Político, escritor e guerrilheiro, Carlos Marighella é uma das figuras brasileiras mais importantes na luta conta a ditadura militar durante a década de 1960 e seu nome voltou à tona fortemente após o lançamento do filme com seu nome, dirigido por Wagner Moura e em que o cantor Seu Jorge dá vida ao personagem.
Considerado o grande inimigo do regime autoritário, o ativista foi assassinado em uma emboscada armada pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social), órgão responsável pela manutenção do governo.
Nascido em 1911 na capital da Bahia, mudou-se ainda jovem, aos 23 anos, para o Rio de Janeiro, onde iniciou a vida política. Militante em favor dos governos populares, Marighella foi preso pela primeira vez durante a ditadura de Getúlio Vargas, quando foi torturado sob acusação de subversão.
Quem foi Carlos Marighella: 4 pontos para entender
1. Política
Em 1945, com o fim da Era Vargas, o Brasil voltava à democracia e Marighella foi eleito deputado federal constituinte pelo PCB (Partido Comunista Brasileiro) da Bahia. Apesar de ter sido um dos candidatos mais voltados, perdeu o cargo quando o governo decidiu cassar todos os políticos filiados a partidos comunistas.
Impedido de atuar oficialmente na política, Marighella intensificou a articulação na militância e foi um dos primeiros alvos da ditadura militar instaurada em 1964. No mesmo ano, foi baleado e preso pelo Dops – um ano depois, ao ser libertado, se engajou na luta armada contra o governo.
2. Perseguição e prisões
Líder da Aliança Nacional Libertadora, grupo de oposição ao governo imposto, Marighella passou a ser considerado criminoso pela imprensa da época e se tornou o alvo número 1 do regime. Preso e torturado várias vezes, o revolucionário esteve à frente de operações armadas, inclusive diversos assaltos a lojas de munições.
3. Ideologia
Alinhado às práticas guerrilheiras elaboradas por Che Guevara contra o imperialismo, Carlos Marighella escreveu análises e manifestos, como “A Crise Brasileira”, “Por que Resisti à Prisão”, entre outros, nos quais teorizava sobre a luta e revolução armada.
Com o “ Manual do Guerrilheiro Armado”, Marighella se tornou mundialmente conhecido. “Aos bravos camaradas – homens e mulheres – aprisionados em calabouços medievais do governo brasileiro e sujeitos a torturas que se igualam ou superam os horrendos crimes cometidos pelos nazistas. (…) Eu desejo que todos que leram este manual e decidiram que não podem permanecer inativos, sigam as instruções e juntem-se à luta agora”, escreveu na introdução.
4. “Terrorismo” e morte
As principais controvérsias na história de Marighella estão relacionadas ao radicalismo de sua ideologia. Seu rompimento com o PCB aconteceu porque o político não concordava com a linha pacifista do partido e defendia estratégias armadas, se necessário fosse, contra o regime.
O combate agressivo – e violento – contra a ditadura e a favor da liberdade, fizeram com que Marighella fosse taxado como terrorista e se tornasse um grande alvo. Assim, em 1969, ele foi cercado e assassinado a tiros em uma emboscada coordenada pelo delegado de polícia Sérgio Paranhos Fleury.
Homenagens no cinema e na música
Racionais MC’s
O grupo de rap paulistano Racionais MC’s, o mais importante da cena hip-hop nacional, compôs a música ” Mil Faces de um Homem Leal“, que fala sobre a luta armada de Carlos Marighella contra a ditadura militar. Comandado por Mano Brown, os Racionais usa suas músicas para tratar de desigualdade social e aborda com frequência a realidade das periferias urbanas. Na letra sobre Marighella, composta em 2012 para o documentário de Isa Grinspum Ferraz sobre a biografia do militante, a música traz recortes de notícias da época, que em certo trecho diz: “A missão de todos os revolucionários é fazer revolução”.
Filme “Marighella”
https://www.instagram.com/p/BtezAGig2fD/
Inspirado no livro Marighella – O Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo, do jornalista Mário Magalhães, o filme dirigido por Wagner Moura traz o músico Seu Jorge interpretando o guerrilheiro. Lançado em 2019, o longa retrata os últimos cinco anos de vida de Carlos Marighella, desde o golpe militar de 1964 até seu assassinato, em 1969. Logo na estreia do filme, ocorrida no Festival de Berlim, o filme arrancou aplausos de todos os espectadores.