Descobrir uma traição é difícil e doloroso, tanto para mulheres quanto para homens. Mesmo assim, a famosa “puladinha de cerca” não deixa de ser algo corriqueiro e mais comum do que se imagina, já que a clandestinidade costuma ser a alma do negócio. A traição masculina é conhecida historicamente. Por outro lado, ninguém ousa dizer que são novidades as escapadinhas femininas. Todos com culpa no cartório – o que não quer dizer que a traição seja igual. A infidelidade masculina e a feminina ainda guardam características diferentes.
Padrão de dupla moral
Parte disso se deve ao chamado “padrão de dupla moral” existente em nossa sociedade, que concede ao homem uma grande dose de liberdade e reprime os desejos da mulher, como explica o psicólogo Bernardo Jablonski em seu livro Até que a vida nos separe, a crise do casamento contemporâneo. É a velha história da mulher que fica mal falada e do homem que é visto como conquistador. O homem que trai ainda é mais “aceitável” do que a mulher.
O fenômeno da infidelidade bate de frente com o ideal monogâmico difundido socialmente e, por ser tão significativo, já motivou diversos estudos sobre o assunto. Pesquisas feitas em diferentes países confirmam a idéia popular de que os homens traem com mais freqüência. Os dados expostos por Bernardo Jablonski em seu livro, por exemplo, indicam que 58% dos separados foram infiéis em sua antiga relação, sendo que esta amostra pula para 80% considerando apenas o grupo masculino e entre as mulheres fica nos 36%. O mesmo acontece no grupo dos casados: 38% já traíram, sendo que entre os homens a porcentagem é de 50% e entre as mulheres, 16%.
O custo da traição é maior para a mulher, ela pode engravidar
A polêmica é grande ao definir as causas dessa diferenciação no comportamento masculino e feminino. O psicólogo Aílton Amélio, autor de Para Viver um Grande Amor, nos ajuda a entender a questão ao citar um fator importante: a gravidez. “O custo da traição é maior para a mulher, ela pode engravidar. São nove meses de gestação, o período de amamentação, além de ter de criar o filho pelo menos até os 11 anos, quando ele adquirirá independência. Já o homem tem um dispêndio menor de energia, um custo muito menor. Claro que a cultura machista ampliou isso de uma forma terrível”, pondera.
Herança genética
Segundo ele, esta seria uma das razões porque a mulher busca o amor recíproco. Ela necessita de uma maior segurança, de um companheiro que compartilhe a tarefa complicada de cuidar de uma nova vida. “A mulher associa o sexo ao amor. Apenas 10% não associam tanto. Já cerca de 90% dos homens associam apenas ao prazer. O homem lida com o sexo de uma forma mais displicente. Isso está vinculado a uma dose de testosterona muito alta, aliada a questões sociais”, afirma Aílton.
Esta idéia de herança genética foge muitas vezes do ambiente acadêmico. Muitos homens buscam neste campo uma possível explicação para a infidelidade masculina. Para o economista Bruno Carvalho, as mulheres têm menos necessidade sexual, o que as faz buscar relações mais seguras. “O homem tem um instinto caçador incubado. Talvez pelo fato de que, no passado, copular com o máximo de fêmeas para perpetuar a espécie se fazia necessário. A culpa é igual, mas acho que a traição no homem acaba sendo mais recorrente”, acredita.
O estudante de engenharia Igor Almeida também concorda que trair é mais comum entre os homens. Levando em conta as histórias que já ouviu e a experiência de seus amigos, acha que uma certa dose de imaturidade influi na questão, mas observa que a sociedade facilita, já que cria menos freios para a sexualidade masculina. “O homem sai, fica com cinco mulheres e é tudo normal. Já elas são criticadas por fazerem o mesmo. É uma questão da sociedade, de um pensamento passado. O homem trai mais, mas faz isso com pessoas que não lhe significam tanto. A mulher trai com caras que têm algo mais a ver com ela”, diz.