uma impressão diferente dessa, peço desculpas.

Respeito a Bahia, sua cultura e suas tradições, assim como as baianas, que são Patrimônio Imaterial desta terra que também considero minha e que recebem com tanto carinho os visitantes no aeroporto, nas ruas e nas festas. Mas, como dizia Juscelino, com erro não há compromisso e, como diz o samba, perdão foi feito para pedir”.

Casos de racismo no Brasil: o que aprendemos com eles?