Os pombinhos estão juntos há um bom tempo. Ele já conhece todas as manhas e manias da namorada, a ponto de nem se preocupar mais e contornar tudo com o maior jogo de cintura. Ela, por sua vez, sabe de cor cada pedaço do verdadeiro labirinto que é a cabeça dele e consegue mimá-lo – quando quer, evidentemente – melhor até que sua própria mãe. Passaram por todas as etapas de um namoro tradicional: a fase inicial de descobrimento mútua foi ótima, depois atravessaram com sucesso o momento de “cair na real”, enxergando o outro sem idealizações, e o companheirismo cresceu com o tempo. Enfim, parece que já viveram tudo o que tinham para viver como um despreocupado casal de namorados. Aí a relação ficou morna. É que chegou o momento de analisar se o namoro já deu o que tinha que dar e chegou ao fim, ou se é a hora de dar um passo – e que passo – à frente e assumir que foram feitos um pro outro, vivendo juntos para sempre. Devidamente casados, lógico.
É o famoso momento do “agora ou a gente casa, ou termina”. É a hora em que o namoro já chegou no limite e não se sustenta mais: ou o casal parte para a etapa seguinte ou a relação se esvazia. Há mais ou menos três anos a publicitária Marcela Simões teve que enfrentar essa sinuca de bico. “Eu e o Henrique estávamos namorando há quatro anos. Terminamos a faculdade na mesma época, ajudamos um ao outro nos nossos primeiros empregos, passávamos praticamente o dia inteiro juntos. Em um determinado momento o namoro entrou numa fase meio parada, sem graça, não nos satisfazia mais”, relembra. Foi então que, depois de conversar com o então namorado, ela percebeu que era hora de dar uma virada. “Tínhamos consciência de que éramos apaixonados um pelo outro e que queríamos ficar juntos. Chegamos à conclusão de que ou assumíamos a responsabilidade e nos casávamos de uma vez, ou era hora de terminar. Não dava mais para levar a relação em banho-maria. Então nos casamos” conclui Marcela, satisfeita com a escolha que lhe rendeu um casamento que já vai para o segundo ano e uma filhinha, Ana Paula, de oito meses.
“Toda relação amorosa passa por distintas fases e, quando os dois parceiros se harmonizam, ela vai se fortalecendo a cada momento. Chega uma hora, no entanto, que os dois partem para uma relação mais séria ou o namoro se esgota”, explica a psicóloga e terapeuta familiar Ângela Nascimento, acrescentando que o mais importante nesse momento é que se avalie até que ponto vale a pena empreender essa mudança na relação e em suas vidas.
Quando já estava no quinto ano de namoro, a dentista Gabriela Araújo se deu conta de que também havia chegado à tal encruzilhada. “Tinha conhecido o Vítor logo depois que terminei a faculdade. Ele sempre foi supercarinhoso e muito atencioso comigo. Depois do quarto ano de namoro, passou a me perguntar sempre quando a gente ia ficar noivo, marcar o casamento etc. Ele dizia que não queria mais uma namorada, mas sim uma esposa, uma companheira, uma mulher com quem construir a sua vida daquele momento em diante”, conta Gabriela. Diante da dúvida, ela pediu um tempo ao namorado e decidiu fazer uma viagem. Arrumou as malas e se mandou com uma amiga – também em meio a uma crise conjugal – para um tranqüilo hotel-fazenda, onde passaram os dias jogando baralho e discutindo as relações. E parece que as duas semanas de baralho foram uma boa terapia. “Esse foi o tempo que precisei para ver que casamento não era o que eu queria. O Vítor me chamou de infantil na época, mas eu continuava a fim de manter um namoro light, sem essa história de construir uma vida juntos, ser mãe etc. Ele não aceitou e então terminamos tudo”, relata a dentista, sem qualquer sinal de arrependimento.
A gerente de marketing Ana Luíza Martins, no entanto, foi quem colocou o namorado de longa data na parede quando viu que a relação havia estacionado em um incômodo chove-e-não-molha. “Eu sentia que o Rodrigo era o homem da minha vida. Estávamos juntos há três anos e meio e nos dávamos muito bem em todos os aspectos”, lembra. A moça conta que já tinha a sua carreira profissional bem encaminhada, estava estável financeira e emocionalmente e que se sentia pronta para assumir as responsabilidades de uma vida a dois. “Queria um casamento mesmo: montar uma casa, planejar a vinda do primeiro filho, não dava mais para ficar de namorico. Já tinha vivido com o Rodrigo tudo o que dois namorados podem viver, era a hora de passar para a próxima etapa”, diz. Mas o rapaz não quis saber dessa história e deu pra trás. “Ele falou que me amava e que queria ficar comigo, mas que estava satisfeito com as coisas daquela maneira. Mas eu não”, afirma Ana Luíza, taxativa, concluindo que não teve outra opção além de dar o namoro por encerrado.
No entanto, segundo a psicanalista Vera Dornas, essa fase a que, inevitavelmente, os relacionamentos longos chegam, em que o casal deve escolher se quer seguir adiante e fortalecer os laços, não deve ser confundida com a perda da paixão ou do amor, como muitos pensam. Ela explica que, ao contrário de quando o amor acaba ou a paixão esfria, nessa fase os parceiros estão seguros de seus sentimentos. “O problema aqui é que as bases em que está assentada a relação não satisfazem mais aos dois parceiros ou a um deles. É a estrutura do relacionamento que não serve mais e que deve ser mudada”, conclui Vera.
Decidir que caminho tomar nessa hora não costuma ser fácil, mas pode trazer boas surpresas. “Como a maioria de minhas amigas, quando terminei a faculdade e comecei a ter ritmo e estilo de vida diferentes, entrei em crise com o meu namorado. A relação estava meio morta há um tempo, mas me dava uma segurança e uma estabilidade que me deixavam bastante tranqüila”, explica a advogada Helena Silva. “Minha relação com o Maurício, que no início era alegre e divertida, estava sem graça e monótona. Não era ruim, mas já não me despertava mais a mesma empolgação de antes”, recorda.
Surpreendentemente, quem percebeu que precisavam de uma mudança e resolveu cantar a pedra foi o namorado. “Ele me chamou para conversar e disse que havia pensado muito sobre o nosso namoro. Pensei no ato que ele ia me dar o fora. Mas não. Ele foi supergentil e me disse que, como as nossas vidas estavam mudando, ou a nossa relação mudava também ou morreria”, conta. O casal seguiu a primeira opção: avisaram a família que iam ficar noivos e marcaram a data do casório para o ano seguinte. A expectativa do casamento fez com que começassem a planejar o futuro e a valorizar mais cada momento juntos. A relação ganhou outro contorno, mais forte e mais estável, e quando chegou a hora de subir ao altar, já não tinham mais dúvidas de que haviam feito a escolha certa. “Muitas amigas que passaram por situação semelhante a minha, mas que decidiram terminar o namoro, me disseram depois que invejavam a minha coragem”, diz, toda orgulhosa, mostrando que é possível encontrar um final feliz depois de fazer a si mesma a angustiante e desagradável pergunta: termino tudo ou me caso logo?