Ele completa 60 anos mais moderno do que nunca. Criado no dia 26 de junho de 1946, o biquíni foi uma invenção do estilista francês Louis Réard. O nome foi uma invenção do próprio estilista, que acreditava que o efeito da criação seria tão explosivo quanto o da bomba nuclear, na época em teste no atol de Bikini. Não deu outra. Escandaloso para o período, causou furor nas areias da Europa. O motivo? Pouco pano e muita pele. Tanto que, para demonstrá-lo, a única candidata foi Micheline Bernardini, uma desinibida stripper da época. Mas se, quando surgiu, o duas peças era restrito às meninas da vida, hoje é desfilado por mulheres de todos os tipos, jovens ou senhoras, gordinhas ou magrinhas, recatadas ou depravadas.
Passada a vergonha inicial, a simbologia do duas peças também sofreu uma reviravolta. O que já foi sinônimo de vanguarda, atualmente, nada mais é que uma questão de hábito. O pudor saiu de cena, dando espaço a uma preocupação puramente estética. Celulites, estrias, falta ou excesso de peito. Nada que uma variedade de modelos e tamanhos não disfarce. O biquíni nunca foi tão democrático e cotidiano.
As inovações na moda surgem da cabeça de estilistas ou costureiros à frente do seu tempo. Mas é óbvio que nenhuma criação é totalmente despropositada. Precisa haver demanda pelo produto
O caminho até sua aceitação, porém, não foi nada fácil. Como tudo que é novo, o biquíni não se livrou do olhar preconceituoso de toda uma geração habituada a esconder sua sexualidade. A consultora de moda Thiene Barreto explica o processo. “As inovações na moda surgem da cabeça de estilistas ou costureiros à frente do seu tempo. Mas é óbvio que nenhuma criação é totalmente despropositada. Precisa haver demanda pelo produto. Mesmo assim, mexem com conceitos já enraizados numa sociedade. O biquíni surgiu numa época em que a exposição do corpo ainda era reprimida. Foi preciso que algumas pessoas, pioneiras, se dispusessem a testar o produto. Para tudo é o mesmo processo, a sociedade acata ou não”, conta a consultora.
Acatar ou não acatar?
Com um litoral de 8,5 mil quilômetros de extensão, e um clima tropical que nos brinda com altas temperaturas, não é difícil adivinhar que o biquíni tenha conquistado as areias brasileiras. Mas, mesmo em meio a todo o calor, foi necessária uma década inteira para que as mulheres tomassem coragem de vestir as peças. Assim como na Europa, o Brasil estreou o biquíni com mulheres pra lá de desinibidas. No final dos anos 50, vedetes como Carmem Verônica e Norma Tamar desfilavam suas barriguinhas na praia de Copacabana. Mais de dez anos depois, em 1970, a atriz Leila Diniz escandaliza quando, grávida, aparece na praia de biquíni. Hoje, nenhuma dessas cenas chamaria a menor atenção.
O tempo tornou o biquíni inofensivo. Mas, na moda, ele não ameniza todas as modernidades. “Nem tudo de vanguarda será incorporado ao cotidiano. Depende da predisposição da sociedade para aceitar a inovação. Um bom exemplo desse processo são as tatuagens e piercings. Inicialmente marginalizados, estão pouco a pouco adquirindo um status aceitável”, avalia a consultora de moda Thiene Barreto.